19/Dec/2024
A inesperada reversão do quadro econômico, com a taxa básica de juros podendo chegar a 15% ao ano e o dólar no patamar de R$ 6,00, tem levado as empresas a reverem suas estratégias diante dessa nova conjuntura. Redução de investimentos, de endividamento (desalavancagem) e até a venda de ativos estão entre as iniciativas anunciadas nos últimos meses por grandes companhias nacionais. A mudança de planos reflete, principalmente, a virada nas expectativas para os juros, com a piora do cenário no Brasil e no exterior. Em janeiro, a previsão do mercado apontava para uma Selic de 9% ao fim de 2024. A decisão da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pôs a taxa básica em 12,25% e indicou mais duas altas de 1%. A Cosan, por exemplo, afirmou que não fará investimento novo, pois com juro de 12% a 13%, nada dá para ter retorno. Para fazer frente ao novo cenário, a Cosan avalia desinvestimentos na Raízen, seu braço de energia renovável, e a venda de uma fatia da Compass, que atua no mercado de gás e energia, e na fabricante de lubrificantes Moove.
Em outra frente, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) informou na semana passada uma redução da ordem de R$ 1 bilhão em seus investimentos no período de 2025 a 2028. Em evento com investidores, a CSN afirmou que este não é o momento de vender “facilidades”. Trabalhar com juros em patamar de 12%, 13% ou até 15% é inexequível. Há mudanças também entre as administradoras de shoppings. O Grupo Sá Cavalcante, dono de seis empreendimentos no País, sentiu na pele o encarecimento do custo de capital e teve de adiar um novo empreendimento que estava previsto para este ano. Ao longo de 2024 teve uma piora significativa para o funding (capitalização) devido aos juros. Isso impacta muito o mercado produtivo. Se tiver alguma melhora no cenário de juros futuro, talvez seja possível lançar em 2025 ou 2026; esse último agora parece mais provável. Segundo a Alvarez & Marsal, a inversão de expectativas gera preocupação de forma geral para os entes econômicos, investidores e grandes empresas. Com o custo do dinheiro subindo, a tendência é de que as empresas revisem estratégias e que projetos com retornos afetados pelo juro mais alto sejam reavaliados, ou deixados de lado.
Além disso, há possibilidade de as empresas reterem lucro e dividendos, além de anunciarem mais vendas de ativos. Não se descarta que algumas companhias já listadas tentem acessar recursos via Bolsa, por meio de oferta subsequente (“follow on”). A capitalização talvez seja a única alternativa para as empresas evitarem uma reestruturação de seus passivos financeiros. Para o Cefeb FIPE, todas as empresas terão impacto em seu fluxo de caixa, por causa do aumento nos custos de financiamento e despesas financeiras. Efeito que tende a ser menor para empresas com receitas em dólar. As empresas maiores, que tiveram pleno acesso ao mercado de capitais ao longo dos últimos anos, estão mais preparadas para enfrentar essa inversão de cenário. Os balanços do terceiro trimestre das companhias abertas, de modo geral, mostraram resultados melhores do que nos períodos anteriores, sinalizando potencial resiliência às adversidades previstas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.