05/Nov/2024
As eleições presidenciais dos Estados Unidos, com Kamala Harris e Donald Trump na disputa, têm o potencial de influenciar a balança comercial agropecuária mundial, com impactos diretos e indiretos no Brasil. A posição dos candidatos sobre temas críticos como tarifas, protecionismo, sustentabilidade e mudanças climáticas revela as diferentes abordagens para o futuro das exportações norte-americanas e sua posição geopolítica, especialmente com a desaceleração da demanda chinesa por produtos agrícolas dos Estados Unidos. A guerra comercial iniciada durante o governo Trump, que gerou tarifas sobre produtos agrícolas americanos, impulsionou a China a buscar novos fornecedores, especialmente no Brasil, que se consolidou como principal exportador de soja e milho para o gigante asiático.
Atualmente, mais de 70% da soja importada pela China é brasileira, e, entre janeiro e agosto de 2024, o Brasil exportou 63,9 milhões de toneladas de soja para o país, segundo a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec). O Real desvalorizado e o avanço logístico têm aumentado a competitividade brasileira, permitindo ao País fortalecer sua participação em mercados estratégicos, além de assumir a liderança na exportação de algodão. De acordo com a S&P Global Commodities Insights, Kamala Harris visa conquistar o voto da economia rural norte-americana, especialmente em Estados cruciais, com um plano de diversificação das exportações e combate ao que considera práticas comerciais injustas.
Com a meta de emissões líquidas zero até 2050, Harris propõe incentivos para a bioenergia e resiliência na cadeia de suprimentos, buscando atrair pequenos e médios agricultores. Trump, por outro lado, mantém um discurso voltado ao protecionismo, com apoio a tarifas e políticas que priorizem a produção interna. Sua campanha promete reduzir regulamentações da EPA, aliviar restrições tarifárias e implementar cortes de impostos, com apoio declarado das associações de produtores de grãos e do setor pecuarista. Analistas apontam que o setor agropecuário dos Estados Unidos está em um “ponto de inflexão” entre a expansão sustentável e a competitividade, com divergências nas políticas de preço, subsídios e abertura comercial. Para o Brasil, as políticas adotadas pelos candidatos podem representar um ponto de ajuste na disputa por mercados estratégicos.
A China, mercado de importância vital para produtos agrícolas norte-americanos, tem intensificado as importações da América do Sul, principalmente soja e milho brasileiros, numa tentativa de reduzir a dependência dos Estados Unidos. Estima-se que, na safra 2023/2024, as exportações norte-americanas para a China representem 52,45% para soja e 10,98% para trigo. A continuidade de tarifas e sanções pode resultar em mais vantagens para o Brasil em um cenário onde a China busca fornecedores mais confiáveis. Embora ambos os candidatos demonstrem interesse pelo setor de biocombustíveis, suas posições divergem na implementação de práticas sustentáveis e climáticas, elemento que pode impactar ainda mais a competitividade da agroindústria dos Estados Unidos e abrir novas oportunidades para o Brasil no cenário global. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.