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01/Nov/2024

Equipe econômica tenta destravar cortes de gastos

Com a disparada do dólar, o sinal de alerta sobre os efeitos desse aumento na inflação e nos juros preocupam, e a equipe econômica tenta destravar o pacote de cortes de gastos. Após o salto do dólar, ministros vieram a público para tentar acalmar o mercado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou que a ideia é elaborar uma “fórmula adequada” para os cortes. Haddad disse que entende a “inquietação” do mercado, mas que há “especulação” em torno das propostas. A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou que o pacote a ser apresentado não tem compromisso com cortes em 2025, mas em 2026, último ano do mandato de Lula. Será apresentado ao País um pacote que dê conforto para o presidente da República, deixando claro que nenhum direito será retirado. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, também saiu em defesa do ajuste nas contas. Enquanto a decisão final não sai, o governo analisa fixar um limite de crescimento de 2,5% ao ano, sem contar a inflação, para as despesas que aumentam a um ritmo mais veloz, submetendo todos os gastos ao mesmo limite do arcabouço fiscal.

Em junho, logo após um forte movimento de alta da moeda norte-americana, a equipe econômica preparava um “cardápio” de medidas para reduzir despesas que seria apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quatro meses depois, as iniciativas amadureceram, mas ainda continuam restritas à cúpula do governo. No mercado, a expectativa é de que os cortes fiquem em torno de 0,5% do PIB. A equipe econômica alimentou expectativas de que o governo apresentaria um consistente pacote de corte de gastos para reequilibrar as contas públicas assim que as eleições municipais fossem encerradas. Ventilou-se um cardápio de medidas a ser apresentado ao presidente que poderia gerar uma economia estimada entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões. Obstinado com a recuperação do grau de investimento, o presidente Lula estaria disposto a acatá-las. Findas as disputas regionais, nada mudou no governo. Há duas semanas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizia que enfrentar a dinâmica de crescimento do gasto público e seu impacto na dívida pública era algo premente e que estava na ordem do dia do governo.

As medidas seriam submetidas ao Congresso antes mesmo do envio da reforma tributária sobre a renda. No dia 29 de outubro, no entanto, o ministro disse que ainda terá muitas reuniões com o presidente Lula sobre o assunto e que não há prazo para a apresentação do tal pacote. Afirmou não haver veto do presidente sobre essas propostas, mas evitou fazer qualquer projeção sobre a economia gerada pelas ações a serem adotadas. Foi um balde de água fria. Como esperado, o mercado reagiu mal a tanta indefinição e o dólar fechou a R$ 5,76, maior valor desde 2021. No dia 30 de outubro, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, tentou apaziguar os ânimos, disse que o plano deve ficar para novembro e afirmou que a prioridade será rever políticas públicas ineficientes, um ato para o qual, segundo ela, é preciso ter “coragem”. Haddad, por sua vez, afirmou que a Casa Civil está alinhada com a equipe econômica e que haverá um esforço para compatibilizar os gastos aos limites do arcabouço fiscal. O desfecho das eleições municipais não fará essa agenda avançar.

As vitórias da centro-direita e o desempenho sofrível dos candidatos apoiados pelo PT nas urnas acenderam o alerta para a disputa presidencial de 2026. Certamente haverá quem defenda aumentar ainda mais os gastos para fazer frente a esse cenário político desafiador, o que dificulta, em vez de facilitar, os planos da equipe econômica. Há, por óbvio, motivos externos para a instabilidade da moeda. O dólar se fortaleceu com as indicações do Federal Reserve (banco central norte-americano) de que o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos não será tão rápido quanto se imaginava. As chances de que Donald Trump vença as eleições não são desprezíveis, e os planos do republicano de sobretaxar as importações e deportar imigrantes aumentariam a pressão sobre o mercado de trabalho, a inflação e, portanto, sobre os juros norte-americanos. Mas, o Brasil também tem suas próprias questões internas.

A expectativa do mercado para a inflação deste ano já superou o teto da meta, os juros futuros continuam a subir a despeito das sinalizações de aumento da Selic pelo Banco Central e a dívida bruta deve superar o patamar de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2032, fazendo ‘picadinho’ do arcabouço fiscal. Por melhores que tenham sido os resultados da arrecadação, não será possível apostar apenas na recuperação de receitas para zerar o déficit primário. O governo, no entanto, não demonstra pressa e afirma que as medidas de corte visam a cumprir a meta de 2026. As poucas ações em estudo e que vêm a público são imediatamente rechaçadas por ministros do governo e parlamentares do PT, quando não desmentidas pela própria Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. A resistência do presidente Lula é evidente e ele não parece nada convencido sobre a necessidade de rever gastos públicos de uma maneira estrutural. Nessas idas e vindas, o mercado cobra um preço cada vez mais alto na forma de juros e dólar, basta lembrar que o câmbio estava cotado em R$ 4,85 no fim do ano passado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.