19/Sep/2024
Com mais de uma centena de incêndios florestais sem combate, o Brasil dá novos passos para atrair recursos para conter as mudanças climáticas e proteger o seu território verde. A Reservas Votorantim, gestora de ativos ambientais da família Ermírio de Moraes, selou a venda de 67 mil toneladas de crédito de carbono ao Grupo CCR de um projeto que será registrado de maneira inédita em uma plataforma que está sendo desenvolvida pela bolsa brasileira, a B3, e também contou com o apoio da ECCON Soluções Ambientais. Mais do que a operação em si, que tem crescido no País, a novidade está em estruturar esse arcabouço dentro de casa, fundamental para o desenvolvimento do mercado de crédito de carbono brasileiro, e que antes só estava disponível no exterior. A iniciativa foi anunciada nesta quarta-feira (18/09) no 'Brazil Climate Summit', em Nova York (EUA), às margens da 'Climate Week NY', o maior evento com a temática clima do mundo.
O projeto piloto começa com o registro inédito dos projetos da Reservas Votorantim e da ECCON, com base na PSA Carbonflor, metodologia de mensuração dos serviços ecossistêmicos, incluindo o carbono florestal, na plataforma da B3. O objetivo, porém, é atrair mais emissores para acelerar o processo de emissão de créditos no País, ajudando empresas que precisam compensar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) de forma mais ágil, transparente e com menores custos. Fazer projetos de carbono mais rápidos, com menos riscos e custos efetivos, e que cheguem na ponta para compradores como a CCR gera um ciclo positivo de retorno. Quando este crédito é vendido, é reinvestido na defesa do território próprio, e o Brasil é muito carente de mecanismos de defesa de floresta contra fogo. De acordo com a ECCON Soluções Ambientais, até então as empresas brasileiras tinham de utilizar metodologias e plataformas criadas em países como os Estados Unidos e a Suíça para registrar os seus projetos de crédito de carbono, bem como a venda dos mesmos.
Foi muito relevante para o planeta, para os primeiros passos, mas ainda existe uma barreira cultural que precisa ser trabalhada para dar mais velocidade e transparência ao mercado brasileiro. Há exemplo, diferentes legislações que protegem a natureza. No Brasil, o registro das vendas dos créditos de carbono bem como os projetos envolvidos será feito na B3, que desenvolve uma plataforma para o segmento. Além disso, também será possível a negociação desses ativos por conta da parceria da bolsa brasileira com a ACX, de Abu Dhabi, e que prevê investimentos de R$ 10 milhões para ter uma espécie de 'bolsa verde' no País. Segundo a B3, Leonardo Betanho, a plataforma seguirá os moldes dos mercados financeiro e de capitais e será uma depositária das informações dos projetos de crédito de carbono, além de controlar participantes, a titularidade dos créditos e as transações. Não se trata de só de registrar o crédito de carbono, mas o projeto em si.
E, com isso, se começa efetivamente a usar esse ambiente de registro para uma iniciativa primária nacional. Fechar a ponta da iniciativa foi possível com o interesse do Grupo CCR, que atua nas áreas de rodovias, aeroportos e mobilidade urbana, na aquisição dos créditos de carbono gerados pela Reservas Votorantim. A operação está em linha com os seus compromissos sustentáveis, de reduzir 59% dos escopos 1 e 2 de suas emissões de gases de efeito estufa e 27% da categoria 3 até 2033. Esse ano, a companhia deu um passo além de se comprometeu a atingir a neutralidade carbônica até 2035. Nesse sentido, o Grupo CCR está comprando 67 mil toneladas de crédito de carbono gerados pela PSA Carbonflor, metodologia aplicada no Legado das Águas, a maior reserva privada de Mata Atlântica do País, administrada pela Reservas Votorantim. Do volume adquirido, 8,5% serão destinados para a compensação das emissões de escopo 1 neste ano, e o restante para ações futuras, conforme o Grupo CCR.
A operação é inédita sob vários aspectos. O Grupo CCR é o precursor na compra de créditos de carbono de um projeto que será registrado na plataforma da B3, mas também será a primeira vez na história que compra ativos sustentáveis para compensar as suas emissões. O Grupo buscava projetos de crédito de carbono no bioma onde está mais presente, que é a Mata Atlântica. Há três pontos principais na plataforma: transparência e governança, expectativa de redução do custo das transações, e viabilização de certificações tropicais. O preço pago pela compra dos créditos da Reservas Votorantim não foi revelado, mas, o objetivo é divulgá-lo na plataforma da B3. A expectativa é conseguir reduzir o preço da transação, de construção de um projeto e de geração do crédito. Avançar em questões de governança e transparência na publicação das informações sobre os projetos e as emissões para que investidores e outros interessados tenham acesso é uma segunda etapa do projeto piloto. A transparência para o ambiente de registro, das metodologias, ainda é uma questão. Isso será atacado frontalmente. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.