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23/Jul/2024

Nova Indústria Brasil: entrevista com Mário Bernardini

O empresário Mário Bernardini, que atuou por mais de 50 anos na atividade industrial, critica o programa do governo federal para a reindustrialização do País, o Nova Indústria Brasil (NIB). “É fraco, com uma política muito tímida de estímulo. Conta com apenas R$ 75 bilhões por ano para toda a indústria. Não sei se vai resolver, porque o ambiente econômico brasileiro atual não permite”, diz, referindo-se às pesadas taxas de juros, ao elevado custo de capital e à falta de uma estrutura eficiente de crédito à indústria de transformação. Segue a entrevista:

Qual a situação da indústria brasileira nos dias atuais?

Mário Bernardini: Temos três categorias de indústria, com diferentes situações: a extrativa, a da construção civil e a de transformação. A extrativa saltou de 2% para 5% do PIB (Produto Interno Bruto) do País e tem como destaques Vale, Petrobras e outras empresas. A da construção civil gira em torno de 5% a 6% (do PIB). Já a indústria de transformação vai mal. Chegou a representar 35% do PIB e hoje varia entre 9% e 12%. É uma diferença brutal entre esses três setores. Isso se deve a várias razões que vimos nos últimos 40 anos, fruto de muitas políticas de governo. Nos anos de 1950, 1960, o Brasil precisava de uma política para passar de uma economia agrária para uma de base industrial. Hoje, isso é focado naquilo que chamamos de setores do futuro, para não ficarmos fora do jogo global.

O que a indústria de transformação precisa para não perder ainda mais peso?

Mário Bernardini: A indústria precisa de juro baixo, pois a média do resultado (lucro líquido) das empresas é de 8% a 10%. Isso, considerando as melhores companhias, as de capital aberto, sem incluir o setor financeiro. Mas o que vemos? Um juro que custa mais do que isso, o que é um contrassenso. Uma das razões de um ambiente econômico favorável é manter o juro abaixo do retorno médio de capital empregado pelas empresas. Em um país que paga mais para quem faz aplicação financeira em detrimento do investimento na produção, a indústria não avança, não vai para frente.

O Brasil dispõe de políticas adequadas para o setor?

Mário Bernardini: O governo acabou de lançar o programa Nova Indústria Brasil (NIB), voltado para a reindustrialização. Não sei se vai resolver, porque o ambiente existente não deixa. E é uma política muito tímida: tem somente R$ 75 bilhões por ano para toda a indústria. É com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que empresta com juro baseado na TLP (Taxa de Longo Prazo), de 12%. Com o spread bancário, num banco privado, o custo para uma empresa que for buscar dinheiro para comprar uma máquina sobe para 16% a 18%, enquanto a indústria tem ganho líquido de 8%. Não é possível pagar. Resumindo: o dinheiro do programa é pouco e é caro. Bem diferente do agronegócio, que é competitivo e que tem um Plano Safra de R$ 450 bilhões, mas não paga quase nada de impostos - só 5%. A indústria arrecada 40% (de tributos) e tem um plano de R$ 75 bilhões, com custo de até 18%. Há uma absoluta falta de isonomia por parte do governo entre todos os setores econômicos.

Fonte: Broadcast Agro.