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10/Sep/2024

Inflação de alimentos deverá avançar em setembro

O clima seco e as queimadas em boa parte do País devem prejudicar a produção de itens como carne bovina, cana-de-açúcar e algumas frutas e levar a inflação da alimentação no domicílio, medida pelo IPCA, para o terreno positivo já no mês de setembro, após quedas em julho e agosto. O cenário contrasta com os últimos dois anos, quando a inflação de alimentos consumidos em casa fechou setembro com deflação (de 1,02% em 2023 e de 0,86% em 2022). A última alta registrada para a abertura do nono mês do ano foi em 2021 (1,19%), mas em um contexto de disparada dos preços como reflexo da pandemia. A pressão na oferta de alguns alimentos devido ao clima seco se soma aos impactos da mudança de bandeira tarifária na energia elétrica, que já levou o mercado a revisar para cima as projeções para a inflação do mês. A LCA Consultores projeta alta de 0,17% para a alimentação no domicílio no IPCA de setembro.

Ainda que modesta, essa variação contrasta com o recuo de 1,10% esperado para a abertura no IPCA de agosto, que será divulgado nesta terça-feira (10/09), e com o padrão sazonal da alimentação no domicílio para os meses de setembro. A mediana da variação da alimentação no domicílio nos meses de setembro dos últimos dez anos (de 2014 a 2023) é de queda de 0,33%. A taxa esperada para setembro agora não é alta, mas é muito diferente da mediana. O cenário está atrelado aos impactos do clima seco e a falta de chuvas das últimas semanas. Entre os principais vetores de pressão para esta leitura, estão frutas, derivados do leite, café, bebidas não alcoólicas e feijão. A produção da cana-de-açúcar também tende a ser prejudicada com o clima seco e as queimadas, especialmente no estado de São Paulo, mas o impacto no IPCA deve ficar mais para frente. Pensando no timing da safra, deve ter impacto no começo de 2025.

A alimentação no domicílio deverá encerrar o ano de 2024 com alta de 5,6%, após um recuo de 0,52% no acumulado de 2023. A projeção chegou a rodar na casa de 4,5% e foi sendo ajustada, à medida que os impactos do clima seco deste ano eram incorporados ao cenário. A pressão nos alimentos também contribuiu para a revisão altista na projeção da LCA para o IPCA como um todo deste ano, que era de 4,2% há dois meses e hoje está em 4,4%. A Warren Investimentos também tem em seu cenário-base o retorno da alimentação no domicílio para o nível positivo na passagem do IPCA de agosto para o de setembro (-0,95% para 0,05%). O clima seco tende a prejudicar a oferta de alguns itens in natura, mas o principal problema causado pela falta de chuvas deve aparecer no preço da carne bovina. No primeiro semestre houve um 'super abate' de bovinos e, agora, por causa da seca, as pastagens estão muito ruins. O boi demora mais para engordar, então a oferta de bovinos para abate diminui.

Em relação aos problemas com a cana-de-açúcar, as queimadas em algumas regiões produtoras fizeram com que a produção tivesse de ser direcionada mais para o etanol do que para o açúcar, interferindo na quantidade ofertada de cada item. Então, deve haver um repique no preço do açúcar, mas queda no preço do etanol. No curto prazo, para o IPCA como um todo, isso não é ruim. Assim, dada a pressão adicional sobre o preço da carne bovina e a manutenção da variação de alguns itens in natura ainda em nível elevado por conta da estiagem, a Warren adicionou, por ora, um impacto altista de 0,07% à estimativa da casa para o IPCA de 2024, que hoje é de 4,5%, no teto da meta para este ano. Para a alimentação no domicílio, a projeção é de alta de 5,94% em 2024. A Quantitas avalia que o efeito das queimadas e da atual estiagem sobre a inflação de alimentos ainda é incerto. Por ora, itens como café e açúcar já sentem impactos mais expressivos nos preços, mas chama a atenção os efeitos sobre a cotação do boi gordo com vencimento em outubro de 2024, que já subiu cerca de 6% desde o início de agosto.

A cotação do boi gordo tem andado também, mas é um pouco difícil isolar o quanto é efeito das queimadas e o quanto é efeito do ciclo de abate de fêmeas. Ali, reside um risco importante a se monitorar. Caso o risco se concretize, a maior parte do impacto no IPCA de setembro deve ser absorvida pela carne bovina. A alimentação no domicílio deverá avançar a 0,44% em setembro, após queda de 1,51% em julho e perspectiva de recuo também para agosto. A projeção da Quantitas é de alta de 5% para a inflação da alimentação no domicílio neste ano. Para o IPCA como um todo, a estimativa é de alta de 4,2% em 2024. Apesar da recente pressão nos alimentos já incorporada ao cenário, há perspectiva de um impacto baixista vindo do etanol, justamente pelo aumento da moagem da cana-de-açúcar, devido às secas. Há, porém, um risco de alta para esse item a partir do primeiro trimestre de 2025. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.