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08/Jan/2025

Dólar em alto patamar ameaça economia brasileira

A consolidação do patamar cambial de R$ 6,00 por US$ 1,00 na relação entre o Real e o dólar norte-americano, que ganha contornos de senso comum no mercado neste início de 2025, é uma grave ameaça para a economia brasileira. Entre os países do G20 (que reúne as maiores economias globais), o Brasil teve a maior desvalorização de sua moeda ao longo de 2024 e permanece ameaçado pela pressão cambial, que pode levar o dólar a R$ 6,50 ou até mesmo a incríveis R$ 7,00. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou qualquer possibilidade de mudança no regime de câmbio flutuante que vigora no País desde 1999. E preferiu colocar panos quentes na escalada do dólar: “Tem um processo de acomodação natural, e nós tivemos um estresse no final do ano passado no mundo todo. Tivemos aqui um estresse também, no Brasil”.

Esqueceu-se o ministro de citar que a tensão cambial que se espalhou pelo mundo foi mais forte aqui porque, juntamente com as incertezas que atingiram todos (como o recrudescimento das guerras e a mudança política nos Estados Unidos), o governo ampliou o risco marchando em direção contrária à estabilização econômica. Atitude dolosa que produziu o terceiro maior fluxo cambial negativo dos últimos 25 anos. Voaram para longe US$ 15,9 bilhões que estavam no País. Em 1999, ano da mudança para o atual regime cambial, a saída chegou a US$ 16,182 bilhões. A partir de 2000, porém, somente em 2019 e 2020 a fuga de capitais superou a do ano passado. Em 2020, a pandemia de Covid-19 foi o principal motivo; no ano anterior, o primeiro da gestão Jair Bolsonaro, as causas principais foram internas: crise nas relações entre governo e Congresso, baixo crescimento, juros baixos e indefinição da agenda econômica levaram a uma debandada de US$ 44,7 bilhões.

No fim de 2019, em sua página oficial, o Partido dos Trabalhadores classificou como “um verdadeiro desastre” a “queima das reservas” em mais US$ 10 bilhões na tentativa de conter a alta do dólar, que chegou a R$ 4,25 em novembro e encerrou o ano cotado a R$ 4,01. A título de comparação, somente em dezembro passado, para conter a disparada do dólar, o Banco Central fez a maior injeção de recursos em um único mês desde o início do regime de câmbio flutuante. Foram US$ 21,5 bilhões, cerca de 6% das reservas, que encerraram 2024 em US$ 329,7 bilhões, US$ 25,3 bilhões a menos que no ano anterior. Se, por um lado, a cotação recorde do dólar pode servir para turbinar o valor das exportações, por outro, causa enorme estrago ao encarecer uma infinidade de insumos, máquinas e equipamentos. O custo mais elevado da produção faz também o câmbio ser repassado internamente. O IGP-M, índice de inflação calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), registrou alta de 6,54% no ano, com contribuição decisiva dos preços no atacado.

Embora o presidente Lula tenha exigido da Petrobras o “abrasileiramento” da política de preços, é inevitável que em algum momento o impacto do dólar chegue à gasolina e ao diesel, e então, num país onde a carga é transportada prioritariamente por rodovias, a inflação tende a se espalhar com mais força. E ainda que a Petrobras exporte 30% de sua produção, a verdade é que a conta não fecha para uma empresa que tem também a dívida bilionária atrelada ao dólar. Projeções indicam câmbio pressionado e inflação acima da meta em 2025, 2026 e 2027. Neste momento, somente o anúncio de medidas fiscais tão ambiciosas quanto urgentes seria capaz de restaurar a credibilidade do governo, abalada desde o tímido pacote de corte de gastos, que, sem o apoio firme do presidente, acabou por ser ainda mais esvaziado pelo Congresso. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.