26/Nov/2024
A nova meta de financiamento climático definida na Cúpula do Clima deste ano (COP-29), em Baku, no Azerbaijão, causou insatisfação entre os países em desenvolvimento e já coloca pressão na COP30, marcada para Belém, no Pará, em 2025. Essa é a visão do professor Guarany Osório, coordenador do Programa de Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). A saída da COP29 foi essa construção ao longo do caminho, colocando mais pressão na COP30.
Isso significa que a próxima COP, sob a liderança do Brasil, terá de trabalhar para preencher as lacunas deixadas pela cúpula de Baku. O montante aprovado, de US$ 300 bilhões anuais (cerca de R$1,74 trilhão) até 2035, para o financiamento climático, ficou bem abaixo do US$ 1,3 trilhão (R$ 7,5 trilhões) pedido pelos países em desenvolvimento. Há queixas também sobre a falta de detalhamento na origem desses valores e nas regras para concessão, que poderiam incluir até juros em nível proibitivo. Segue a entrevista:
Como o senhor avalia o financiamento climático de US$ 300 bilhões para países em desenvolvimento?
Guarany Osório: A expectativa era complicada para essa COP em virtude do momento geopolítico conturbado que estamos vivendo. E o valor foi o que ficou possível a se chegar nesse cenário. Ficou longe do US$ 1 trilhão que era esperado para financiamento de mitigação e adaptação.
Quais sãos os próximos passos?
Guarany Osório: A saída foi essa construção ao longo do caminho, colocando mais pressão para a COP30 do Brasil. Será necessário um aumento desses aportes e da ambição com relação financiamento, que deve ser liderado pelos países desenvolvidos.
Ficou um sentimento generalizado de frustração?
Guarany Osório: Temos um misto de sentimentos. Uma parte aplaudiu, mas os países em desenvolvimento, principalmente os mais vulneráveis na questão climática, saíram muito frustrados.
Por quê?
Guarany Osório: Os países em desenvolvimento não são os causadores do problema, mas vão ter de pagar boa parte dessa conta. Quem causou mais o aquecimento global foram os países que se industrializaram e utilizaram combustível fóssil ao longo dos últimos séculos. Agora é trabalhar para que se melhore essa ambição do financiamento e todo o regramento, as fontes e como será utilizado para que ele chegue à ponta e para quem precisa realmente.
Fonte: Broadcast Agro.