21/Aug/2024
Um projeto realizado por 160 pequenos produtores rurais, pela ONG The Nature Conservancy (TNC) e pelo Mercado Livre pretende regenerar 2.717 hectares de Mata Atlântica na Serra da Mantiqueira, em uma área que se estende pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A iniciativa começou em 2021 e visa a geração de créditos de carbono. O projeto utiliza o conceito de pagamento por serviços ambientais (PSA). Cada integrante receberá R$ 300,00 por hectare de floresta restaurado por ano nos primeiros dez anos. Nesse período, duas “colheitas de créditos” devem ser realizadas, nos anos cinco e dez. Dos créditos que forem gerados nessa década, 80% será do Mercado Livre, para pagar o investimento inicial da companhia em tornar o projeto possível e como forma de compensação pelo impacto ambiental das operações; os 20% restantes poderão ser negociados livremente pelos produtores.
Nos 30 anos seguintes, os produtores terão 100% dos créditos à disposição. A Mata Atlântica é o bioma mais devastado do Brasil, com apenas 24% de sua cobertura original ainda existente. Também é onde se concentram os principais centros urbanos brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, cerca de 80% do PIB e a demanda por recursos naturais como água, de acordo com dados da ONG SOS Mata Atlântica. Por essas razões, foi o bioma escolhido pelo Mercado Livre e pela TNC. Após o Mercado Livre iniciar o projeto para entender como a restauração florestal pode servir para mitigar os impactos de uma empresa, a TNC pensou no formato. A fase seguinte foi atrair donos de pequenas propriedades na área determinada, até chegar aos 2.717 hectares. Foram muitas visitas a locais como associações de produtores, sindicatos rurais, igrejas e cooperativas, e o sucesso foi possível devido a contatos de projetos anteriores.
A TNC tem atuação de muitos anos, muito consolidada no território. É necessário confiança entre todos os atores, porque todo mundo tem medo de assinar um projeto de longo prazo. Segundo o Mercado Livre, foram investidos R$ 7 milhões desde o início do projeto, sendo R$ 1,3 milhão em pagamentos aos produtores e o restante em equipamentos e outros itens necessários para a restauração florestal, como sementes, e no monitoramento e certificação. A maioria dos projetos ambientais do Mercado Livre é voltada para restauração, porque fomenta geração de renda e ativa a economia dos municípios. A restauração tem potencial de gerar renda e bem-estar. Para os participantes do projeto, o dinheiro recebido pelo PSA e os créditos de carbono são importantes, mas também há benefícios para suas propriedades.
Segundo Thales Guedes Ferreira, produtor da cidade de Cruzeiro (SP), já é possível perceber a paisagem completamente diferente, com melhoras no clima, na biodiversidade da propriedade e na produção de alimentos. Thales trabalha com agroflorestas há alguns anos, e seu sítio produz desde frutas “comuns”, como pera, tangerina e abacate, a frutas típicas da Mata Atlântica, como cambucá, bacupari, grumixama, uvaia e araçá. Porém, como ele mesmo define, uma agrofloresta é como um filme, em que diferentes cenas vão passando, e nas próximas, ele pretende plantar café e palmito juçara. Thales vê que o PSA facilita muito para atrair participantes para o projeto. Ninguém consegue fazer restauração sozinho. Alguns proprietários não vão querer realizar se não trouxer um lucro ou alguma coisa que possa contribuir. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.