22/Aug/2024
O vazio sanitário da soja termina no dia 30 de setembro no Rio Grande do Sul e, embora um pouco mais de um mês pareça ser tempo suficiente para colocar uma nova safra em andamento, não é. Até seria se as condições fossem regulares, se os produtores rurais estivessem aptos para acessar os recursos e garantir, no tempo certo, a aquisição de seus insumos. Ainda antes da soja, a safra de verão de milho (1ª safra 2024/2025) no Estado, que carrega uma importância grande, também é uma grande incógnita para o produtor do Rio Grande do Sul. Os últimos números levantados pela Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) apontam que a perda financeira estimada na agricultura passa de R$ 4,1 bilhões, considerando o VBP (Valor Bruto da Produção). Considerando apenas arroz, milho, soja, trigo e outros grãos, os quais são bastante cultivados no Rio Grande do Sul durante o inverno, como aveia, centeio, cevada, entre outros, as baixas chegam a mais de R$ 3,9 bilhões.
Em volume, são mais de 3,5 milhões de toneladas perdidas. Ainda assim, quem vem acompanhando o cenário de perto no Estado sabe que as perdas reais são imensuráveis e que o processo para que elas sejam efetivamente recuperadas pode levar décadas. Nos últimos três anos, os prejuízos foram se acumulando no campo. O cenário é de “desespero", já que as medidas que se apresentam não chegam com eficiência e no tempo certo para garantir uma prorrogação ou repactuação das dívidas. Além disso, muitas operações de crédito não foram contempladas na resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que prorroga algumas dívidas até 16 de setembro, o que contribui ainda mais para que a negativação dos agricultores continue e que o acesso ao crédito fique ainda mais restrito. Na Fronteira Oeste, muitos produtores não compraram o adubo para plantar a nova safra, estão aguardando as medidas.
Os produtores não buscam por uma anistia de suas dívidas, apenas a garantia de diretrizes mais condizentes com sua atual situação para que possa pagá-las. As enchentes acometeram o Rio Grande do Sul em um momento em que os preços dos grãos já vinham registrando uma pressão considerável, em especial na soja e no milho, estando já pressionados no mercado futuro internacional. As margens são estimadas para serem bastante estreitas e ao olhar para a safra do Rio Grande do Sul, ainda mais. Considerando mais este fator, é bastante justificável que as compras de insumos estejam bastante atrasadas no Estado. Um levantamento feito pela Agrinvest Commodities mostra que as compras de fertilizantes no Rio Grande do Sul alcançam algo como 70% a 72% para a safra 2024/2025 de soja, contra 76% da média dos últimos cinco anos. Em todos os demais Estados, os números passam dos 90%.
As compras de sementes estão ainda mais baixas, entre 64% e 66% para esta temporada, contra mais de 90% também para os outros Estados produtores pelo Brasil. A média para o Estado, dos últimos cinco anos, é de 73%. Entre os defensivos, o índice de comercialização é de 48% a 50%, contra 55% da média estadual, e frente ao intervalo nacional de 71% a 73%. Segundo a Cooperativa Agrícola Cotrijal, a comercialização e a compra feita pelos produtores está atrasada em virtude de toda a situação atual. A Cotrijal ofereceu condições diferenciadas para que os produtores pudessem adquirir seus insumos, levando em consideração o período mais adequado, bem como os movimentos de mercado, que estava em um momento mais atrativo do que em anos anteriores. Muitos aproveitaram estes descontos especiais, mas ainda há produtores que estão aguardando uma solução para o seu endividamento. O ano de 2024 está sendo atípico comparado aos anteriores, por conta das frustrações seguidas dos produtores.
Isso provocou endividamentos que vêm safras passadas e a questão das chuvas causou um prejuízo ainda maior. A Cotrijal está trabalhando junto ao Governo Federal, com o Ministério da Agricultura e Pecuária, Ministério da Fazenda, Banco Central e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e espera que possa haver uma solução rápida que dê tranquilidade aos produtores para que possam voltar a adquirir seus insumos. Na região Central do Rio Grande do Sul, os preparativos para o plantio de soja já deveriam ter começado. Normalmente, em agosto os adubos e sementes já estão chegando, porque o plantio inicia em outubro. Então, tudo tem que estar preparado e planejado. Porém, neste ano, muitos produtores ainda não conseguiram iniciar os trabalhos para a próxima safra. Após uma sucessão de anos com perdas na sojicultura por conta da falta de chuvas, a tragédia climática sobre o Estado no final de abril impossibilitou uma recuperação financeira por parte dos produtores rurais, que se preparavam para a colheita.
Com isso, a maior preocupação dos produtores do Rio Grande do Sul é como pagar os débitos que ficaram para trás. A esperança de uma recuperação estava em uma disponibilização de recursos do Governo Federal. Para poder iniciar os preparativos da safra 2024/2025 no Rio Grande do Sul, os produtores precisariam uma solução rápida e abrangente. Por esse motivo, o movimento SOS Agro RS passou a reivindicar o pleito da Fetag e da Farsul, isto é, uma única linha de crédito com juros de 3%, com 15 anos para pagamento e dois de carência. A ideia dessa reivindicação é de que todos os produtores que tiveram perdas por conta dos consecutivos problemas climáticos, desde a seca dos últimos anos até o excesso de chuvas de 2024, possam ser contemplados. E uma única linha de crédito seria fundamental para dar agilidade ao processo e os produtores tivessem dinheiro em mãos para quitar as dívidas que possuem e darem início aos preparativos para a safra.
Entretanto, a Medida Provisória anunciada no 31 de julho pelo Governo Federal não atendeu o que era pedido e manteve a indefinição para os produtores rurais. Muitos produtores não quitaram os custeios do ano passado e não pagaram as contas ainda de prorrogações de seca. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cruz Alta afirma que a situação é muito semelhante. Por conta de três anos de estiagem, os produtores que tinham alguma gordura financeira, ou então que ainda possuem soja, milho ou trigo armazenados, tiveram que usar suas reservas para pagar dívidas com bancos e empresas. Devido à pouca colheita nesses anos, essa ‘gordura’ foi toda queimada. Os agricultores estão com dificuldade até de ter seus limites via bancário. Em relação à aquisição dos insumos, a maioria dos produtores não comprou nada ainda ou quem comprou, comprou mais cedo quando estava mais barato. Porém, ainda é possível adquirir os insumos a tempo do plantio da próxima safra. Fonte: Notícias Agrícolas. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.