11/Dec/2024
Apesar de visíveis, os impactos financeiros das mudanças climáticas sobre o setor de saúde ainda são pouco mensurados, no Brasil e no mundo. Um estudo da revista científica Lancet publicado no final de outubro aponta que os prejuízos para a saúde somaram US$ 227 bilhões. O número 15 indicadores relacionados à saúde e corresponde a 60% do PIB mundial, de acordo com a publicação e mais, os custos são proporcionalmente maiores quanto menor o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de cada país. No Brasil, onde a contratação de seguros é menor que em países desenvolvidos, os efeitos de eventos climáticos extremos puderam ser vistos nas enchentes no Rio Grande do Sul. Com 45 anos de história, o Hospital Mãe de Deus, pela primeira vez, fechou as portas. Com 330 leitos, o hospital precisou recorrer ao BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para voltar a operar.
De R$ 150 milhões em empréstimo, R$ 80 milhões foram para repor o capital de giro, R$ 70 milhões foram para recuperar as instalações destruídas pelas chuvas e nada menos que R$ 10 milhões só para reparação dos geradores, sucção, bombeamento e limpeza do hospital. A mantenedora do hospital, a AESC (Associação Educadora São Carlos) afirmou que foi pensado em maneiras de se preparar para a enchente, mas não se imaginou na dimensão do problema que enfrentaria. Segundo o Centro de Estudos para Emergências e Desastres de Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cepedes/Fiocruz), no momento que você mais precisa o serviço não está funcionando. Sabe-se que quanto mais rápido o monitoramento, a vigilância e o tratamento, mais se reduz o impacto, os custos humanos, sociais e econômicos.
Uma publicação de 2020, chamada ‘Desastres naturais e seus custos nos estabelecimentos de saúde no Brasil’, analisou 16 mil registros no período de 2000 a 2015 e contabilizou os prejuízos no setor de quase R$ 4 bilhões. Por ser o único estudo no Brasil não teve continuidade por falta de financiamento para arcar com contratação de novos pesquisadores e viagens a campo. Quando tem um desastre, independente dele afetar o estabelecimento de saúde, ele afeta a mobilidade. Ao afetar a mobilidade, também afeta o acesso dos trabalhadores de saúde aos serviços. Um dos cálculos considerado pela Lancet é sobre horas de trabalho potencialmente perdidas por conta de eventos climáticos extremos. Somente em 2023, a exposição ao calor (que também é derivada da crise no clima) tirou 512 bilhões de horas de trabalho potenciais no mundo inteiro. No final das contas, os gastos ou horas de trabalho não exercidas, entram na equação de prejuízos.
As inundações no Rio Grande do Sul trouxeram à tona a necessidade de o setor produtivo elaborar estratégicas que minimizem os impactos das mudanças climáticas. No setor de saúde não é diferente. O grupo de trabalho de ESG da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) afirmou que tem promovido discussões com associados para incentivar o setor de saúde em precificar os prejuízos causados pelos riscos climáticos. Porém, o desafio é adotar a mudança de cultura, de acordo com os protocolos nacionais e internacionais. Questões logísticas, escolha de equipamentos de menor consumo de energia e simulações do custo financeiro com o fechamento de unidades, em caso de situações extremas, fazem parte do dia a dia do Grupo Fleury. Mas, ao lado dos desafios, há também oportunidades. Com 524 unidades espalhadas pelo País, 23 das quais no Rio Grande do Sul, o Fleury triplicou o volume de testes rápidos para detectar leptospirose. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.