27/Nov/2024
As ameaças tarifárias do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, à China, México e Canadá surpreenderam Wall Street pela rapidez e levantaram temores em torno de uma estratégia mais ampla e que possa atingir outros países, elevando os riscos inflacionários na economia norte-americana. O momento do anúncio das medidas, a dois meses de o republicano tomar posse, pode, contudo, ser uma estratégia de negociação, na visão de alguns investidores e estrategistas. Trump anunciou, por meio da sua rede social, a intenção de taxar todos os produtos do México e do Canadá em 25% e tarifas adicionais de 10% a qualquer item da China importado pelos Estados Unidos. Segundo o republicano, a ideia é assinar a medida já no primeiro dia de sua gestão, após tomar posse, em 20 de janeiro de 2025. "Esta tarifa permanecerá em vigor até que as drogas, em particular o fentanil, e todos os imigrantes ilegais parem esta invasão do nosso país", escreveu Trump, em seu perfil no Truth Social.
O anúncio colocou um fim no sentimento de calmaria nos mercados em Nova York gerado pela indicação do gestor de fundos de hedge Scott Bessent para comandar o Tesouro dos Estados Unidos. Ações de montadoras de automóveis, cuja cadeia de suprimentos é interligada entre os Estados Unidos, o México e o Canadá, sofreram nas bolsas norte-americanas, além de pares no Japão e na Europa. Para a Capital Economics, o ponto principal é que a ameaça de impor tarifas no 'primeiro dia' apoia a visão de que Trump provavelmente agirá muito mais rapidamente em relação ao tema do que durante o seu primeiro mandato. A High Frequency Economics (HFE) avalia que caso as tarifas sejam implementadas podem significar preços maiores por parte dos principais parceiros comerciais norte-americanos, o que pesaria no orçamento dos consumidores bem como nas margens das empresas.
Wall Street já temia um efeito em cascata de medidas ventiladas por Trump com o risco de aumento de pressões inflacionárias, o que poderia obrigar o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) a parar de cortar antes os juros no país. Desde a eleição do republicano, algumas casas como o Goldman Sachs, o Santander e a Capital Economics têm ajustado os seus cenários, prevendo preços e taxas mais altas com Trump. A Eurasia pondera que o anúncio de Trump, dois meses antes de tomar posse, pode ter por trás uma estratégia de negociação com os países-alvo. É tempo de sobra para ouvir contrapropostas, o que certamente é a intenção. Para a corretora Avenue, parece uma medida para atacar a questão da imigração para os Estados Unidos não arcarem com os gastos de controle da fronteira sozinhos. A ameaça das tarifas fere o acordo que o próprio republicano assinou em 2020, o The United States-Mexico-Canada Agreement (USMCA), e que renovou o antigo tratado, o Nafta. A renegociação das condições está prevista para 2026.
A ameaça de Trump visa causar um senso de urgência nas negociações com México, Canadá e China. É "muito extremo" o risco de falta de abastecimento de produtos desses países na economia norte-americana. Ao menos até aqui, os países atacados por Trump parecem estar mais propensos a cooperar no tema, em vez de ameaçar com retaliação, avalia a Capital Economics. A China defendeu o controle rigoroso de drogas, em resposta às ameaças tarifárias de Trump. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que teve uma "conversa construtiva" por telefone com Donald Trump, após a ameaça de maiores tarifas. Mais dura, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, indicou que o país pode responder reciprocamente a eventuais tarifas alfandegárias impostas por Trump.
"A uma tarifa, virá outra em resposta e assim será até que coloquemos empresas comuns em risco", advertiu ela. A Capital Economics acredita que Trump pode impor uma tarifa de importação universal de 10% até o segundo trimestre do ano que vem, apesar da especulação de que algumas de suas nomeações mais moderadas, a exemplo de Bessent para o Tesouro, poderiam atuar para conter planos como esse. O ponto final é que Donald Trump não vê aliados, apenas adversários. Para a TS Lombard, a adoção de uma tarifa universal poderia respingar no Brasil. E o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia responder de forma "mais robusta" do que o ex-presidente Jair Bolsonaro. O Brasil tem o potencial de responder na mesma moeda no caso de os Estados Unidos imporem tarifas de 10% a 20% sobre os produtos brasileiros. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.