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26/Nov/2024

Dificuldade para contratar profissionais qualificados

Se a falta de mão de obra em geral é um dos principais problemas enfrentados hoje pelas companhias, a situação está ainda mais complicada para contratar profissionais qualificados. No trimestre encerrado em junho, a taxa de desocupação para os trabalhadores com ensino superior completo, com mais de 25 anos de idade e pelo menos uma experiência profissional era de 3,5% da População Economicamente Ativa (PEA). Esse resultado é, praticamente, a metade do indicador de desemprego em geral, que, no mesmo período, estava em 6,9%. Segundo a consultoria Robert Half, o País está em pleno emprego no recorte de profissionais qualificados e há dificuldade de encontrar candidatos. Com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a consultoria fez um levantamento comparativo da desocupação entre os profissionais mais qualificados e os trabalhadores em geral para orientar o seu trabalho de recrutamento e seleção.

O estudo mostra que, desde o segundo trimestre de 2023, a taxa de desemprego dos profissionais mais qualificados tem ficado abaixo de 4%, quando estatisticamente se tem o pleno emprego, e atingiu o menor nível (3,3%) no terceiro trimestre do ano passado. Esses resultados reforçam a acirrada disputa por talentos, já que a maioria dos profissionais qualificados está empregada. Muitos profissionais qualificados recusam convites para trocar de emprego, o que revela um desafio que existe hoje nesse segmento de mercado. Apesar de salário ainda ser o principal fator para atrair e reter trabalhadores, apontado por 72,4% dos entrevistados em uma pesquisa recente feita pela consultoria Michael Page, a força desse fator já foi maior. Como os salários chegaram no topo hoje, não dá para as empresas colocarem isso como um diferencial.

A isca para atrair esses profissionais tem sido as ofertas de benefícios e, principalmente, flexibilidade, com a possibilidade de trabalhar de casa. Oferecer flexibilidade aumenta a chance de encontrar esse profissional sem que, necessariamente, seja preciso ampliar salário. No caso dos benefícios, eles variam de acordo com o perfil dos candidatos. Para os mais seniores, por exemplo, o cardápio pode incluir uma assistência médica diferenciada, enquanto para os mais jovens, um crédito para fazer aulas de ginástica em diferentes academias. As menores taxas de desemprego entre as profissões mais qualificadas estão na Região Sul do País, com 2,3%, e na Região Centro-Oeste, com 3,4%. Nessas regiões, os índices de desocupação estavam abaixo da média nacional de 3,5% para o estrato no segundo trimestre deste ano. Já nas Regiões Nordeste (4,5%), Norte (3,9%) e Sudeste (3,6%) superaram a média.

Em relação às profissões, o estudo não faz esse detalhamento. No entanto, com base em outras pesquisas, a LCA Consultores destaca que as profissões mais demandadas e, portanto, com menores índices de desemprego são aquelas relacionadas à Tecnologia da Informação (TI), como engenheiros de software, especialistas em cibersegurança, analistas e cientistas de dados, economistas e desenvolvedores, por exemplo. Outros segmentos aquecidos são de profissões ligadas à Saúde, sobretudo depois da crise sanitária, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos, por exemplo. Também estão nessa tendência as profissões ligadas ao mundo financeiro, como contabilidade, gestão de projetos, especialmente os relacionados a questões ambientais, sociais e de governança (ESG). No Brasil, a taxa de desemprego entre profissionais mais qualificados e experientes é, historicamente, menor do que a taxa de desemprego total.

Isso ocorre porque a fatia da população com ensino superior ainda é relativamente baixa no País: cerca de 19% da população. É um número inferior ao da média dos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 40%, segundo a Iniciativa de Empregos e Oportunidades Brasil (JOI Brasil), da organização J-PAL, fundada por ganhadores de prêmios Nobel em Economia. Como a oferta de profissionais qualificados é reduzida, esses trabalhadores têm maior poder de barganha comparativamente aos profissionais sem ensino superior. Normalmente, a diferença entre as taxas de desemprego tende a se ampliar em períodos de crise econômica, e a se reduzir em períodos de crescimento e estabilidade. A consultoria Tendências observa que, mesmo em setores onde uma parcela significativa dos profissionais graduados ocupa funções que não demandam alta qualificação, a diferença de remuneração em relação àqueles que concluem apenas o ensino médio é elevada.

Atualmente, o mercado de trabalho em geral apresenta sinais de forte aquecimento, com sucessivas expansões da população ocupada e aumentos da renda média, mantendo a desocupação em níveis historicamente baixos. A prova disso é que a taxa geral de desemprego recuou para 6,4% no trimestre encerrado em setembro, com queda de 1,3% ante igual período de 2023 (7,7%). Segundo a Tendências, a taxa de desemprego livre de influências sazonais foi de 6,5% no trimestre terminado em setembro. É o menor patamar da série histórica, iniciada em 2012. Para a consultoria Michael Page, atualmente as contratações de profissionais qualificados estão mais difíceis, embora a consultoria encerre 2024 como seu melhor ano no País. Em 2020, 2021 e 2022, os profissionais escolhiam as oportunidades. Em anos anteriores, eram as empresas que escolhiam os profissionais e, agora, a situação está equilibrada. Hoje, o mercado está mais seletivo tanto da parte dos profissionais quanto das empresas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.