12/Sep/2024
O Brasil está pegando fogo. E antes fosse apenas no sentido figurado, como decorrência do acirramento de ânimos típico dos períodos eleitorais. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), queimadas naturais e criminosas cobrem nada menos que 60% do território nacional de fumaça, mais ou menos densa a depender da região do País. O ar respirado na cidade de São Paulo foi considerado o pior do planeta pela IQAir, uma ONG acreditada pela ONU para medir a qualidade do ar em várias cidades do mundo. O resultado desse quadro aterrador pode ser sentido por todos, mas sobretudo idosos e crianças, os mais suscetíveis ao agravamento de doenças cardiorrespiratórias causado pelo clima desértico. Respirar se tornou, literalmente, um ato de resistência. E malgrado os incêndios tenham começado nessa dimensão apocalíptica há meses, só agora o governo federal parece ter acordado para a gravidade da situação.
Na terça-feira (10/09), o presidente Lula viajou ao Amazonas acompanhado por ministros para anunciar os detalhes da formação de uma “força-tarefa” para combater as queimadas e prestar socorro aos cidadãos que vivem nas áreas mais afetadas pelo fogo e pela seca. Há poucas semanas, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, já parecia perdido. Durante uma viagem aos estados do Amazonas, Pará e Rondônia, Dias afirmou que a tragédia ambiental era “uma coisa nova”. O governo federal está prostrado diante de um problema há muito conhecido. “Está todo mundo chocado com essa situação”, lamentou Wellington Dias. Ora, chocada está a sociedade brasileira diante da incompetência do governo para lidar com as queimadas, no melhor cenário, ou do descaso do presidente da República pela chamada questão ambiental.
Prontos-socorros dos hospitais País afora estão lotados de pacientes à espera de diagnóstico e tratamento para as doenças causadas por esse ar insalubre. Da ministra da Saúde, Nísia Trindade, ainda não se ouviu palavra sobre os cuidados que a população precisa tomar para resguardar a saúde sob condições tão adversas. Por muito menos, outras autoridades já convocaram cadeia nacional de rádio e TV para se dirigirem aos brasileiros. Talvez seja o caso de lembrar à ministra que ser melhor do que o inesquecível Eduardo Pazuello no cargo não basta para que ela possa ser vista como uma ministra da Saúde à altura das necessidades de um país como o Brasil. Nos âmbitos estadual e municipal, particularmente em São Paulo, o manejo da crise não parece ser menos problemático. A sensação transmitida à sociedade é de descompasso, para dizer o mínimo.
Ao que parece, todos estão tomando ciência da gravidade de um problema que, como já foi dito, não é novo nem será episódico. As respostas governamentais à crise do clima devem ser abrangentes e coordenadas entre as três esferas da administração. Obviamente, impõem-se o combate imediato às queimadas e a persecução dos que as promovem de modo criminoso. Mas, isso não basta. O Brasil precisa, de uma vez por todas, avançar na adaptação às mudanças climáticas. Condições meteorológicas extremas, como a seca, as ondas de calor e as enchentes já não são o “novo normal”, mas uma realidade posta. Quando se fala em proteção do meio ambiente, está-se falando de segurança hídrica, energética e alimentar. Está-se falando de vidas, portanto. Ou o governo federal lidera esforço nacional de adaptação às mudanças climáticas ou o Brasil será consumido pela incompetência antes que as chamas possam arrasar por completo os seus biomas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.