19/Sep/2024
O aumento na projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 anunciado pelo Ministério da Fazenda, de 2,5% para 3,2%, anula o efeito do aumento da Selic na Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) no curto prazo. Economistas calculam que a DBGG deve girar em torno de 79% do PIB até o fim deste ano. Para 2025, espera-se que novos fatores adicionais reforcem a pressão sobre o endividamento, em meio a um cenário externo desfavorável e uma deterioração na política fiscal doméstica. A projeção da DBGG depende de três variáveis principais: crescimento do PIB, taxa Selic e o resultado primário. O cálculo é de que cada 1% de alta no PIB nominal reduz a dívida em 0,4%, valor que chega a -0,05% considerando o efeito total, ou seja, a soma da elevação de receitas no resultado primário.
Já 1% de variação na Selic mantido por 12 meses tem impacto de alta de 0,4% na relação DBGG/PIB. De acordo com o Santander Brasil, grande parte do aumento na dívida contratada para este ano já foi concretizado, com uma elevação de 4,1%. Agora, um efeito de alta no PIB acaba cancelando o de alta da Selic. Então, um ciclo de alta 100 pontos base para cada ponto na Selic acaba tendo um efeito contrabalanceado pelo PIB maior. No longo prazo, a perspectiva de Selic elevada, somada ao enfraquecimento econômico, é o que tem gerado preocupação entre agentes do mercado. Em 2025, deverá haver um aumento de 4% na dívida, a depender se o governo conseguir de fato entregar a meta de resultado primário.
A projeção do PIB foi surpreendente para cima este ano, mas, para o ano que vem, provavelmente haverá uma desaceleração. Em 2025, chama atenção o comportamento do câmbio e uma eventual queda no preço do petróleo, além do impacto do projeto de lei de renegociação das dívidas dos Estados e dos municípios. A MB Associados acredita que a dívida deve chegar a 82% do PIB em 2025 diante do crescimento menor da economia e de uma Selic média elevada, além de um déficit primário que já começa em R$ 75 bilhões. Serão 10% a mais de dívida entre o fim de 2022 e o ano que vem, o que certamente não configura nada parecido com um ajuste fiscal. A partir de 2027, será preciso discutir algo além da meta de superávit, partindo para uma meta de dívida em conjunto com uma regra de resultado primário.
Chegou-se em um momento em que as regras fiscais terão que ser ampliadas para evitar os vazamentos que ocorrem no primário. De qualquer maneira, isso vai exigir um compromisso muito maior com o lado dos gastos, dado que o limite para alta da carga tributária já foi alcançado. A ARX Investimentos demonstra preocupação não só com a economia doméstica, mas sobretudo com o quadro internacional. "Eu estou mais negativo com o cenário externo. Existe uma desaceleração que já está no curso da economia norte-americana e que deve ganhar atração nos próximos meses. Além do comportamento econômico dos Estados Unidos, o enfraquecimento da economia chinesa afeta fortemente a exportação de commodities pelo Brasil. Para 2025, a dívida brasileira continuará crescendo em velocidade grande devido a esses desafios, além da própria dificuldade do governo em aumentar arrecadação para fazer ajuste fiscal pelo lado das receitas.
No próximo ano, esse cenário vai estar materializado. Isso é relevante porque o orçamento do governo está muito ‘heroico’, está muito otimista, está com um crescimento superior a 2,5%, que é muito forte, mas pode ser abaixo disso. O governo vai ter menos receita do que está colocando na conta, seja por uma desaceleração do crescimento externo, global, seja por conta de uma desaceleração no Brasil. Se o governo não atacar o gasto e não conseguir aumentar imposto diante da desaceleração do crescimento, vai acabar revisando a meta fiscal e gerando uma desancoragem da política econômica no Brasil. É uma escolha que o governo vai ter que fazer no final desse ano e no começo do ano que vem. Isso vai ficar muito óbvio e o quanto antes o governo decidir, melhor. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.