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10/Dec/2024

Guerra Comercial: Entrevista com Barry Eichengreen

O professor de Economia da Universidade da California, Barry Eichengreen, afirmou que espera nova alta da inflação nos Estados Unidos, com a adoção de tarifas sobre importados e o corte de impostos para empresas que o governo Trump poderá implementar em breve. Para ele, a China e a Europa devem tomar medidas de retaliação a eventuais tarifas elevadas por Trump: “Há uma grande probabilidade de ocorrer uma guerra comercial no próximo ano”. Segue a entrevista:

Em quanto o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, elevará tarifas de importados em 2025?

Barry Eichengreen: Trump está mais comprometido de forma incondicional com o aumento de tarifas do que no seu primeiro mandato. No meu cenário principal, ele adotará 10% de tarifas para todos os importados pelos Estados Unidos, sendo que para produtos chineses elas poderão ser de 60%.

Quais serão as implicações da alta de tarifas na economia dos EUA em 2025?

Barry Eichengreen: O corte de impostos para empresas com o qual Trump e o Congresso estão comprometidos estimulará a demanda, o crescimento da economia e a inflação no curto prazo. Considero que o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) já está repensando se continuará a cortar os juros. Estes fatores fortalecerão o dólar e farão as coisas parecerem rosa nos mercados financeiros americanos. Mas isto criará problemas para o futuro próximo, pois outros países vão retaliar as tarifas impostas pelos EUA e taxas de juros maiores não serão amigáveis a investimentos. Os mercados financeiros não gostam de incertezas e Trump é uma máquina de incertezas.

A inflação poderá subir novamente nos EUA no próximo ano?

Barry Eichengreen: Vejo a retomada da inflação nos EUA por causa do corte de impostos e da imposição de tarifas a importados. Não sei quanto ela aumentará em 2025, pois não sabemos ainda como serão as reduções de impostos e quão rápido as tarifas sobre importados serão adotadas. Mas a inflação subirá.

A maioria dos dirigentes do Fed espera que o PIB dos EUA suba 2% no último trimestre de 2025 ante o mesmo período de 2024. Este crescimento é viável?

Barry Eichengreen: Acredito que o PIB subirá no primeiro semestre e baixará na segunda metade de 2025. Haverá um imediato reforço para os mercados financeiros e investimentos com as expectativas de cortes de impostos para empresas. Poderá também ocorrer um fortalecimento do consumo se forem reduzidos os impostos sobre gorjetas recebidas por trabalhadores de restaurantes e hotéis. Mas virão as incertezas (com tarifas de importados), alta de juros pelo Fed e rupturas da oferta de mercadorias quando estiverem esgotados os estoques de componentes importados. Isto reduzirá o ritmo do crescimento no segundo semestre e posteriormente. Contudo, Trump herdará uma economia forte. Acredito que um crescimento de 2,0% em 2025 é concebível.

O FMI previu em outubro que o mundo poderá crescer 3,2% em 2025. Com as tarifas que o governo Trump poderá adotar, o crescimento mundial poderá baixar no próximo ano?

Barry Eichengreen: As tarifas serão negativas para o crescimento global. O FMI fez um estudo sobre como as tarifas, retaliações e rupturas para o comércio global e finanças poderiam afetar o crescimento e concluiu que a expansão de 3,2% da economia mundial poderá baixar para perto de 2,5% com tarifas adotadas por Trump e retaliação estrangeira. A China, a Europa e outras partes do mundo não aceitarão passivamente que Trump imponha tarifas. Eles retaliarão. A China poderá controlar as exportações de terras raras, outras commodities e produtos com os quais tem posição dominante de mercado. E há também as incertezas geopolíticas. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia está piorando e pode ocorrer um choque de energia, inclusive porque são imprevisíveis os eventos no Oriente Médio e o que Trump fará diplomaticamente.

Guerras comerciais poderão acontecer em 2025?

Barry Eichengreen: Sim, Trump é sério sobre aumentar tarifas. E outros países entendem que se tiverem de negociar com ele terão de fazê-lo com uma posição forte e vão retaliar. Há uma grande probabilidade de ocorrer uma guerra comercial no próximo ano. A expansão global de 3,2% em 2025 é alcançável sem guerras comerciais e rupturas geopolíticas. Mas uma guerra comercial séria e problemas geopolíticos adicionais vão deprimir este número.

Caso ocorra uma guerra comercial em 2025, a Zona do Euro conseguirá crescer 1,3% no próximo ano, como prevê o Banco Central Europeu?

Barry Eichengreen: Não em um ambiente de guerra comercial. A Europa tem um grande superávit comercial com os EUA e Trump não gosta de parceiros comerciais nestas condições. A alternativa para a Europa é investir mais em casa, o que recomendou Mario Draghi (ex-primeiro-ministro da Itália) em seu relatório há alguns meses. A Europa tem sido incapaz de investir em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento para que sua economia cresça mais rapidamente. Ela tem vários tipos de fraquezas e vulnerabilidades, com o colapso da coalizão na Alemanha, ruídos políticos na França, a guerra na Ucrânia e carros elétricos chineses ingressando em seu mercado, criando vários problemas para a Volkswagen e outras companhias. A Europa não está numa posição invejável, ao contrário. Um crescimento de 1,0% no próximo ano já seria ótimo para os europeus.

Fonte: Broadcast Agro.