22/Oct/2024
Para além das compras governamentais e de questões ambientais, a preocupação do Brasil de que o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia (UE) possa prejudicar investimentos já contratados no setor automotivo é mais uma barreira para que o tratado seja fechado atualmente. O País enviou justamente uma delegação para a China com o intuito de atrair mais recursos e esta é uma das áreas tidas como fundamentais para o crescimento econômico doméstico, mas a possibilidade de existirem barreiras para a produção de veículos no Brasil também coloca as negociações em suspenso. O Brasil tem muitos investimentos anunciados no setor automotivo, então o acordo não pode ser um incentivo ao desinvestimento.
Na semana passada, a secretária do Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Tatiana Prazeres, afirmou que aposta numa solução para fechar o acordo ainda este ano, mas o País negocia um seguro de acesso ao mercado europeu para os próximos anos. O tratado entre as partes vem sendo discutido há mais de duas décadas. No primeiro semestre do ano passado, o Brasil decidiu adotar uma postura mais dura. Foi após uma visita da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Brasil que o ‘nó foi desatado’, ainda que as negociações não tivessem sido interrompidas em nível técnico. A partir daí, o nível das conversas mudou totalmente.
De agosto em diante, ficou claríssima a instrução da Comissão Europeia para encontrar um desfecho. Foi nesse momento que se tomou a decisão de reintroduzir a questão da inclusão das compras governamentais, uma exigência brasileira que tinha sido deixada de lado nas conversas durante a administração de Jair Bolsonaro. Na visão do atual governo, os compromissos anteriores eram demasiadamente favoráveis ao bloco europeu e o ponto das compras comprometia políticas públicas. Os europeus já estavam mais duros em relação a pontos ambientais, o que foi interpretado internamente como um movimento protecionista, principalmente da França.
O discurso foi o de que a sustentabilidade tinha outro olhar na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O que foi alinhavado em novembro do ano passado é que se avançasse nos consensos em nível técnico o máximo possível e que, na reta final, faltando apenas dois ou três pontos para se fechar o tratado, a ala política "mataria no peito" essas questões. O problema é que o mandato do argentino Alberto Fernandez estava chegando ao fim e o país vizinho recuou. No início de 2024, foram as eleições da Comissão e dos Parlamentos europeus que mantiveram as tratativas em banho-maria. Nos últimos meses, as negociações voltaram a todo o vapor e a última reunião das partes ocorreu há cerca de 15 dias, em Brasília.
Nas declarações mais recentes sobre o assunto, o presidente Lula afirmou que os países do Mercosul estão dispostos a assinar o acordo com a União Europeia que, agora, só depende do bloco europeu. Em discurso em agosto deste ano, Lula pediu ao grupo "que se vire" com a França e a resistência que o país tem com os produtos agrícolas do Mercosul. A França é relutante por ser o principal favorecido pelo mercado agrícola fechado da União Europeia. Lula disse já ter comunicado sobre a posição do Mercosul a Von der Leyen. "Agora só depende deles, não depende de nós", disse o chefe do Executivo brasileiro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.