10/Jan/2025
A persistência de temores em relação ao quadro fiscal no Brasil, que não foram apaziguados com o pacote apresentado em novembro passado pelo governo, e a perspectiva de menos cortes de juros nos Estados Unidos no ano em que Donald Trump retorna à Casa Branca, devem manter o investidor estrangeiro distante do País em 2025. Bancos de Wall Street como JPMorgan e Morgan Stanley, mas também da Europa, entre eles, o suíço Julius Baer e o HSBC, têm rebaixado a recomendação para a compra de ativos brasileiros diante da piora das expectativas e da falta de visibilidade para a reversão desse cenário à frente. Ao longo do ano passado, a participação do Brasil em fundos globais, que já era baixa, minguou ainda mais. O peso do País no índice de ações MSCI Emerging Markets (MSCI EM), uma das principais referências para investidores estrangeiros, caiu para cerca de 4% em dezembro, ante 5,8% no fim de 2023. Com isso, o Brasil foi desbancado pela Arábia Saudita, que se consolidou na quinta colocação do índice pela primeira vez na história.
Nos tempos áureos, quando detinha grau de investimento (perdido em 2015), o Brasil chegou a registrar participação de 17%. Para a consultoria política Eurasia Group para as Américas, dificilmente o estrangeiro vai querer entrar com investimentos mais fortes no Brasil ao longo de 2025. Pesam, sobretudo, as incertezas sobre como os riscos domésticos podem se desenrolar adiante em um cenário de maior cautela externa com Donald Trump de volta à Casa Branca. Além disso, os juros nos Estados Unidos podem sofrer apenas um corte de 0,25% neste ano, como mostra monitoramento da plataforma CME Group, o que deve manter baixo o apetite estrangeiro por países emergentes. O investidor estrangeiro ainda enxerga o Brasil de uma forma um pouco menos alarmista que o doméstico, mas essa distância se estreitou com a crise de confiança que o Brasil atravessou nos últimos meses. A equipe econômica tem rebatido as avaliações do mercado. Na quarta-feira (08/01), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, previu que o País chegará “mais arrumado” em 2026 (último ano do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), em relação ao quadro herdado de Jair Bolsonaro, se conseguir tirar todas suas propostas do papel.
O Goldman Sachs alertou que os investidores “jogaram a toalha” para o Brasil. Antes mesmo da aprovação do pacote de contenção de gastos no Congresso, no fim do ano passado, bancos como os norte-americanos Morgan Stanley e o JPMorgan já haviam se antecipado às medidas e rebaixado a recomendação para “comprar” ativos do Brasil aos seus clientes, em meio às preocupações com a situação fiscal. Na sequência, o suíço Julius Baer também revisou a recomendação das ações de empresas brasileiras de “overweight”, ou seja, exposição acima da média (equivalente à compra), para neutra. Ao justificar a mudança de avaliação, o banco falou em uma “corrosão de credibilidade fiscal”. Na semana passada, foi a vez do HSBC. O banco rebaixou a recomendação de ações brasileiras de neutra para “underweight”, equivalente à venda, e disse que considera o Brasil uma “armadilha clássica de valor”. O chamado “downgrade” dos bancos estrangeiros acompanha o pior ano da Bolsa brasileira sob a ótica externa desde 2020. Em 2024, o fluxo de capital externo ficou negativo em mais de R$ 32 bilhões.
E, para o HSBC, o mercado brasileiro dificilmente terá uma melhora na recomendação até que os juros passem a cair. Por outro lado, a Eurasia Group afirmou que o investidor estrangeiro é menos alarmista em relação ao Brasil do que os domésticos, mas essa distância se reduziu em meio à crise de confiança que o País enfrenta por preocupações com a situação fiscal. Todos estão preocupados com a trajetória das contas públicas. Todos reconhecem que o Brasil está lidando com uma crise de confiança e que o governo Lula foi incapaz de geri-la exatamente no contexto de deterioração externa. No entanto, ainda que o investidor estrangeiro enxergue o Brasil “menos alarmista” do que o local, as preocupações são compartilhadas. Os investidores estrangeiros estão em relação ao Brasil com as “barbas de molho”. Dificilmente vão querer entrar com investimentos mais fortes quando há incertezas sobre como todo esse risco doméstico pode se desenrolar. Chama atenção o fato de as empresas brasileiras já estarem enfrentando custos de captação mais elevados, o que também dificulta os investimentos diretos.
Alguns projetos que poderiam entrar, talvez, podem estar sendo revistos. No mercado financeiro, o Real está se equilibrando, mas sem que haja um impulso fiscal relevante. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve dar novas respostas às preocupações fiscais no Brasil, mas serão “tímidas” e “insuficientes” em um cenário global mais adverso com a volta de Donald Trump ao governo dos Estados Unidos. A Eurasia espera que o governo adote algumas novas medidas de contenção de gastos para tentar cumprir a meta fiscal de 2025 e mais ações do lado das receitas. Mas, o governo Lula não deve conseguir ir além, uma vez que a janela política para a aprovação de reformas fiscais já passou. É difícil que o governo faça uma nova rodada de reformas fiscais sobre os gastos obrigatórios que requerem PEC ou lei complementar. A janela de fazer reformas mais difíceis foi no fim do ano passado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.