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10/Dec/2024

Banco Central deverá acelerar ritmo de alta da Selic

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve intensificar o ritmo de aperto da Selic e endurecer a sua comunicação nesta quarta-feira (11/12). Analistas avaliam que esse movimento é inescapável, já que, desde a última reunião, todas as variáveis usadas pela autoridade para conduzir os juros pioraram. A disparada do dólar acima de R$ 6,00 após a frustração do mercado com o pacote de corte de gastos do governo é o principal retrato da deterioração do cenário. Considerando o processo usual de arredondamento, a taxa de câmbio usada nas projeções de inflação do colegiado deve passar de R$ 5,75 em novembro para R$ 5,95, com impacto no IPCA ao longo dos próximos trimestres. A desancoragem das expectativas se aprofundou. A mediana do mercado para a inflação no segundo trimestre de 2026, horizonte relevante da política monetária, saltou de 3,86% para 4,16%, contra os 3,60% esperados pelo Banco Central.

Essa piora já incorpora uma trajetória muito mais alta para a Selic no relatório Focus, já que a projeção de juro terminal subiu de 12,5% para 13,75% nos últimos 45 dias. Ao mesmo tempo, dados correntes também se mostram mais desafiadores para o Banco Central. A atividade econômica continuou resiliente, com crescimento de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre e queda do desemprego à mínima histórica de 6,2%. Na última leitura de inflação, o IPCA-15 de novembro, a inflação acumulada em 12 meses acelerou, bem como a média dos núcleos e os serviços subjacentes. A combinação desses fatores deve levar a um novo aumento das projeções de inflação do Copom, o que reforça a necessidade de intensificação do aperto e endurecimento da comunicação. O Goldman Sachs, por exemplo, espera elevação das estimativas do Banco Central para o IPCA de 2024 (4,6% para 4,8%), 2025 (3,9% para 4,2%) e do segundo trimestre de 2026 (3,6% para 3,7%). Para a Oriz Partners, ao passar parágrafo por parágrafo do comunicado da reunião passada, o que chama atenção é que tudo piorou.

Olhando para o balanço de riscos do Banco Central, a desancoragem aumentou, a resiliência da inflação piorou, e a taxa de câmbio, nem se fala. O Banco Central já tinha dito que tudo isso demanda uma política monetária mais contracionista. O Copom deverá intensificar o ritmo de aperto monetário, com alta de 0,75% na Selic nesta quarta-feira (11/12). A opção por 0,75%, em vez de 1%, estaria em linha com as preferências desenhadas na última ata, quando o Comitê pregou a necessidade de "maior cautela na condução da política monetária doméstica". A EQI Investimentos afirma que a opção por um aumento de 0,75% parece mais adequada diante das incertezas do cenário. A tramitação do pacote de ajuste fiscal no Congresso e as dúvidas sobre a política econômica americana, após a eleição do republicano Donald Trump para a presidência do país, demandam uma posição mais cautelosa. A consultoria Buysidebrazil avalia que a piora do cenário já é suficiente para justificar aceleração do ritmo de aperto a 1%. Na comparação interanual, a demanda doméstica cresceu 5,7% no PIB do terceiro trimestre, demonstrando resiliência maior da atividade.

Além disso, o cenário externo piorou desde a última reunião. No Brasil, as incertezas fiscais cresceram. Ao invés de um choque positivo no fiscal, veio um choque negativo. O próprio Gabriel Galípolo (diretor de Política Monetária) e o Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central) falaram que, independentemente da política fiscal ou dos resultados fiscais propriamente ditos, o Banco Central levaria em conta para a tomada de decisão o impacto do fiscal nos ativos. Diante da piora generalizada do cenário, todos os analistas concordam que o Banco Central deve endurecer a comunicação nesta quarta-feira (11/12), especialmente no que diz respeito ao ritmo da atividade e ao comportamento das expectativas. Mesmo assim, avaliam que o trecho do último comunicado sobre a política fiscal, quando o Copom destacou a importância de uma "política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal", pouco deve mudar.

Para a Oriz Partners, se for para pensar em um parágrafo que tende a mexer muito pouco no comunicado, seria esse. O Banco Central não vai adjetivar, não vai falar se foi ruim, se foi bom. Ele deve ir aos fatos, falando que o cenário está atrapalhando ainda mais a desancoragem. A EQI também espera a manutenção desse trecho no comunicado, inclusive por causa da tramitação do pacote fiscal no Congresso. Faz sentido manter esse aviso, essa preocupação, até pela maneira como o mercado reagiu e o ceticismo que existe sobre a capacidade de implementar, sobre se serão necessárias novas medidas. Para a Buysidebrazil, algum endurecimento do tom sobre o fiscal deve ser esperado, mesmo que falando do comportamento dos ativos. Deve ser um comunicado muito duro, para minimamente justificar essa aceleração, e para tentar ancorar, porque é um momento muito crítico do regime de metas. É um momento em que qualquer deslize pode custar muito. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.