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27/Aug/2024

As perdas no agronegócio por extremos climáticos

Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), extremos climáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca que castiga a Região Norte, já causaram ao menos R$ 6,67 bilhões em prejuízos para o agronegócio brasileiro. Seja por danos estruturais ou por impacto nas atividades agrícolas e na pecuária, a conta é alta e os efeitos ainda devem perdurar. Além das perdas de vidas, a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul em abril e maio causou prejuízos de R$ 5,4 bilhões à agricultura e à pecuária do Estado. Na Região Norte, onde a falta de chuvas reduz o volume d’água em rios antes caudalosos, os danos à agricultura e à pecuária somam quase R$ 1,3 bilhão. Como a seca persiste, o montante deve aumentar à medida que novas informações sejam reportadas pelas cidades. Municípios de todo o Brasil estão vivenciando desastres recorrentes, e a estiagem histórica na Região Norte evidencia a urgência de atuação federativa para enfrentar a emergência climática.

Na Amazônia, ribeirinhos vêm afirmando que a estação seca chegou mais cedo este ano, mas na verdade ela sequer foi embora, avalia o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A seca completou um ano em diversas regiões do bioma. A pobreza aprofunda o impacto da seca na Região Norte. Os grandes produtores conseguem passar por isso, mas entre os pequenos produtores, muitos não têm acesso à assistência técnica e energia. Na comunidade Santa Helena do Inglês, em Iranduba (AM), onde a economia se baseia no cultivo de mandioca e na pesca, os ribeirinhos estão trabalhando em reservas de água na tentativa de se preparar para a período mais crítico da seca, a partir de setembro. Por ano, a comunidade produz 1 tonelada de subprodutos de mandioca. Vende a farinha, o tucupi, a goma e a tapioca, e os produtos são todos feitos na comunidade. Ano passado, com a seca, caiu pela metade a produção de mandioca e ficou só para autoabastecimento. Não teve lucro nenhum, e não havia como transportar até Manaus (AM) pelo rio.

Segundo o Cemaden, nos últimos dez anos, as secas estão se repetindo em intervalos cada vez mais curtos na Amazônia, no semiárido e no Pantanal. O bioma Pantanal é outra região a sofrer com a falta de chuvas e incêndios. Só o Pantanal de Mato Grosso do Sul já teve 1,2 milhão de hectares consumidos pelo fogo neste ano, incluindo áreas produtivas de pasto e infraestruturas. Lá, a seca também afeta as pastagens, o que significa menos alimento para o gado bovino e menos bois prontos para abate. O Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado (Sicadems) já considera a possibilidade de redução no número de abates. Além da seca severa, Mato Grosso do Sul é o Estado que menos tem bois confinados. Há vários confinamentos que não estão com a capacidade total. Nesse cenário de escassez de alimento para o gado, vários produtores estão vendendo fêmeas para abate. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, esse é um dos grandes problemas, porque está comprometendo no médio prazo o rebanho do Pantanal.

O governo estadual pediu à Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) a liberação de crédito emergencial para auxiliar produtores do Pantanal atingidos pela seca. A proposta é de R$ 200 milhões com juros de 6,5% ao ano, mas ainda é preciso ver qual vai ser a proposta de Mato Grosso, porque será um auxílio extensivo a todo o bioma Pantanal. No Rio Grande do Sul, onde os produtores com perdas acima de 30% terão descontos nas dívidas de crédito rural, a Emater-RS estima que 206 mil empreendimentos foram afetados pelas enchentes nas zonas rurais, em 405 municípios. Entre os mais atingidos está Estrela, município de 32 mil habitantes às margens do Rio Taquari. Na comunidade de Arroio do Ouro, o cenário era de guerra em junho. Montes de lama e areia cobriram terras que antes eram usadas para lavouras. Casas, galpões e outras estruturas foram destruídas pela força das águas, que arrastaram animais, carros e máquinas agrícolas.

Terras que custavam de R$ 50 mil a R$ 60 mil por hectare não valem nada, pois ninguém vai querer comprar. A maior parte da produção de grãos do Rio Grande do Sul já havia sido colhida quando ocorreram as enchentes. No entanto, na região central e no sul do Estado, ainda havia lavouras, especialmente de soja, no campo. Nessas áreas, as perdas foram dramáticas. Em sua propriedade de 560 hectares em São Sepé, na região central do Rio Grande do Sul, a produtora Graziele de Camargo estava iniciando a colheita de soja quando vieram as chuvas, no fim de abril. A área não foi afetada pelas enchentes, mas as chuvas impossibilitaram o acesso das máquinas às lavouras. Com excesso de umidade, a soja apodreceu no campo, e 70% da produção foi perdida. “Se estou quebrada, com uma dívida de R$ 2 milhões, não foi por uma incapacidade administrativa. Estou impossibilitada de seguir na atividade agrícola por causa de uma tragédia climática, que o governo deveria ter uma solução para mitigar”, reclama. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.