05/Dec/2024
Puxada pelos setores de serviços e indústria, a economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, acima da mediana das previsões de analistas, de 0,8%. Em relação ao mesmo trimestre de 2023, a variação chegou a 4%. Comemorado pelo governo, o resultado reforçou a avaliação de que a economia está trabalhando além de sua capacidade, o que dificulta o controle inflacionário e joga mais pressão sobre o Banco Central na administração da taxa de juros, em um momento em que cresce a preocupação com os rumos da política fiscal no País. O desempenho do terceiro trimestre mostrou uma desaceleração em relação ao do segundo trimestre, quando a economia brasileira avançou 1,4%. Mesmo assim, foi definido como um resultado forte considerando que se esperava um crescimento mais modesto para o período. As projeções, no início do trimestre, estavam abaixo de 0,5%. Pelo lado da oferta houve crescimento da indústria (0,6%) e do setor de serviços (0,9%). Com o resultado da safra concentrado no primeiro trimestre, a agropecuária recuou 0,9%.
O que surpreendeu foi a indústria, que cresceu mais do que o esperado. Pelo lado da demanda, a taxa de investimento na economia (ou, tecnicamente, formação bruta de capital fixo) continuou a crescer e avançou 2,1% no trimestre. O consumo das famílias apresentou crescimento de 1,5% e o do governo, de 0,8%. Em relação ao PIB, a taxa de investimento ficou em 17,6%, ante 16,4% no terceiro trimestre de 2023, o melhor patamar para o período desde 2022 (18,3%). O Ministério da Fazenda informou que, após o dado do terceiro trimestre, vai revisar para cima sua estimativa para o PIB no ano (hoje, de 3,3%). A projeção de aumento dos juros deverá restringir o ritmo de expansão de concessões de crédito e investimentos, mas impulsos do mercado de trabalho vão estimular a produção e o consumo das famílias. No trimestre encerrado em outubro, o índice de desocupação foi de 6,2%, o menor da série histórica da Pnad Contínua, medida pelo IBGE.
O avanço da economia também pode ser explicado pelos impulsos fiscais, como os efeitos do reajuste real (acima da inflação) do salário-mínimo, que reverberam nos benefícios sociais e na Previdência e ajudam a impulsionar a demanda interna. A expectativa do mercado agora é de variação de 0,3% para o PIB neste último trimestre do ano. Ainda assim, voltou a crescer a estimativa para o resultado fechado no ano. A expansão do PIB mais uma vez acima das expectativas do mercado financeiro é bem-vinda, mas deve ser vista com ressalva. Isso porque a economia está crescendo além de sua capacidade potencial, o que dificulta o controle inflacionário e reforça a necessidade de uma alta maior dos juros, num momento de grande preocupação com os rumos da política fiscal do País. A alta acima do potencial da economia deve ser um argumento a mais em favor da elevação da Selic, em até 0,75%, pelo Copom na próxima semana. O crescimento robusto da economia pode levar o Banco Central a mudar sua estimativa para o chamado hiato do produto (a diferença entre o desempenho da economia e sua real capacidade) do atual 0,5% para algo próximo de 1%.
Para a XP Investimentos, o hiato do produto ao redor de 1% pressiona a inflação, sobretudo no setor de serviços. Por isso, para tentar segurar os preços o Banco Central tende a optar por uma alta de 0,75% para a Selic. A grande dúvida é: será que essa demanda interna pressionada, com o PIB surpreendendo para cima, não significa pressão inflacionária adiante? Para a MB Associados, o ideal seria uma alta ainda maior no juro, de 1% em dezembro, mas o Banco Central deve optar por uma elevação menos agressiva, de 0,75%. Vale ressaltar ainda a revisão feita pelo IBGE para o PIB de 2023, de 2,9% para 3,2%. Dois anos seguidos crescendo nessa intensidade mostram a economia acima do potencial, o que deve ser uma pressão para mais alta de juros no primeiro semestre de 2025, com previsão da Selic em 14% em junho. O C6 BanK também vê a atividade crescendo além da capacidade do País. Embora positivo, para manter esse ritmo de crescimento de maneira sustentável é necessário que o País tenha ganhos de produtividade, o que não está acontecendo por ora. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.