19/Jun/2024
A repercussão e devolução da medida provisória que limitava o uso de créditos de PIS/Cofins pelas empresas trouxe na semana passada uma crise sem precedentes para a atual equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A reação mais forte veio dos empresários do setor industrial, que se sentiram prejudicados depois de muitas promessas de que o governo priorizaria a reindustrialização. Um dos representantes do setor e ligado à indústria têxtil, Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg), explicou a reação empresarial ao governo. Segue a entrevista:
Chegou-se ao limite do que as empresas topam pagar para manter a máquina estatal?
Flávio Roscoe: Na verdade, quem paga o conjunto de impostos cobrados é a sociedade, e ela está chegando ao seu limite. Os empresários têm dificuldades de botar esses custos nos preços. À medida que você vai colocando mais e mais tributos, o consumo daquele produto tende a cair. E quanto mais tributo existe, menor é a disponibilidade de a sociedade consumir. Assim, mais recursos vão para a mão do governo, que geralmente gasta mal e concentra recursos. Existe essa percepção equivocada por boa parte da sociedade de que o dinheiro na mão do governo é bom. Mas significa menos dinheiro na mão das pessoas. É menos dinheiro para o que dá o dinamismo da economia.
Já tem mais na mão do governo do que deveria?
Flávio Roscoe: O governo já esteriliza mais de 40% do PIB com uma péssima prestação de serviço público. Ou seja, ele se apropria de mais de 40% de toda a riqueza gerada no País e ele quer mais. Infelizmente, para esse governo, nunca é o suficiente. O que a gente vê hoje, com essa grita geral, é que a cada três meses o governo lança uma nova bomba tributária, para poder gastar mais dinheiro. E isso nem é para equilibrar as contas públicas. Na medida que gasta, o governo arruma mais despesas também, para atender algumas pessoas, alguns grupos ou alguns segmentos que são caros ao governo. Então, eu acho que o que acontece agora é um movimento maduro de dizer: “Olha, isso tira a competitividade da economia brasileira”.
Por que a indústria está sendo especialmente crítica nesse momento?
Flávio Roscoe: A indústria é aquele setor que o governo diz que é importante. O mundo todo está dizendo que é importante e que é importante revitalizar. Mas, a cada três meses, o governo lança um pacotaço para tributar aquilo que ele chama de importante. A narrativa do governo é ótima. Só que a prática é horrorosa. É o oposto da narrativa. Fala uma coisa e faz outra. Somos um país que não dá competitividade para a sua indústria. Há um excesso de burocracia e uma carga tributária excessiva.
Então, qual é a receita para o governo reverter esse momento de mau humor?
Flávio Roscoe: Ninguém está falando de redução de gastos. Ninguém está falando das novas tecnologias que já deveriam ter sido incorporadas no Poder Público, o que não é feito, porque existe todo esse corporativismo. O mundo está mudando drasticamente. Quem está no setor privado, tem de pular. Se não pular, morre. E o governo está aquele paquiderme lá, do mesmo jeito, e toda hora batendo na porta da sociedade e falando: “Quero mais, me manda mais”. Chegou. Temos de dar um basta nisso.
Fonte: Broadcast Agro.