12/Dec/2024
A Confederação Nacional de Seguradoras (Cnseg) estima que as empresas do setor tenham investido cerca de R$ 20 bilhões em inovação em 2024. O montante corresponde a 2,63% da receita bruta do setor no Brasil, esperada em R$ 19,6 bilhões neste ano. A informação consta do Primeiro Estudo sobre inovação no Mercado de Seguros, Saúde, Previdência Complementar Aberta e Capitalização no Brasil. O montante foi calculado a partir de uma extrapolação dos resultados e uma pesquisa com 24 executivos que respondem por 55 empresas do setor, com uma arrecadação bruta de R$ 368 bilhões e 55% do mercado brasileiro. Segundo o estudo, 29% das empresas investem entre 1% e 2% da sua arrecadação em inovação; 21% investem até 1%; e 46% investem entre 2% e 10%, sendo apenas 4% aquelas que investem entre 5% e 8% da arrecadação em inovação e outras 4% que investem entre 8% e 10% nesta frente.
Desagregando por natureza da empresa, empresas ligadas a bancos investem, na média, 3,27% da arrecadação em inovação, enquanto as demais, apenas 1,6% na média. As empresas nacionais investem 2,86% da receita bruta em inovação, enquanto as estrangeiras apenas 1,51%. Isso se deve ao fato de as empresas estrangeiras já chegarem ao País com uma carga de inovação já aplicada em seus negócios maior que as brasileiras. A maior parte dessas empresas, 71%, indicou previsão de aumento dos investimentos em inovação na passagem de 2023 para 2024. Um quarto delas indicou estabilidade nesse esforço e 4% reduziram esse investimento. A gestão de distribuição (vendas), back office somente TI e atendimento ao cliente são os processos mais buscados para diferenciação no setor, dentro das iniciativas implementadas entre 2023 e o primeiro semestre de 2024.
A inteligência artificial tem avançado nas empresas brasileiras de seguros, mas o universo de possibilidades dessa tecnologia permite imaginar um uso mais disseminado, com a exploração de seus potenciais. Como o setor de seguros é extremamente vinculado à análise de dados, o envolvimento com a IA tende a se expandir e provocar grandes impactos nos próximos anos. As seguradoras trabalham, por ofício, com informações dos históricos de bens e pessoas, por exemplo, e procuram analisar, em cima desses dados, os riscos futuros que envolvem aquilo que pode ser objeto de uma apólice. A aceleração do uso da inteligência artificial deve tornar mais rápidas e precisas essas análises feitas em grandes bases de informações, deve incrementar o cálculo de preços e aprofundar o detalhamento das condições de cobertura dos seguros, além de agilizar processos internos que podem aumentar a satisfação dos clientes. Os investimentos do setor em inovação devem saltar em 2024.
Uma das principais vertentes desses investimentos é em automação e agilidade com o uso de inteligência artificial. De acordo com o estudo, desenvolvido em parceria com a consultoria Capgemini, as empresas têm buscado, com os recursos investidos em IA neste ano, melhorar os processos de otimização de sinistros, de emissão de apólices e de atendimento ao cliente. Elas procuraram alcançar resultados como a redução de custos, ter maior rapidez e eficiência operacional. Levando em conta os investimentos de inovação como um todo, 84% das empresas que participaram do estudo disseram ter atingido as expectativas na melhoria da experiência do cliente e 56% afirmaram que alcançaram as expectativas de ganhos financeiros. A inteligência artificial é empregada em várias etapas e processos de uma seguradora, em questões relacionadas ao atendimento ao cliente, como os chatbots, e em vistorias para seguros. Também em questões relacionadas à análise de sinistro e análise de documentos.
Segundo a FIA Business School, os estágios das empresas de seguros do País no uso de inteligência artificial são diversos e o setor, como um todo, tem muita margem para avançar na adoção dessa tecnologia, o que aumentaria a eficiência e ampliaria os ganhos. O setor de seguros pode colocar a IA em várias pontas do processo. Na ocorrência de um sinistro, por exemplo, em um futuro próximo, todas as empresas de seguros vão trabalhar com inteligência artificial para acelerar a vida do cliente. Em um acidente de carro, por exemplo, se o segurado consegue fazer um vídeo do veículo danificado e o envia ao atendimento da seguradora, a IA é capaz de analisar as imagens e providenciar o andamento do processo com agilidade. Em pouco tempo, ela tem condições de estimar o custo dos danos, verificar a oficina onde o reparo pode ser realizado e enviar um guincho ao local do acidente para que o veículo seja levado para o conserto. O uso de inteligência artificial deve crescer no setor.
Um campo em que se pode avançar é o da subscrição, a análise de riscos que envolvem o objeto de uma apólice de seguro. Há boas perspectivas de utilização mais aprofundada de IA no processo de subscrição. A IA pode ajudar a seguradora a dar um preço mais adequado ao risco que ela está assumindo. Seria uma evolução natural em função de várias empresas já terem investido em ferramentas de big data e de análise de dados. A IA pode transformar esse processo ao analisar dados em grande escala, elaborar modelos preditivos e fazer avaliações de riscos personalizadas. Com isso, a seguradora teria melhores condições de decidir se, para ela, vale a pena ou não fazer a apólice para o potencial cliente e de calcular o preço do seguro. A IA é capaz de, em tempo real, identificar padrões e tendências que humanos poderiam não perceber ao analisar dados de sinistros, informações demográficas e condições meteorológicas, entre outros.
Algoritmos de aprendizado de máquina podem prever a probabilidade de eventos de risco, como acidentes ou desastres naturais, com base em dados históricos. Isso permite que as seguradoras ajustem suas apólices e preços de forma mais precisa. A IA pode analisar o perfil individual de cada cliente, considerando fatores específicos como histórico de saúde, hábitos de direção e localização geográfica. Isso resulta em uma avaliação de risco mais precisa e personalizada. Outra aplicação em que a IA tem “muito futuro” no setor de seguros é o da detecção de fraudes. As empresas buscam entender o comportamento dos fraudadores, se têm indícios e antecedentes de que aquele segurado pode cometer uma fraude. Os algoritmos da IA podem realizar uma série de tarefas para combater fraudes, como avaliar o perfil do cliente, prever comportamentos fraudulentos ao analisar dados históricos e identificar tendências, monitorar o bem segurado em tempo real, detectar padrões suspeitos, verificar a autenticidade de documentos e apontar sinistros falsos ou exagerados.
Esse conjunto de tarefas possui o potencial de fazer com que as seguradoras tomem, inclusive, medidas preventivas antes que a fraude ocorra. Como em outros setores de finanças, a análise de dados por parte das seguradoras requer dois cuidados fundamentais. Um cuidado é com a proteção aos dados pessoais dos clientes, resguardada pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). O outro é com a escolha dos dados e o resultado da análise. O risco, neste caso, seria a IA tomar decisões ou fazer recomendações distorcidas ou discriminatórias. Tem que ter cuidado para que não sejam dados que tenham algum tipo de viés porque a resposta da inteligência artificial também tenderá a ser enviesada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.