19/Nov/2024
A escolha do “berço” da indústria petroleira como sede da COP29, Baku, no Azerbaijão, e a grande presença de defensores dos combustíveis fósseis têm ajudado a piorar a crise de credibilidade da cúpula do clima das Nações Unidas, que vai até o dia 22 de novembro. O setor é um dos principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global. Na conferência, fala-se em investir em tecnologias de transição energética, mas defende-se manter a exploração desses recursos pelo menos por outra década. A percepção negativa é reforçada pela dificuldade de avançar nas negociações desta edição, com foco no financiamento da adaptação climática, que opõe países ricos e em desenvolvimento. A concorrência com a reunião do G-20 (grupo das 20 maiores economias globais), nesta semana, também esvaziou o evento. Integram a lista de ausentes os presidentes Joe Biden (Estados Unidos), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Emmanuel Macron (França).
Uma carta assinada por algumas das maiores referências no tema no mundo, como o climatologista brasileiro Carlos Nobre e o ex-secretário geral da ONU Ban Ki-Moon, defendeu que a COP precisa ser repensada, com mais agilidade em negociações e ações, diante do agravamento da crise climática. Os especialistas, identificados como Clube de Roma, defendem rever critérios de escolha das sedes, considerando que a edição atual e a anterior foram em “petroestados”, com economias centradas em combustíveis fósseis. Em 2021, a ativista climática Greta Thunberg disse que a COP havia sido só “blá-blá-blá”. Novamente ausente da cúpula, ela participou nos últimos dias de protestos na Geórgia e na Armênia contra a escolha do Azerbaijão, também criticado pela repressão a opositores. A jovem ainda acusou Baku de “falsa agenda verde”. No dia 15 de novembro, a coalizão Kick Big Polluters Out divulgou balanço de que o número de participantes registrados como parte da indústria dos combustíveis fósseis chegou a 1.773 nesta COP.
Se fosse um país, seria a quarta maior delegação, atrás apenas de Azerbaijão (2.229), Brasil (1.914) e Turquia (1.862). Na COP de Dubai, o total de participantes da indústria do petróleo havia batido recorde: 2.450. O primeiro prêmio “Fóssil do Dia” desta edição, escolha feita por ambientalistas na COP desde 1999, foi destinado ao G7, grupo de nações ricas que têm hesitado em cumprir e ampliar o repasse de dinheiro para países em desenvolvimento. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos aumentou o pessimismo, uma vez que ele tirou o país desse acordo em seu primeiro mandato (2017-2021). A entrega do prêmio ocorreu no mesmo dia em que o pavilhão oficial do Azerbaijão recebeu um painel com representantes de petroleiras dos países da “Troika” (grupo formado pelos anfitriões da atual, da anterior e da próxima COP, o que inclui Emirados Árabes e Brasil).
No bate-papo, defenderam a continuidade da exploração de combustíveis fósseis ao menos por mais uma década e o investimento em tecnologia para a descarbonização do setor. Cientistas, por outro lado, têm defendido transição energética muito mais urgente. A situação pode afetar a COP brasileira em 2025, tanto pelo potencial de atrair mais atenção quanto pela pressão de retomar o debate de financiamento caso não evolua neste ano. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou que a COP30, em Belém, retomará a “essência” da Cúpula do Clima. “Quando se sai de duas COPs em ‘petroestados’ e vai para a Amazônia, isso tem um simbolismo extraordinário. Mostra o caminho daquilo que o Brasil deseja apresentar. Além disso, há necessidade de trazer a floresta para o centro das discussões”, afirmou. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.