28/Jun/2024
Às vésperas do anúncio do Plano Safra 2024/2025, bancos que operam crédito rural esperam aumento nos recursos disponíveis para financiamentos do agronegócio pelo governo e redução na taxa de juros na comparação com a atual temporada 2023/2024, que se encerra em 30 de junho. Representantes de bancos privados e de cooperativas de crédito líderes no financiamento do agro no País apostam em um Plano Safra próximo de R$ 500 bilhões, como vem sendo sinalizado pelo governo, mas com subvenção limitada às taxas de juros. Na safra atual, 2023/2024, R$ 435,8 bilhões foram liberados para o crédito rural. A expectativa das instituições financeiras é de que o aumento de recursos venha sobretudo do maior direcionamento de fontes obrigatórias ao crédito rural em detrimento de recursos públicos para equalização.
Para alcançar R$ 500 bilhões, que traz um impacto positivo e simbólico de meio trilhão, são necessários 15% a mais em recursos. Se há dificuldade em ampliar recursos para aumentar a equalização dentro do orçamento, o aumento do direcionamento é o mais provável com o depósito à vista, a poupança rural e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) compondo boa parte da fonte, avaliou o Bradesco. Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a questão é qual será a fonte de recursos para possibilitar a oferta em torno de R$ 500 bilhões, livres por meio do direcionamento de fontes obrigatórias ou subvencionados. O que preocupa não é o volume, mas sim de onde vai sair o dinheiro, porque a equalização tem orçamento limitado.
Para chegar em R$ 500 bilhões por maior direcionamento de recursos ao crédito rural, a previsão é de mais de 30% de direcionamento de compulsórios, o que seria desafiador para os bancos cumprirem e custoso aos clientes. A Febraban propõe uma diluição das propostas tanto de aumento de exigibilidade quanto de volumes a serem alcançados pelo crédito rural ao longo dos anos safras. A mudança na dinâmica de publicação do Plano Safra, normalmente dentro de junho, para julho afeta a contratação de crédito pelo produtor rural. O cenário tardio de divulgação traz cenário de estresse com alguns produtores deixando de operar no fim do ano safra e esperando a nova safra porque tem receio de captar recurso mais caro e aguarda a publicação.
Além disso, sempre há mudança de regra e para haver preparo para fazer essas mudanças o adequado é o Plano Safra o quanto antes. A leitura de que o governo tende a recorrer ao maior direcionamento do crédito obrigatório para alavancar a oferta de crédito em detrimento de turbinar o subsídio às taxas de juros é compartilhada pelo Santander. Não se pode confundir recursos com recursos subsidiados, que haverá em menor volume. O Santander citou linhas dolarizadas e linhas de longo prazo criadas pelo governo sem subvenção do Tesouro. A conjuntura de queda de cerca de 10% no custo de produção da próxima safra e cautela dos produtores a investimentos pode gerar uma demanda menor por crédito. Um número grande é muito mais direcional de ter mais recursos do que realista que leva em conta a situação fiscal do governo e a necessidade de apoio das áreas.
Quanto aos juros, os bancos também afirmam ver redução nas taxas de juros gerais aplicadas no Plano Safra 2024/2025 em relação à temporada anterior, em torno de 1,5% a 2%. Os juros aplicados na safra atual nas linhas voltadas a médios e grandes produtores variam de 7% ao ano a 12,5% ao ano. O setor produtivo pediu ao governo uma redução que acompanhasse a queda da Selic, que saiu de 13,75% ao ano para 10,5% ao ano, em 12 meses, mas já há o entendimento que o pleito não será atendido em sua totalidade por elevar o custo da equalização. Taxas abaixo do patamar da Selic possuem custo para o governo compensar a diferença dos juros com subsídio do Tesouro. O Bradesco vê intenção do governo de retomar o nível de um dígito de juros para todas as modalidades de custeio e investimento tanto para pequenos quanto para médios e grandes produtores.
Porém, mais subsídio nas taxas causa impacto no custo da equalização e reflete no volume total de recursos. Há um desejo sinalizado de redução de um ponto e meio nos juros em cada modalidade e trazer todas as taxas abaixo de um dígito, mas o recurso é curto e quanto mais subsidiado, mais rápido esgota. O Bradesco discorda da ideia de redução expressiva de algumas linhas de investimento, como armazéns, para 7% ao ano. Um patamar mais próximo de 9% a 9,5% para a maior parte das linhas traria economia de recursos no longo prazo, podendo atender mais modalidades com maior volume. Não adianta diminuir muito os juros de um programa específico porque gera correria e esgota. O teto atual de 12,5% de juros ao ano em meio às margens apertadas da agropecuária gera retorno baixo ao produtor.
Agora, a adoção de taxa de um dígito volta o sentimento de que nessas condições, o produtor consegue manter um retorno mínimo na atividade haveria impacto positivo para destravar vendas de máquinas agrícolas, sistemas de irrigação e armazéns. O Santander observa que a mudança da trajetória da taxa básica de juros pode limitar a redução, já que as previsões apontam para Selic estável em 10,5% ao ano até o fim de 2024 ou fim de 2025. A taxa máxima de 12,5% para grandes produtores, por exemplo, pode chegar perto da Selic, com taxas entre 10,5% ao ano e 11% ao ano. Na agricultura familiar, não se espera queda superior de 1%, de 8% para 7% e de 6% para 5% no máximo. Interlocutor ligado à cooperativa de crédito projeta queda de 1,5% para linhas de custeio a 2% para operações de investimento de forma geral nos juros do Plano Safra da agricultura empresarial e de 0,5% até 1% nos juros da agricultura familiar.
O alvo do governo é ter um Plano Safra maior que o anterior e se diminuir muito os juros gera um problema de não conseguir cobrir e restringir recursos. A Febraban defende que, na equação entre juros menores e volume maior de recursos, seja privilegiada a oferta de crédito em detrimento da equalização de juros. Principalmente neste momento de margens apertadas do produtor e de necessidade de maior financiamento. Na entrega das propostas setoriais ao Ministério da Agricultura, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) pediu ao Executivo prioridade ao aumento do volume de recursos ante juros menores a fim de "alargar a base" de crédito disponível. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.