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06/Nov/2024

Efeito das eleições nos EUA na economia brasileira

O voto dos norte-americanos, além de definir quem vai governar o país nos próximos quatro anos, terá o poder de influenciar a trajetória das variáveis mais importantes da economia brasileira. Para analistas, um caminho mais árduo, de maior pressão sobre câmbio, inflação e consequentemente juros, deve ser trilhado caso Donald Trump volte à Casa Branca. Trump e sua adversária, Kamala Harris, fizeram uma campanha de propostas consideradas inflacionárias. Porém, fora a maior agressividade em frentes como imigração e política comercial, a agenda do republicano preocupa pela possibilidade de receber sinal verde no Congresso. Os economistas estão aguardando o resultado das eleições para calibrar os cenários. Como Kamala representa basicamente a continuidade do status quo, com seus prós e contras, o ex-presidente é quem coloca mais incertezas nos prognósticos.

Quanto maior for a força de Trump para fazer a sua agenda andar na Câmara dos Representantes e no Senado, onde a composição parece ser tão imprevisível quanto a corrida à Casa Branca, maior será o risco. No campo fiscal, nem Trump, nem Kamala apontam a uma tendência de ajuste das contas públicas, cada um a sua maneira: a vitória do republicano indica menos impostos; a da democrata, gastos elevados. As políticas anti-imigratórias, restringindo a oferta de mão de obra quando o mercado de trabalho ainda não dá sinais claros de afrouxamento, e de protecionismo comercial de Trump colocam um combustível a mais na inflação norte-americana. Se Trump vencer e conseguir levar adiante as promessas de deportação e de elevação das tarifas, haverá menor margem para o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortar os juros.

Assim, analistas entendem que Trump significa dólar mais forte, e por extensão juros mais altos nas economias emergentes, incluindo o Brasil. Independentemente dos fatores domésticos, como as incertezas fiscais no Brasil, o câmbio com Trump pode ter uma diferença de pelo menos 7% em relação ao cenário de vitória de Kamala, aposta a MB Associados. Com Trump, há grande risco de uma conjunção de política fiscal expansionista e forte aumento tarifário, o que é recessivo e inflacionário. Para o Brasil, seria uma pressão maior na taxa de câmbio, com o dólar podendo chegar a R$ 6,00. Como reação, o Banco Central terá que manter os juros em patamares mais elevados e por mais tempo. No caso de vitória de Kamala, a tendência é uma descompressão. O câmbio pode cair ao longo dos próximos dias.

Como seria mais do mesmo, não deve causar nenhuma grande mudança. De acordo com o Banco BV, a disparada do dólar nos últimos dias, antecipando um movimento que era esperado para o ano que vem, já é parte do que se convencionou chamar de "Trump Trade", ou seja, o mercado financeiro já trabalhando com a ideia de que o republicano vai ganhar a eleição. Além da expansão fiscal, Trump terá que ser mais ativo e frontal nas promessas de imigração e fechamento comercial. Temas do mercado de trabalho e dívida em alta ganham força na maior parte dos países e reforçam a alta de juros operacionais. No comércio exterior, a vitória de Trump pode aproximar ainda mais o Brasil da China, abrindo espaço para mais exportações de produtos agrícolas ao gigante chinês, dada a tendência de retaliação às tarifas levantadas nos Estados Unidos.

A barreira à entrada nos Estados Unidos tende, porém, a desviar ainda mais as exportações chinesas a mercados em expansão, como o Brasil. Colocaria assim o governo brasileiro numa saia justa: ao mesmo tempo em que a dependência das exportações para a China seguiria elevada, haveria maior pressão de produtores brasileiros por tarifas contra os chineses. O atual presidente Joe Biden não só preservou a maioria das barreiras comerciais levantadas durante o primeiro mandato de Trump como ampliou o número de empresas, em especial chinesas, sob sanções, sobretudo por conta da invasão da Rússia à Ucrânia. A volta de Trump ao poder pode levar, contudo, a uma escalada das restrições em direção a uma guerra comercial, tanto com trocas de barreiras tarifárias quanto com a busca por competitividade via movimentos de depreciação cambial nos países.

Isso teria efeitos negativos sobre o crescimento da economia global e nos preços das commodities exportadas pelo Brasil. A promessa do republicano é subir para 60% as tarifas contra todos os produtos chineses. Diretamente, a linha do "America first" que pautou as políticas externa e comercial de Trump no mandato entre 2017 e 2021 já tinha dificultado a entrada nos Estados Unidos de aço e alumínio produzidos no Brasil. Segundo o Ouribank, a vitória de Kamala representaria a continuidade da relação positiva entre os governos Biden e Lula. Já se o republicano Donald Trump ganhar, a relação política ficará menos alinhada do que é hoje. A segunda questão é que o governo Trump realmente é mais protecionista. Então, pode ter mais efeitos para a exportação brasileira.

Ainda que a China seja, em valor, o maior destino das exportações, os Estados Unidos são o país que têm o maior número de exportadores brasileiros (9,6 mil companhias), assim como o principal destino de produtos industrializados e de alta tecnologia fabricados no Brasil, como aeronaves, motores, equipamentos de telecomunicação, medicamentos e equipamentos médicos. Apesar de possíveis pressões, o Brasil tem um comércio historicamente equilibrado com os Estados Unidos, em boa parte feito entre empresas de um mesmo grupo econômico, caso de componentes enviados para montagem pela indústria norte-americana.

Para o Itaú Unibanco, uma eventual vitória do republicano Donald Trump nas eleições norte-americanas poderia pressionar as taxas de juros no Brasil. A política econômica dele deve levar a um dólar mais forte, o que no Brasil gera mais inflação e coloca pressão sobre o ciclo de juros. A eleição norte-americana não pode ser descartada como um fator de pressão sobre o câmbio no Brasil nas últimas semanas. É incerto quem vencerá o pleito, e o crescimento da democrata Kamala Harris nas pesquisas durante o final de semana ajudou a aliviar o dólar na segunda-feira (04/11). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.