28/Oct/2024
A educação de hoje não prepara os jovens para o futuro do mercado de trabalho. E esse é um dos principais desafios que os países do G20 precisam enfrentar. A avaliação é de Walter Schalka, conselheiro da Suzano, empresa que presidiu durante os últimos 11 anos. Ao longo de 2024, ele coordenou debates com empresários das 20 maiores economias do mundo para discutir essa questão. Os principais fatores que têm alterado o mundo do trabalho, segundo ele, são a inteligência artificial, a questão climática e o nearshoring, produção mais próxima do destino. Para o Brasil, segundo Schalka, o caminho é investir em escola em tempo integral e em ensino mais digital. Segue a entrevista:
O que chamou a atenção do sr. ao discutir com o empresariado global sobre emprego e educação?
Walter Schalka: Nosso trabalho se iniciou discutindo as tendências que vão mudar a questão do trabalho e da educação no futuro. A mais óbvia é a inteligência artificial, que vai mudar dramaticamente o papel das pessoas na sociedade. A segunda é a questão geopolítica global, que está levando ao nearshoring. As pessoas trazem as empresas para mais próximo, não mais na busca da eficiência total. Antes, o objetivo era de produtividade e redução de custo. Agora, a questão geopolítica se sobrepõe a isso. E tem um terceiro aspecto muito relevante, que é a questão ambiental. A crise climática vai mudar a força de trabalho e o consumo, e aí uma série de coisas ao longo do tempo. Isso faz com que o trabalho do futuro não seja o trabalho de hoje. Só que o problema é que a educação de hoje é igual à educação de 10, 15, 20 anos atrás. Então, nós temos de projetar o trabalho do futuro. Estamos olhando para daqui a 10 ou 15 anos e estamos olhando uma educação de 20 anos atrás. Há uma defasagem de 30 anos, 40 anos na educação. Hoje, o jovem está sendo preparado da forma como eu, você ou os nossos pais fomos preparados. É uma defasagem muito grande.
Qual é o ponto central das propostas levadas ao governo brasileiro?
Walter Schalka: Temos propostas concretas, de mudança da forma da educação. Uma outra coisa que vai mudar muito é a inserção gradual da mulher na força de trabalho. A mulher vem, gradativamente, fazendo uma inserção maior e ela deveria representar, no futuro, 50% da liderança global, porque é 50% da população global. Isso também vai mudar as relações dentro das empresas e dentro da sociedade. E quais ações tomar? E aí vem um problema mais profundo: as ações são muito diferentes entre países. Mas nós tivemos sucesso com a participação de todos os países, mais de 130 membros participando ativamente, chegamos a um consenso da nossa proposta.
Pode dar exemplo dessas diferenças de ações que precisam ser tomadas pelos países?
Walter Schalka: Países do Hemisfério Norte têm Pisa (programa internacional de avaliação de alunos, na sigla em inglês) muito mais elevado. Então, dar uma recomendação para eles talvez não seja válida, mas para o Brasil é fundamental: escola em período integral. Existe uma correlação quase direta entre qualidade de ensino e escola em período integral. Outra questão fundamental para o Brasil, dada sua dimensão continental, é a digitalização. O Brasil precisa ter uma escola mais digital. Não podemos estar a reboque como estamos na tecnologia.
Fonte: Broadcast Agro.