18/Sep/2024
Entrevista com a bióloga Erika Berenguer, referência mundial sobre a Amazônia:
Como analisa a seca e as queimadas em todo o Brasil e, especialmente, na Amazônia? Já conseguimos dizer qual a contribuição das mudanças climáticas nesta situação?
Erika Berenguer: Tem um ramo da ciência que se chama ciência da atribuição. Os climatólogos conseguem o porcentual, o quanto da seca está sendo exacerbado por conta das mudanças climáticas. Mas ainda não temos esses números para a atual situação. Eles devem começar a aparecer ao longo do ano que vem, conforme novos estudos saírem. O que se pode, sim, dizer, baseado nas evidências que temos, é que secas extremas ocorrem. Porém, o clima já mudou. Temos de usar o verbo no presente e no passado, não mais no futuro. O clima vem mudando e está mudando. O que a gente já sabe, falando especificamente de Amazônia, é que, desde os anos 1970, já houve aumento de 1,5ºC no bioma como um todo. Ou seja, a Amazônia já está mais quente.
Por que o fogo é um problema relativamente novo na Amazônia? Por que não havia incêndios antes?
Erika Berenguer: O roçado da mandioca é prática centenária na região, muito comum entre indígenas. O fogo era usado para limpar terreno e não escapava. A floresta era tão úmida que funcionava como aceiro, uma área que apaga o fogo. Hoje não é mais assim. O que todos os cenários mostram é que as estações mais secas estão cada vez mais longas e intensas. Ou seja, chove na estação seca, mas cada vez menos e o período de seca dura cada vez mais. A paisagem, de forma geral, é mais ressecada. Quanto mais altas as temperaturas, mais a floresta perde umidade para o ar. Com isso, o fogo escapa rápido e se propaga facilmente. Por isso temos incêndios florestais em áreas que, por milhões de anos, nunca queimaram.
Como avalia a atuação do governo em relação ao enfrentamento às mudanças climáticas?
Erika Berenguer: Fez um excelente trabalho no combate ao desmatamento, porém faltam mudanças sistêmicas para a prevenção dos incêndios. Precisamos de ações preventivas à degradação florestal, principalmente pelo fogo. Quando o fogo já está pegando na Amazônia, já perdemos a luta. E isso custa vidas e a saúde da população.
Fonte: Broadcast Agro.