21/Aug/2024
Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) publicaram estudo que investigou vestígios de microplásticos em águas, areias e peixes em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, e detectaram grandes níveis de contaminação. Em Barra Seca, um dos locais observados, metade dos peixes analisados tinha partículas plásticas no trato intestinal. Nos últimos anos, cientistas têm identificado vestígios desse material em tecidos humanos, como nos pulmões, e os riscos à saúde ainda são investigados. A Secretaria de Municipal de Meio Ambiente de Ubatuba não se pronunciou a respeito do assunto. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística destacou a existência do programa Mar sem Lixo, coordenado pela Fundação Florestal.
Considerando os 65 fragmentos analisados para identificação química, 59 (90,8%) resultaram em polímeros sintéticos, em sua maioria plásticos. O polipropileno (PP) e o polietileno tereftalato (PET) predominaram, correspondendo a 50% e 28% dos microplásticos, respectivamente, seguidos por poliamida (11%) e poliéster (11%). Segundo a Universidade de São Paulo (USP), pelo tipo principal de microplástico observado no estudo, parece que a maior fonte são materiais de pesca como linhas e redes, assim como resíduos plásticos que se degradam ao longo do tempo, como garrafas plásticas. Para esse trabalho, foram analisadas variáveis como temperatura, acidez e presença de sólidos suspensos/turbidez da água. Os pesquisadores aplicaram, em um primeiro momento, um critério visual para determinar a presença ou ausência de estruturas orgânicas nas amostras, cores e tipos de fibras encontradas.
Após esse passo, foram feitas análises químicas, para comprovar que se tratava de partículas plásticas. Além de amostras de areia, a espécie coletada foi o peixinho Atherinella brasiliensis, o “peixe-rei”. Por serem pequenos, abundantes na região e onívoros, ou seja, com dieta diversificada, os indivíduos dessa espécie são bom indicador para os estudos, tanto por serem de fácil captura quanto por serem bom indicador de impacto ambiental. Segundo os cientistas, a Praia de Barra Seca foi o ponto com maior impacto de microplástico sobre os peixes; mais da metade deles contém partículas plásticas no trato gastrointestinal. A hipótese é de que, como tem águas mais calmas, essa praia tende a acumular mais sujeira por causa das correntes marítimas. Os peixes confundiam as partículas com o próprio alimento.
A maioria dos plásticos encontrados era de cor azul ou transparente (armadilha para os peixes). Com o volume de consumo, no trato digestivo se acumula plástico e os peixes morrem por não poder mais se alimentar. Eles também podem afetar na forma como é feita a polinização, já que o plástico causa falsa saciedade nos peixes, segundo a Universidade Federal do Pará (UFPA). O estudo da Ufscar e da Unesp foi feito ao longo de 2021. Foram coletados 120 peixes nas Praias de Barra Seca e Perequê-Açu e encontradas partículas sintéticas de plástico no corpo de 38% dos peixes analisados. Também foi analisada a concentração dos microplásticos de forma comparativa entre diferentes épocas do ano. Para os pesquisadores, o inverno teve menor quantidade de partículas na área de manguezal (Barra-Seca).
No verão, os microplásticos deságuam na região pelo maior volume de chuvas. Em Perequê-Açu, a quantidade de microplásticos foi similar para os dois períodos (inverno e verão). No verão, em Barra Seca, a concentração chegou a 490 partículas por metro cúbico. Em Perequê-Açu, nessa mesma época, essa concentração indicava 300 partículas por m³. No verão, mais turismo, há maior deposição de microplásticos na praia, por um aumento de lixo decorrente dos visitantes. Conforme a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, o programa Mar sem Lixo, coordenado pela Fundação Florestal, paga pescadores artesanais e de arrasto pela remoção de resíduos no oceano, além de ações educacionais. Segundo relatório da Fundação Florestal, o Mar sem Lixo já retirou, entre 2022 e este ano, 9,9 toneladas de lixo pela pesca de arrasto e 13,2 toneladas dos manguezais.
Além de ingerirem microplásticos, há risco para humanos até na inalação das pequenas partículas em grande volume, segundo a Faculdade de Medicina da USP. Já foram encontrados microplástico em pulmões humanos. As principais maneiras de o microplástico entrar no organismo humano são por meio da ingestão ou da inalação. É um problema ambiental gravíssimo. São diferentes tipos de plástico com aditivos diversos, muitos deles com potencial cancerígeno. Estudos mostram que microplásticos têm capacidade de alterar a estrutura celular, induzir proteínas inflamatórias no organismo e causar danos ao DNA. Um dos trabalhos mostra ainda que as partículas podem induzir doenças autoimunes e elevar riscos de enfarte e AVC. Ao que tudo indica, os microplásticos já estão em todo o planeta.
Foram encontradas partículas nas profundezas dos oceanos, no intestino de peixes, em aves, em desertos, na Amazônia e, até mesmo, no alto do Monte Everest. Estudos experimentais publicados este ano, conduzidos por pesquisadores da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e publicados no periódico Journal of Toxicology and Environmental Health, observaram a presença de microplásticos em múltiplos órgãos. A publicação mostrou que microplásticos e nanoplásticos podem causar danos físicos e químicos a células, tecidos e órgãos humanos. As observações apontam que a contaminação pode interromper processos celulares, desencadeando inflamação e estresse oxidativo, além de afetar o equilíbrio hormonal e de neurotransmissores.
Além disso, essas partículas podem atuar como vetores de substâncias químicas tóxicas e patógenos. Pesquisadores chineses mostraram, em estudo que revisou a distribuição ambiental, os níveis de exposição humana e a toxicidade dos microplásticos, que os humanos podem ser expostos aos microplásticos por ingestão oral, inalação e contato com a pele. Segundo o Hospital Albert Einstein, estudos apontam a presença de microplásticos em placas de ateroma, que se formam nas paredes internas das artérias. Esse depósito diminui o calibre arterial e aumenta em até quatro vezes o risco de problemas vasculares. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.