12/Nov/2024
O resultado mais recente da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) confirmou tendência que vem se delineando nos últimos meses de queda no endividamento das famílias ao mesmo tempo que aumenta a inadimplência. O percentual de endividados, que em maio e junho deste ano chegou a 78,8%, vem caindo gradativamente e em outubro ficou em 76,9%. Já a inadimplência faz o caminho inverso e em outubro chegou a 29,3%, o maior nível em um ano. Entre os mais vulneráveis foi ainda maior, alcançando 37,7%. A Confederação Nacional do Comércio (CNC), que faz o monitoramento mensal, prevê que neste bimestre o endividamento volte a aumentar, por causa das compras tradicionais de fim de ano, mas os detalhes revelados pela pesquisa causam apreensão.
Tome-se, por exemplo, a parcela de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias, que cresce mês a mês e já chega a 50,4% do total dos endividados, o maior porcentual desde fevereiro de 2018. Além disso, 20,5% declararam ter mais da metade de seus rendimentos comprometidos com dívidas. O fato de dados como esses apontarem para um evidente beco sem saída torna inadmissível o incentivo persistente do governo Lula da Silva ao crédito e ao consumo como única via de crescimento. A mesma imprudência que está empurrando o endividamento público para algo em torno de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) ao fim do ano faz o governo estimular o aumento do crédito privado. Subsídios à indústria automotiva são recorrentes para elevar o consumo.
No ano passado, houve o corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do PIS/Confins para tentar reduzir preços. Neste ano, veio o Programa Mover, para concessão de créditos para abater tributos até 2028. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de carros tiveram em outubro o melhor desempenho dos últimos dez anos. Boa parte das vendas depende de financiamento, o que eleva o endividamento privado. A alta do PIB, puxada pelo consumo das famílias e do governo, poderia ser considerada positiva, não fosse o alto risco de insustentabilidade. E esse é o maior problema do atual governo: seu o horizonte de planejamento é estreito, como o provam as muitas medidas de efeito temporário que são anunciadas a título de enfrentar o desequilíbrio fiscal.
A pesquisa da CNC mostra que 12,6% das famílias endividadas afirmaram não ter condições de quitar seus débitos, também o maior índice desde outubro do ano passado. Um maior rigor fiscal do governo poderia frear o aumento da taxa básica de juros, o que, ao longo do tempo, representaria um alívio aos consumidores. Ao invés disso, a gastança pública continua a empurrar os juros para cima. O aumento da inadimplência dos consumidores, mesmo diante do pequeno recuo no endividamento das famílias, é um sinal que merece ser observado com atenção. Ao basear seu plano de crescimento econômico na intensificação de gastos, tanto públicos quanto privados, o governo parece montar uma armadilha que tem na insolvência seu final mais provável. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.