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02/Sep/2024

Ingestão inadequada de micronutrientes essenciais

De acordo com um estudo publicado na respeitada revista científica The Lancet Global Health, bilhões de pessoas em todo o mundo podem estar consumindo menos micronutrientes essenciais à saúde do que o necessário. A maioria da população global apresenta ingestão inadequada de 15 micronutrientes, estimaram os pesquisadores de Harvard, University of California Santa Barbara, Tel Aviv University, Global Alliance for Improved Nutrition e Instituto Nacional de Salud Publica do México. O estudo fornece evidências fortes de que a dinâmica atual dos sistemas alimentares não está atendendo às necessidades de forma necessária. É preciso pensar cuidadosamente sobre como reformar os sistemas alimentares para que sejam mais sustentáveis, mais nutritivos e realmente promovam a saúde das pessoas. Ao contrário de outros trabalhos, que recorreram a estimativas sobre fornecimento de alimentos ou a dados de deficiência de micronutrientes, neste os pesquisadores inovaram ao usar informações sobre ingestão de alimentos.

Para isso, recorreram ao Global Dietary Database (banco de dados dietéticos global), que compila conjuntos de dados dietéticos individuais de 185 países. A análise considerou todo o período entre 1990 e 2018. Os micronutrientes são vitaminas e minerais necessários ao corpo em quantidades muito pequenas, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, seu impacto na saúde do corpo é crítico, e a deficiência de qualquer um deles pode causar condições graves e até fatais. As deficiências de micronutrientes estão entre as formas mais comuns de desnutrição no mundo e podem ter outras causas além da dieta, como alterações na microbiota, infecções e a própria menstruação. Há uma variedade de fatores que podem levar a deficiências de micronutrientes, mas dos fatores controláveis a dieta é provavelmente o mais fácil de modificar. A ingestão inadequada foi especialmente comum para o iodo, atingindo 5,1 bilhões de pessoas (68% da população mundial).

Esse número, porém, pode estar superestimado, pois parte dos países fortifica o sal de cozinha com iodo, o que não foi analisado pela pesquisa. A estimativa do estudo reforça a importância da fortificação como forma de garantir a ingestão adequada de iodo. A carência de cada nutriente traz consequências específicas para a saúde pública. Elas vão de prejuízos à imunidade até anemia e cegueira. Outras limitações da análise incluem falta de dados subnacionais (um mesmo país pode apresentar diferentes tipos de dieta, nem todas necessariamente estão presentes nas estimativas nacionais) e tabelas de composição de alimentos desatualizadas, com dados que podem ser dos anos 1970 ou 1980 e que não representam a diversidade global: uma batata do Reino Unido e uma do Brasil podem ser muito diferentes em composição. No artigo, os pesquisadores apontam que a inadequação na ingestão de cálcio foi maior nos países do sul da Ásia, da África subsaariana e do leste da Ásia e do Pacífico, especialmente entre pessoas de 10 a 30 anos.

Globalmente, as estimativas de ingestão inadequada foram mais altas para mulheres do que para homens no caso de iodo, vitamina B12, ferro e selênio. Por outro lado, mais homens consumiram níveis inadequados de niacina, tiamina, zinco, magnésio e vitaminas A, C e B6 em comparação com as mulheres. No mundo da nutrição, as pessoas tendem a se concentrar muito em grupos demográficos específicos. Isso inclui crianças muito pequenas e talvez a adolescência, e há um foco muito maior em mulheres do que em homens. O que os resultados da pesquisa mostraram é que, dependendo do nutriente que se está analisando, essas ingestões inadequadas afetam a todos. Ao mesmo tempo, o mundo enfrenta taxas alarmantes e ascendentes de sobrepeso e obesidade. Isso tem a ver com a degradação ecológica e ambiental e a crescente integração dos mercados globais. O que o mundo está enfrentando é uma redução na diversidade nas dietas tradicionais de muitas culturas, que estão sendo suplantadas pela chamada ‘dieta ocidentalizada’.

Essa dieta é tipicamente composta por alimentos de alta energia, ou seja, ricos em calorias, potencialmente com alto teor de açúcar e altamente processados. Assim, as pessoas podem estar consumindo uma quantidade adequada de calorias, mas, ao mesmo tempo, não estão obtendo micronutrientes essenciais e críticos que desempenham funções fisiológicas importantes. Frente aos resultados, seria a suplementação uma forma de enfrentar o déficit? A resposta é não. A suplementação tem um espaço nessa resposta, mas menor do que alguns possam imaginar e apenas em casos específicos. A melhor maneira de fornecer esses nutrientes é por meio da alimentação, não de pílulas. Ao entregar esses nutrientes por meio de pílulas, não se obtém todos os outros benefícios que os alimentos podem proporcionar. Com os alimentos, é possível receber múltiplos micronutrientes e outras dimensões que podem influenciar a microbiota e outras partes da saúde. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.