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01/Oct/2024

Apostas online atraem adolescentes e preocupam

Observa-se uma onda crescente no Brasil: a dependência dos jogos de apostas, proibidos para pessoas com menos de 18 anos, entre adolescentes. Hoje, no País, existem entre 1 mil e 1,5 mil plataformas do gênero. A estimativa é do Instituto Jogo Legal. O Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) explica que os mecanismos que levam ao vício nas apostas online, quadro conhecido como “transtorno do jogo”, são os mesmos que atuam na dependência de álcool e drogas sintéticas e alguns pesquisadores chegam a comparar o potencial aditivo ao do crack. Mas, quando se trata de crianças e adolescentes, é ainda pior, pois nessa fase áreas importantes do cérebro, relacionadas sobretudo ao controle de impulsos e à regulação emocional, ainda estão em desenvolvimento, deixando esse grupo especialmente vulnerável a qualquer dependência. No caso de apostas, a imprevisibilidade gera uma excitação ligada ao risco de ganhar ou perder dinheiro. A incerteza acaba se tornando mais gratificante do que os ganhos.

Como resultado, o cérebro quer repetir o comportamento, pois o considera altamente recompensador, o que acaba levando a apostas cada vez maiores e impensadas. Para os mais jovens, como as áreas de controle ainda estão em formação, não existem os freios que podem racionalmente colocar uma interrupção. Desde o ano passado, quando as bets foram liberadas e o Jogo do Tigrinho e similares explodiram no Brasil, os atendimentos a pré-adolescentes e adolescentes que não conseguem parar de apostar ficaram mais comuns. Os jovens costumam se envolver com as plataformas de jogos por dois principais motivos: a falsa ideia de lucro fácil e porque as bets cumprem um papel de válvula de escape. A adolescência pode ser uma fase complexa, e o jogo acaba se tornando uma anestesia, uma espécie de automedicação para vários tipos de problemas prévios, como depressão, conflitos familiares, ausência de afetividade, transtorno de déficit de atenção, flutuação do humor e até mesmo autoestima baixa, onde os possíveis ganhos também se traduzem em picos de melhora sobre a percepção que esses jovens têm de si mesmos.

Segundo o Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) da USP, os sinais do transtorno do jogo podem ser notados a partir de mudanças emocionais e nas interações sociais. Embora cada caso seja único, é importante estar atento a uma possível queda no desempenho escolar e à dificuldade de se engajar em atividades que não envolvam jogos de azar e o uso de celular ou computador. Outro indício preocupante é a falta de interesse no contato com outras pessoas e a dificuldade em manter uma rotina de sono, trocando o dia pela noite. A desregulação emocional é mais um sintoma comum, com crises de irritabilidade e agressividade. Assim como acontece com a dependência em álcool e outras drogas, nesse caso também existe a possibilidade de ocorrerem episódios de abstinência. A situação pode escalar de tal forma que causa o endividamento da família e o envolvimento com a ilegalidade. É nesse momento que os jovens costumam chegar aos consultórios.

Segundo os médicos, várias histórias envolvem o furto (dentro e fora de casa) ou os empréstimos, obtidos até por meio da agiotagem. Outro fenômeno que tem sido observado é o desenvolvimento de pensamentos desconectados da realidade, quase fantasiosos. Muitos pacientes não conseguem reconhecer o problema, mesmo diante de dívidas acumuladas e sintomas de abstinência. Além disso, em alguns casos, o discurso se torna eufórico e distorcido, levando a afirmações como: “Nasci diferente, mais inteligente e melhor no jogo”. Muitas vezes, os pacientes acham que, se conseguirem algum dinheiro para jogar, eles vão reverter esse cenário de dívidas, porque acreditam que são bons naquilo. Eles falam ‘os problemas são as dívidas. Depois que eu pagar, não terei mais problemas’. É um pensamento fantasioso, que envolve frustração, medo, abstinência, vergonha, e, nesse misto, infelizmente há agravantes na saúde mental, como depressão, ansiedade e até mesmo tendências suicidas.

Esses indivíduos ficam mais suscetíveis a desenvolver outros tipos de dependência, como de álcool ou outras drogas. Para o Instituto Alana, a estratégia das bets e dos cassinos online para alcançar o público mais jovem está no próprio design dos sites. Existe toda uma arquitetura que envolve desenhos, cores e notificações, dizendo que seus amigos também estão jogando. São elementos atrativos aos mais novos. Tudo isso é cruel, porque explora vulnerabilidades do sujeito em desenvolvimento. Não houve aumento significativo no investimento nas políticas públicas para saúde mental. O Ministério da Saúde admitiu não ter dados sobre o vício da população brasileira em jogos de azar. Desde o início de 2023, a Pasta tem ampliado a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) para melhorar o atendimento a problemas de saúde mental, mas não respondeu se há ações específicas para dependência do jogo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.