27/Jun/2024
O Banco Central deu vários recados ao governo na ata do Copom. Por ora, não há sinais de novas reduções iminentes da Selic, o que só voltará a ocorrer após firme compromisso de convergência da inflação à meta. Como a ata abandonou o chamado “guidance”, ou indicação clara sobre o que o Banco Central fará no futuro, isso abre as portas até para um possível aumento da Selic, caso haja uma piora significativa do cenário nos próximos meses. O Copom está “dependente” dos dados para definir os seus próximos passos. A condução da política monetária ficou mais desafiadora, com o aumento da estimativa feita pelo Banco Central sobre a taxa neutra de juros, de 4,5% para 4,75%. Isso quer dizer que a economia perdeu dinamismo, ou está com PIB potencial mais baixo, e que precisará agora de uma taxa Selic mais alta para se conseguir levar a inflação para a meta de 3%.
Há várias causas para isso, entre elas, a incerteza sobre a dívida pública e o esmorecimento no esforço de reformas estruturais, recados que servem tanto para o Executivo quanto para o Legislativo do País. O fim dos cortes abriu novas frentes de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O presidente Lula vem apontando Campos Neto como um adversário político, e a presença do presidente do Banco Central em um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em sua homenagem, contribuiu para elevar a temperatura política. A decisão unânime do Copom, contudo, jogou a favor de Campos Neto, já que os quatro diretores já indicados por Lula acompanharam a decisão. Entre eles, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, cotado para presidir o Banco Central ao término do mandato de Campos Neto, em dezembro.
Lula, contudo, ainda não decidiu o novo nome. Aliados próximos ao presidente confirmam que Galípolo ainda é o principal cotado, mas que sua irritação com o fim dos cortes da Selic poderia mudar essa percepção. Galípolo, por sua vez, precisa demonstrar independência em relação ao governo e seguir critérios técnicos para o seu voto. Do contrário, as expectativas de inflação teriam uma piora adicional à frente. Enquanto Lula não definir o novo nome, o mercado ainda colocará esse fator de risco sobre as suas projeções. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a ata do último encontro do Copom reforçou a ideia de que o colegiado promoveu uma “interrupção”, e não encerramento, do ciclo de cortes dos juros para poder avaliar os cenários externo e interno e tomar decisões a partir de novos dados. Em reunião na semana passada, o colegiado manteve a Selic em 10,5%, em uma decisão unânime.
Questionado sobre a mensagem do Copom de que eventuais ajustes futuros na Selic serão ditados pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta”, e se isso não significaria que o Banco Central pode elevar o patamar de juros, o ministro Haddad deu ênfase à interpretação de “interrupção” do ciclo de cortes. Eventuais ajustes, se forem necessários, sempre vão acontecer. O que é importante frisar é que a diretoria fala em interrupção do ciclo, me parece que essa é uma diferença importante a ser salientada, repetiu. Haddad avaliou que a “pequena pressão inflacionária” gerada pelos efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul afeta os preços no curto prazo, enquanto o horizonte considerado pelo Banco Central é o de médio e longo prazos. Por isso, na avaliação do ministro, não haveria sentido a política monetária considerar o que acontece no Estado para fins de política monetária, porque o juro de hoje está afetando 12, 18 meses para frente. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.