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27/Jun/2024

Ucrânia tenta se aproximar de países do Sul Global

Em uma roda de conversa entre dois membros do gabinete de Volodmir Zelenski e uma delegação de jornalistas latino-americanos, o chefe adjunto do departamento de política externa Andrii Nadzhos fez questão de falar em espanhol. Desde o início da agressão em larga escala da Rússia à Ucrânia em 2022, o apoio à Ucrânia na Organização das Nações Unidas (ONU) por parte dos países da Celac aumentou significativamente. Ele agradeceu aos países por apoiarem o trabalho da Ucrânia no âmbito da ONU. Até agora, entre 23 e 25 países apoiam sistematicamente as resoluções ucranianas na Assembleia-Geral, e a tarefa mais importante é garantir que os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), organismo que visa a cooperação dos seus membros para o desenvolvimento, apoiem a Ucrânia para contrariar a agressão russa. A Ucrânia tem trabalhado para propor uma cúpula entre o país e a Celac, em uma tentativa de se aproximar da América Latina.

O episódio, específico, é um exemplo dos últimos esforços da Ucrânia para se aproximar do chamado Sul Global. Em um momento em que a ajuda ocidental dá sinais de enfraquecimento, a Ucrânia se mobiliza para evitar que sua guerra se torne mais uma esquecida pelo mundo. Mas, não são apenas os latino-americanos os alvos. O leste da Ásia e a África também estão sendo cortejados pelo governo ucraniano, em um esforço para se aproximar de países declaradamente mais próximos da Rússia. Não à toa, antes da delegação de latino-americanos, a Ucrânia recepcionou jornalistas da Ásia e o próximo grupo será da África. O apelo não é exclusivo do gabinete de Zelenski. A tentativa de atrair apoio do Sul Global também tem mobilizado membros do Congresso, desde o partido do presidente à oposição, passando por blocos independentes.

A Ucrânia tem dependido principalmente de parceiros europeus e norte-americanos para o fornecimento de armas, mas outros países possuem armas de que a Ucrânia precisa, afirmou uma deputada do partido Holos, que compõe um bloco de oposição ao partido de Zelenski. O Brasil, por exemplo, pode ser um fornecedor de armas. Outros países têm armas que podem ajudar à Ucrânia. Enquanto a Europa busca aumentar sua capacidade de proteção, ela não tem muito mais a oferecer. Então, talvez essa contribuição dos países do chamado Sul Global resulte em medidas práticas. Para a Ucrânia, é importante, por exemplo, comprar armas de alguns desses países que não estão necessariamente prontos para vender armas. Uma possibilidade é comprar armas com o dinheiro dos parceiros Ocidentais. Comprar alguns tipos específicos de munições, por exemplo.

Em abril de 2023, documentos vazados do Pentágono já mostravam o grande interesse ucraniano em adquirir armamentos do Brasil, que tem uma alta produção de aviões de guerra. O País, porém, foi categórico ao negar. O Brasil alega seguir o princípio orientador da política externa do País, pragmático e de não alinhamento automático, em busca de um consenso. Mas, levantamento do NYT de abril de 2023 mostrou que o País chegou a fornecer armamentos à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos na guerra do Iêmen, incluindo munições cluster, condenadas internacionalmente. Mas, a Ucrânia recebeu sinais positivos na região. Um deles foi do presidente da Argentina, Javier Milei, com quem a Ucrânia celebra ter excelentes relações, principalmente após o comparecimento de Zelenski à posse de Milei em dezembro. Milei vem traçando um plano para fornecer cinco aviões de combate para a Ucrânia. O país não utiliza as aeronaves devido a um embargo britânico como consequência da guerra das Malvinas.

Para não ser considerado envolvido diretamente na guerra, a Argentina entregaria as aeronaves para a França em troca de outros equipamentos militares, e a França faria a entrega para Ucrânia. Recentemente, a Argentina fez a aquisição de aeronaves F-16, de fabricação norte-americana, via Dinamarca. O esforço diplomático ucraniano tem se dado nos bastidores, mas o país fez um primeiro grande esforço semanas atrás para realizar a Cúpula da Paz, na Suíça. A Ucrânia tinha grandes expectativas na presença da China, Brasil, Índia e África do Sul, países que compõem o Brics junto com a Rússia e que poderiam servir de interlocutores com o governo russo. A China, porém, rejeitou o convite e tentou avançar um novo plano de paz para a Ucrânia em paralelo, em um movimento que Zelenski classificou como boicote à cúpula em parceria com a Rússia. O Brasil confirmou presença no evento, mas com uma delegação de nível diplomático menor, sem o chanceler Mauro Vieira e nem o presidente Lula, que os ucranianos tinham esperança de que comparecesse. No fim, o País participou como "observador".

A cúpula, que se propunha a ser a primeira fase de uma fórmula de paz que parte da Ucrânia, enviou convites para mais de 160 países, mas menos de 100 participaram. Apenas países europeus enviaram presidentes ou primeiros-ministros. Os Estados Unidos enviaram a vice-presidente, Kamala Harris. Dos quase 100 países, 80 assinaram a declaração final do encontro que defende a integridade territorial da Ucrânia com base nos preceitos da Carta da ONU. O Brasil não assinou o documento, assim como África do Sul e Índia. Países do Brics estendido também se recusaram a assinar: Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Argentina, Iraque, Catar, Ruanda, Turquia, entre outros, assinaram. O esforço chega em um momento especialmente delicado para a Ucrânia. A ajuda dos países do Ocidente dá sinais de minguar, principalmente no Congresso dos Estados Unidos onde um pacote bilionário ficou parado por meses.

Em meio a isso, o presidente Joe Biden passa pelas suas próprias questões internas enquanto lida com uma popularidade baixa meses antes das eleições que o colocará frente a frente com Donald Trump. O próprio retorno de Donald Trump e sua promessa de "acabar com a guerra em um dia" faz a Ucrânia estremecer. A única alternativa que a Ucrânia tem é pedir ajuda para aqueles que são menores, observa o Ibmec-BH. Os Estados Unidos não estão dando o apoio suficiente, estão atrasando demais. Agora dão sinais dúbios sobre a guerra. Isso é por causa da eleição. E, claro que a Ucrânia se viu obrigada a fazer contato com outros países entre eles os de médio porte como Brasil, Argentina, Egito, entre outros. Além dessas dificuldades, a Rússia abriu uma nova frente no nordeste da Ucrânia, em Kharkiv, pressionando as defesas do país e avançando na guerra.

A Ucrânia tem tido menos capacidade do que a Rússia de repor seus estoques de armamentos e pessoal conforme a guerra se prolonga, enquanto a Rússia busca cada vez mais outros parceiros estratégicos como China, Irã e Coreia do Norte. Todos os esforços para engajar o Sul Global, porém, serão infrutíferos sem a China, que tem poder de fato de exercer pressão sobre Vladimir Putin. Engajados em uma "parceria sem limites", o comércio entre China e Rússia é o que tem mantido a máquina de guerra de Putin, apesar das sanções internacionais. A ausência da China na cúpula na Suíça foi um grande revés para a Ucrânia. A China está ajudando a Rússia com apoio ao complexo militar e industrial. Os norte-americanos são muito vocais sobre isso. A Ucrânia não quer afastar a China porque precisa da China. O interesse é que o governo chinês não envie abertamente armamentos letais para a Rússia.

Por isso, a Ucrânia precisa ser cautelosa. Assim como o Brasil, a China tentou atuar como mediador de negociações de paz entre Ucrânia e Rússia, um status o governo ucraniano diz não aceitar. A China não reconhece a Rússia e a Ucrânia com pesos diferentes nesse conflito. Por isso, não pode ser mediadora, mesmo que quisesse. O que a China pode de fato fazer é prevenir a Rússia de usar armas nucleares, porque nem os chineses querem que se abra essa ‘caixa de Pandora’. A China tem um papel importante, mas não é de mediadora. A China se beneficia de um conflito duradouro. A China não quer que a Rússia perca, mas se beneficia de uma Rússia mais fraca, com benefícios econômicos, acesso a gás e petróleo a preço menor. Por isso, parece que a China gostaria de manter esse conflito o quanto puder. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.