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07/Jan/2025

Entrevista: Lawrence Jin - Global Chinese Services

A perspectiva de guerra comercial entre Estados Unidos e China, a partir do retorno de Donald Trump à Casa Branca, favorece o fortalecimento da parceria do gigante asiático com economias emergentes, incluindo o Brasil. A avaliação é de Lawrence Jin, chefe do Global Chinese Services Group (GCSG), grupo de especialistas da Deloitte dedicado a dar consultoria tanto a empresas chinesas que estão investindo no exterior quanto a multinacionais que estão entrando na China. A China está promovendo parcerias de comércio e negócios com economias que chamamos de Sul Global, como Sudeste Asiático, Oriente Médio, América Latina e parte da África. Essa tendência vai continuar. A tensão geopolítica provavelmente fortalecerá a relação com o Brasil. China e Brasil são economias que se complementam e estão se tornando mais integradas em vários setores. Há muito que o Brasil pode oferecer à China, assim como, igualmente, a China pode ajudar o Brasil em muitas outras áreas. Segue a entrevista:

Como as empresas com negócios na China estão reagindo ao retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos? Elas estão considerando deixar a China em razão das barreiras levantadas contra o país e que devem aumentar com Trump?

Lawrence Jin: Ainda há muitas incertezas sobre as ações, em particular as tarifas. Em muitos negócios, haverá um período de 'esperar para ver'. Mas muitos também já gerenciaram seus negócios para lidar com essa mudança na geopolítica, além de várias outras incertezas. Muitos dos nossos clientes entendem que a incerteza é o básico de seus negócios, e que precisam se adaptar. Não vai ser o fim do mundo. Mas a globalização das empresas chinesas ganhou maior urgência.

Embora seja preciso aguardar as ações de Trump, as barreiras contra a China, nos EUA e em outros países, são uma realidade. Como as empresas chinesas estão respondendo a um mundo com mais barreiras ao comércio?

Lawrence Jin: As exportações da China ainda estão crescendo. Não vemos, por enquanto, o colapso do comércio global, e não acreditamos que isso será o caso. Provavelmente, haverá mais comércio inter-regional - por exemplo, dentro da América Latina, dentro da Ásia. A cadeia global de suprimentos está se tornando mais complexa. Você questionou se as empresas estão saindo da China. Sim, há movimentos de China Plus One [diversificação dos negócios para fora da China] e de reposicionamento da cadeia de suprimentos por muitas das empresas globais. Muitas empresas, por outro lado, também querem estar próximas aos clientes. Então, há diferentes motivos para a reorganização das cadeias de produção. Vemos que muitas empresas chinesas estão respondendo de forma positiva. Elas estão se posicionando de acordo com as necessidades de seus clientes. Abrir uma nova fábrica no Sudeste Asiático, ou no México, ou na América Latina, é parte dessa resposta.

A China está interessada em investir em quais setores no Brasil?

Lawrence Jin: Vemos interesse em uma série de setores de bens de consumo, como carros elétricos, eletrodomésticos e smartphones, assim como em e-commerce, por meio de fusões e aquisições, mas, sobretudo, investimentos greenfield [negócios totalmente novos]. Vejo as duas economias se tornando muito mais integradas em vários setores. O estímulo para a cooperação entre China e Brasil continuar está na visão de que as economias são complementares, não competidoras. Há muito que o Brasil pode oferecer à China, assim como, igualmente, a China pode ajudar o Brasil em muitas outras áreas.

O Brasil pode aproveitar a possível guerra comercial da China com os EUA para fazer mais negócios com a China?

Lawrence Jin: Claro, isso já acontece. O comércio da China com os EUA diminuiu no último ano, claramente por motivos políticos. A China está promovendo parcerias de comércio e negócios com economias que chamamos de Sul Global, como Sudeste Asiático, Oriente Médio, América Latina e parte da África. Acho que essa tendência vai continuar. A tensão geopolítica provavelmente fortalecerá a relação com o Brasil.

Quais são as maiores oportunidades para investidores brasileiros na China?

Lawrence Jin: Há, geralmente, duas maneiras de entrar na China. Uma é pelas vantagens competitivas. No caso do Brasil, esta é a situação de setores de produtos florestais e agrícolas, entre outros. Também vemos algumas empresas, não necessariamente do Brasil, que estão procurando fazer parte do ecossistema da China com a visão de exportar tecnologia. Aqui estão incluídos setores de carros elétricos, bens de consumo e economia digital. Além do grande mercado consumidor, a China é um dos países mais competitivos do mundo. Então, tem que levar em conta em que você é forte e quais são as oportunidades de mercado. E questionar o que você está procurando ganhar. Você está procurando apenas fazer dinheiro? Quer ter maior market share na China? Está procurando aprender com a economia chinesa? Então, são diferentes estratégias, dependendo do objetivo de negócio. A China ainda cresce, provavelmente 5% neste ano. Poucos países têm um crescimento neste nível. O governo já lançou uma série de medidas para estimular a demanda doméstica. Nossa expectativa é que mais medidas de estímulo serão implementadas, e isso ajudará a estabilizar e melhorar a confiança em fazer negócio na China.

A crise imobiliária é um problema que será superado nos próximos anos?

Lawrence Jin: A China ainda é muito dinâmica, ainda muda muito rápido, em particular a economia digital. A China já é uma economia sem papel, sem cartas. Mas, sim, temos que ser realistas sobre alguns dos desafios. Um é o setor imobiliário. O outro, como muitas vezes se fala, é a dívida do governo. Ambos estão sendo endereçados. Eu não acho que esteja completamente superada [a crise imobiliária]. Mas, como eu disse, as exportações ainda estão fortes e a confiança do consumidor está estável. A China tem um governo estável, uma taxa de câmbio estável, uma política monetária estável. Acho que tudo isso concorre ao desenvolvimento econômico.

O mundo vem se movendo na substituição de combustíveis e a China tem uma geração de energia ainda muito baseada no uso do carvão. Como a China está caminhando na transição energética?

Lawrence Jin: A China pode ser o único país que está realmente salvando a transição verde no mundo. Os EUA, com a nova administração, provavelmente voltarão atrás em número de compromissos feitos desde a COP-27 (conferência da ONU sobre mudanças climáticas realizada, em 2022, no Egito). A China está puxando uma série de setores renováveis, como equipamentos de energia solar e eólica, além de veículos elétricos. Isso acontece porque faz bem ao meio ambiente e à economia da China, mas também porque permite à China liderar o resto do mundo nessas tecnologias.

Fonte: Broadcast Agro.