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02/Dec/2024

Múltiplos desafios para transição energética global

A transição energética, que tem preocupado parte do mundo consciente dos efeitos das mudanças climáticas, parece assombrada por outra transição: a troca de comando no governo dos Estados Unidos. As escolhas do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sugerem que ele se prepara para cumprir algumas de suas promessas mais extremas na reformulação da política ambiental, como retirar o país do Acordo de Paris sobre o clima, revogar regulamentações, mudar a Agência de Proteção Ambiental e expandir a produção de petróleo e gás. Seus sinais provocaram reações extremas: de um lado, há quem preveja que o retorno de Trump à Casa Branca resultará numa versão do apocalipse sobre a Terra; outros têm se esforçado para dizer que mesmo mudanças abruptas na política ambiental dos Estados Unidos não significarão desvio de rota no caminho norte-americano rumo à transição dos combustíveis fósseis para energia limpa.

Enquanto ambientalistas difundem prognósticos catastrofistas, autoridades dos Estados Unidos tentam informar ao mundo que não há razão para pânico. Durante a COP29, o senador Edward Markey, do Partido Democrata, afirmou que, “assim como as mudanças climáticas não serão resolvidas por um único presidente, as ações climáticas não serão interrompidas por um único presidente”. A secretária de Energia do governo de Joe Biden, Jennifer Granholm, lembrou que o Acordo de Paris já sobreviveu antes a uma retirada dos Estados Unidos. Na reunião do G20, o secretário-geral da ONU, António Guterres, também minimizou as consequências, dizendo-se “bem confiante” de que o dinamismo da economia e da sociedade norte-americana vai se mover na direção das ações climáticas. Não parece improvável que tais visões estejam imbuídas de doses consideráveis de ‘wishful thinking’, quando análise e desejo se confundem e contaminam as devidas conclusões.

O reconhecido negacionismo de Donald Trump torna remota a hipótese de que as políticas climáticas globais serão pouco afetadas pelas novas diretrizes do governo norte-americano. Mas, a realidade também desautoriza as análises mais sombrias, como se o mundo estivesse à beira do precipício climático por força exclusiva do novo presidente. Por um lado, o modelo federativo dos Estados Unidos dá liberdade aos Estados de adotar políticas próprias. Hoje, diferentemente do primeiro mandato de Trump, muitos deles ampliaram seu apoio às ações climáticas. Por outro lado, é preciso considerar um fator muito mais forte do que qualquer delírio trumpista, resistência democrata ou desejo da ONU: a força do dinheiro. E o dinheiro hoje continua direcionado para os combustíveis fósseis, razão pela qual mesmo um ardoroso defensor da transição energética encontraria dificuldade para promover mudanças significativas no comando da economia dos Estados Unidos.

O petróleo ainda responde por mais da metade da energia produzida no mundo e é a fonte mais barata. Dados internacionais estimam que o óleo e o gás ainda representarão em 2050 cerca de 1/3 da matriz energética global. Mesmo no cenário mais agressivo, e improvável, de descarbonização, os combustíveis fósseis ainda serão significativos. São letais no longo prazo e vitais no curto prazo. Recente reportagem do New York Times mostrou o desempenho de empresas de petróleo e gás, comparando as que há quatro anos assumiram compromissos para reduzir emissões e transitar para energias renováveis com as que preferiram manter seus modelos tradicionais. Enquanto empresas do primeiro grupo, como BP e Shell, amargam quedas de até 19% no preço de suas ações, outras como a Exxon foram recompensadas pelo mercado financeiro, com alta de até 15%.

Esse descompasso é fruto dos resultados: o retorno mediano sobre o capital entre algumas das maiores empresas privadas de petróleo do mundo, uma medida-chave da lucratividade, superou 11% no ano passado, segundo uma análise da S&P Global Commodity Insights, enquanto o retorno para as principais empresas de energia renovável permaneceu em torno de 2%. Em outras palavras, convém se preparar para que Donald Trump trabalhe incansavelmente contra a transição energética e em favor da negação das mudanças climáticas. Mas, não dá para debitar exclusivamente em sua conta o apetite global pelos combustíveis fósseis. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.