28/Oct/2024
Sem aumentar substancialmente o investimento na transformação da agricultura global para um sistema regenerativo, o mundo não conseguirá enfrentar dois de seus principais desafios: a insegurança alimentar e a crise climática. Quem diz é Gilberto Tomazoni, CEO da JBS. Ele liderou a força-tarefa sobre sistemas alimentares sustentáveis e agricultura do B-20, o braço empresarial do G-20. Ao longo deste ano, Tomazoni articulou com empresários dos demais países as três recomendações do setor privado aos governos, que incluem ações para aumento de produtividade, financiamento da agricultura regenerativa e demandas sobre o sistema de comércio global.
O B-20 fala, no documento sobre sistemas alimentares, que é preciso financiamento para apoiar a transição da agricultura para sistemas sustentáveis e impulsionar a produtividade no agro. Em que situação o Brasil está comparado aos demais países?
Gilberto Tomazoni: Temos uma diferença grande de produtividade entre a agricultura de alta performance com a agricultura rural, vamos chamar assim. Isso ocorre no mundo inteiro. Por isso, essas recomendações que encaminhamos servem para todo o mundo, porque todo o mundo tem de fazer a mesma coisa: aumentar a produtividade, principalmente no pequeno produtor. No Brasil não é diferente. Temos uma agricultura de precisão, de alta tecnologia e, ao mesmo tempo, convivemos com uma agricultura familiar rudimentar. O desafio é fazer com que tecnologias já adotadas por esse grupo de produtores, que utilizam biotecnologia, robótica, cheguem aos pequenos produtores. A grande transformação que temos de fazer é o uso da agricultura regenerativa. Mas temos algumas barreiras que terão de ser ultrapassadas. A principal é a econômica. Ele tem de fazer um investimento inicial e, quando o fluxo de caixa é pequeno, não sobra dinheiro para investir. E, aí, a terra vai degradando, e obriga a abrir novas áreas para conseguir produzir. Quando a gente resolver isso, também resolva grande parte da questão do desmatamento.
Qual o caminho para superar a barreira econômica?
Gilberto Tomazoni: É preciso de financiamento para que ele (agricultor) possa ter o engajamento inicial. As práticas de agricultura regenerativa são mais produtivas, mas levam tempo até que você vai mudando, melhorando a resiliência e a biodiversidade do solo. A segunda barreira é operacional, explicar como fazer isso. A terceira é social. É preciso convencer as pessoas que isso é melhor do que o que se fazia antes.
O B-20 diz que é necessário ter de US$ 300 bilhões a US$ 350 bilhões, por ano, até 2030. Quais são os riscos se esse investimento não ocorrer?
Gilberto Tomazoni: Se não conseguirmos aumentar a produtividade, os alimentos vão ficar menos acessíveis. Se não fizermos esse trabalho regenerativo, o planeta vai perdendo a capacidade de se regenerar. Se não aumentarmos a resiliência do solo, nós vamos perdendo a capacidade de produção, você vai precisar cada vez colocar mais fertilizantes. Estamos gerando 25% das emissões globais. Quando você usa práticas regenerativas e aumenta a produtividade, você pode produzir até 15 vezes mais e, ao invés de emitir (carbono), captura os gases de efeito estufa. A agricultura regenerativa tem capacidade de capturar de 9% a 23% de todas as emissões globais.
Fonte: Broadcast Agro.