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25/Jul/2024

Fiagros: concentração eleva a exposição aos riscos

Os fundos de investimento do agronegócio (Fiagros), criados há três anos e que reúnem hoje um patrimônio de R$ 36 bilhões, ainda têm investimentos concentrados em poucas culturas, o que os expõe a riscos relacionados a esses produtos. Dos dez principais Fiagros do mercado, que concentram 59% de todo o setor, os investimentos com exposição a grãos, açúcar e etanol respondem por 35% das carteiras. O levantamento foi feito pela consultoria WBGI. A exposição das carteiras à produção ou a serviços relacionados a grãos é de 19,44%, enquanto a produção e os serviços relacionados ao setor de açúcar e etanol representam 15,81% das carteiras. Essa concentração expõe os Fiagros a riscos climáticos e mercadológicos dessas culturas. O quadro reflete a preferência dos fundos por “fazer o feijão com arroz que estão acostumados”. São cadeias que o gestor já conhece e sabe como atuar. A preferência pelos grãos decorre do fato de a soja ser o carro-chefe das exportações do agronegócio brasileiro.

A exposição ao segmento sucroalcooleiro reflete a alta necessidade de financiamento do setor e sua experiência no mercado financeiro com instrumentos como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), com os quais muitos Fiagros atuam. Já outras cadeias também importantes para o PIB agropecuário ainda são relegadas pelos gestores de fundos. O setor de proteína animal, por exemplo, representa 5,71% da exposição das carteiras dos Fiagros, enquanto a exposição dos fundos à cafeicultura é de apenas 0,66%. Apesar de a cadeia de proteína animal ser interessante e relevante para o agronegócio brasileiro, há questões que vão além da complexidade da produção. É uma produção em que é difícil de quantificar as análises de risco. Os gestores devem, com o tempo, começar a olhar para outras culturas como forma de diversificar riscos.

Há espaço para aumentar a exposição dos Fiagros a investimentos em produção de café e citros, cujos produtores têm maior necessidade de capital. São produtores mais tecnificados, e essa tecnificação pode reduzir o risco de quem está posicionado neles. Se considerada a posição dos fundos entre produção primária ou secundária dentro do agronegócio, o quadro é mais diversificado. Segundo a WBGI, 35% dos Fiagros têm investimentos em sistemas “dentro da porteira” (produção primária), 35% têm investimentos “depois da porteira” (processadoras, tradings e outros clientes) e 22% têm investimentos “antes da porteira” (produtores e vendedores de insumos). Na análise por segmentos, o estudo indica que a maior parte dos investimentos dos Fiagros está em agroindústrias (antes e depois da porteira), somando 40,20% do total. Em seguida estão os produtores (21,21%) e as distribuidoras e revendas de insumos (11,34%).

Essa distribuição reflete a estratégia dos Fiagros de reduzirem a exposição ao risco do produtor rural, que não é baixo. O risco “antes da porteira” é o segundo maior, pela possibilidade de inadimplência do agricultor caso a produção enfrente problemas de clima ou de mercado. Já o risco “depois da porteira” é menor pelo fato de a indústria não correr o risco da inadimplência e poder compensar com mudanças nas originações. Regionalmente, os Fiagros também têm, na média, uma boa diversificação geográfica, embora existam exceções no universo de Fiagros analisado. Mas, ainda há fundos que não estão olhando para essa diversificação, que está relacionada ao risco climático. A desaceleração das captações dos Fiagros e os casos de inadimplência que surgiram nessa indústria em decorrência da queda dos grãos e do ‘efeito dominó’ sobre a cadeia de insumos, persistirão. O mercado já está com mais cautela. Mas, ainda não se chegou ao momento mais crítico. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.