05/Sep/2024
Segundo a secretária nacional de Mudança do Clima, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ana de Toni, as estratégias de intervenção nas mudanças climáticas no Brasil devem exigir de organizações públicas e privadas a tomada de decisões difíceis relacionadas a intervenções nos modelos de operação industrial adotadas ao longo dos anos. A mudança de rota depende não só da observação de aspectos ambientais, mas também de estudos técnicos econômicos, que ainda precisam avançar no País e atender às necessidades de suas especificidades geográficas. Na ciência climática, será preciso tomar decisões muito difíceis. Explorar petróleo na Foz do Amazonas, parar de desmatar, por exemplo, são escolhas dificílimas, seja para o setor privado, seja para o setor público. Mas, além das evidências sociais e ambientais, tem de haver evidências econômicas.
No Brasil, as pesquisas econômicas voltadas para o clima estão atrasadas e o trabalho da FGV Clima poderá intervir nesse aspecto. A equipe de pesquisadores da instituição será responsável por dar apoio técnico ao governo federal para a elaboração do Plano Nacional de Transição Energética (Plante). A produção de pesquisas econômicas voltadas para o clima, principalmente no Brasil, está atrasada. Normalmente, o setor privado e a academia vêm antes do governo. E nesse momento, a impressão é que o governo se alertou antes para o tema econômico da mudança do clima de maneira robusta. É importante cada vez mais haver centros acadêmicos da economia se juntando para ajudar nesse processo. Um dos pontos que poderão ser otimizados pelas pesquisas aplicadas é a previsão do quanto deve ser investido nas estratégias relacionadas à agenda do clima e o quão altos são os custos gerados quando há falta de ação frente às mudanças climáticas.
Desde o começo do governo, o MMA pensa em mecanismos econômicos, como o mercado de carbono, taxonomia, fundos e títulos soberanos, Fundo Clima, Eco Invest e outros instrumentos que, antes, não faziam parte do menu governamental. Há um esforço de pensar nesses mecanismos, mas, certamente, eles têm que ser pensados e testados junto à academia. Não é comum em outros países que um Ministério do Meio Ambiente tenha como grande aliado um Ministério da Fazenda. No Brasil, isso é um diferencial e mostra alinhamento favorável para o encorajamento dessas pesquisas. O tema da mudança do clima é essencialmente um tema de desenvolvimento socioeconômico. O simbolismo dessa sinergia entre os ministérios mostra o entendimento das questões climáticas como sendo, sim, econômicas. Sediado em São Paulo (SP), o recém-lançado FGV Clima reúne profissionais da Economia para pesquisar e contribuir para o avanço da Economia relacionada às questões do clima no Brasil.
De acordo com a equipe idealizadora, a iniciativa busca sanar a necessidade de inclusão dos temas econômicos nos debates sobre a crise climática. O diferencial do centro é o foco na Economia do Clima. A Economia pode dar uma enorme contribuição para a ação climática. No entanto, os economistas não têm participado de forma tão ativa dessas discussões e principalmente das decisões sobre o tema no Brasil. A missão do novo centro será a de fortalecer a ação climática brasileira e impulsionar o desenvolvimento socioeconômico do País de forma justa e sustentável, envolvendo variados stakeholders (partes interessadas). A ideia do novo centro é disponibilizar a expertise dos economistas da instituição para dar subsídio científico às estratégias de intervenção na agenda do clima. A ideia é usar todo o ferramental teórico e empírico da economia para produzir conhecimento técnico muito robusto e de alta qualidade.
Se o Brasil quer uma ação climática baseada em evidência, precisa produzir conhecimento técnico, e isso vai servir de base para que formuladores de política e gestores públicos e privados possam tomar decisões informadas e eficazes. O suporte ao Plano Nacional de Transição Energética é o primeiro projeto com atuação da equipe de especialistas. Para a elaboração do documento, a equipe envolvida irá escrever relatórios técnicos dos setores de óleo e gás, elétrico, mineral, transporte e indústria. Além disso, haverá workshops para engajamento de agentes envolvidos nesses mercados. O trabalho é financiado pela organização filantrópica Instituto Clima e Sociedade (iCS), que apoia o novo centro de pesquisa. Segundo o iCS, o valor total investido na iniciativa foi de R$ 1,6 milhão e tem previsão de um ano e meio de duração. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.