18/Dec/2024
Os pedidos de recuperações judiciais e extrajudiciais podem renovar em 2025 o recorde atingido este ano, com a inesperada virada nas expectativas para juro e o câmbio. Para especialistas em reestruturação de empresas, o juro alto mina as condições para refinanciamento das empresas alavancadas junto a diferentes bolsos do mercado bancário e financeiro, e pode trazer dificuldades operacionais para parte delas, especialmente as expostas a setores relacionados ao consumo e ao crescimento econômico brasileiro. Para a TMA Brasil, organização que reúne advogados e empresas especializadas em reestruturação de empresas, o impacto na indústria vai ser direto, dada uma combinação de inflação e juro real elevados. Cai o consumo e o endividamento sobe em um ambiente de muitas empresas já alavancadas. Uma tempestade perfeita.
Até outubro deste ano, os pedidos feitos de recuperação judicial somaram 1.899, de acordo com levantamento da Serasa Experian, superando o recorde de 2016, pós Lava Jato, de 1.863 pedidos feitos. Os números do Observatório Brasileiro das Recuperações Extrajudiciais (Obre) mostra que as recuperações extrajudiciais alcançaram 50 até outubro, contra 43 em 2023 e bem acima das 17 de 2021, quando houve reforma na lei que estimulou o uso do instrumento para reestruturação de dívidas. Um dos casos mais emblemáticos de 2024 foi o da InterCement, do grupo Mover, que começou em uma recuperação extrajudicial e acabou em judicial por falta de acordo com os credores maiores. Casas Bahia também utilizou a recuperação extrajudicial para renegociar seu passivo este ano, assim como a Unigel. Na recuperação judicial, empresas do agronegócio foram destaque, como AgroGalaxy, e fora do segmento, a Odebrecht Engenharia e Construção (OEC).
No cenário desenhado neste momento, em que o mercado embute a possibilidade de o juro chegar a 15% no ano que vem, e a inflação e dólar persistirem em patamares elevados, os bancos devem puxar o freio na concessão de crédito e o mercado de dívida pode ficar mais restritivo. Não tem motivo para o mercado ir para o 'high yield' (empresas de maior risco) e isso limita muito o potencial de refinanciamento. As empresas saudáveis, mas que precisarem refinanciar suas dívidas, não vão ter facilidade nas rolagens. Por isso, a previsão é de uma leva de reestruturações ou renegociações para alongamento de dívidas, a um novo custo, por meio de conversas diretas com credores ou em processos de recuperação extrajudicial. Para as empresas, em que o impacto do cenário macroeconômico se estender para além da liquidez, afetando receitas e fluxo de caixa, a saída pode ser a recuperação judicial.
A Excellance, empresa especializada em reestruturação, acredita que os volumes de reestruturações devem aumentar, influenciados por grandes companhias. Como as grandes têm dívidas concentradas junto a bancos ou no mercado, onde emitiram títulos como debêntures, as negociações tendem a ocorrer por meio das recuperações extrajudiciais. Mas, algumas grandes poderão chegar à recuperação judicial, dada a conjuntura como um todo. O ano de 2025 será extremamente difícil, com as grandes empresas aumentando a participação no número de pedidos de recuperação judicial. Muitos dos projetos em que trabalha já embutem o dólar a US$ 6,50. Além do cenário local, o há ainda os riscos vindos dos Estados Unidos, de políticas comerciais restritivas, afetando os mercados e preços no Brasil, à medida que o País é altamente exportador. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.