19/Jun/2024
A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de adiar a redução das taxas de juros está pressionando os bancos centrais da América Latina a desacelerarem ou suspenderem os cortes nas taxas. A inflação arrefeceu em toda a região, mas a preocupação de se afastar demasiado do Fed, uma vez que este mantém as taxas mais elevadas durante mais tempo, poderá já estar travando alguma flexibilização da política monetária. O Banco Central do Brasil, por exemplo, reduziu a sua taxa de juro de referência em 0,25%, para 10,5%, em maio, depois de ter cortado 0,5% em cada uma das seis reuniões anteriores. O Banco do México manteve a sua taxa básica inalterada em 11% na sua reunião do mês passado, após um corte de o,25% no seu conclave anterior. O Banco Central do Chile também diminuiu o ritmo na sua reunião mais recente. Segundo a XP Investimentos, desde o início do ano, as expectativas de cortes nas taxas por parte do Fed diminuíram muito. Isso significa que os bancos centrais locais têm de optar por menos cortes nas taxas.
Muitos bancos centrais de mercados emergentes, incluindo a maioria da América Latina, observam atentamente os passos do Fed porque as suas taxas de juros mais elevadas atraem investidores estrangeiros que procuram tirar partido do diferencial. A descida das taxas nos mercados emergentes, a menos que seja acompanhada pelo Fed, torna os investimentos nesses mercados menos atraentes e reduz a procura pelas suas moedas. Isso pode fazer com que as moedas percam valor em relação ao dólar, encarecendo os bens importados e pressionando os preços ao consumidor. E a maior parte das moedas da região perderam de fato valor face ao dólar este ano. Contudo, não é apenas a influência do Fed que está abrandando os cortes nas taxas. Embora a inflação tenha arrefecido consideravelmente na maioria dos países latino-americanos desde os dias pós lockdown e problemas logísticos, as preocupações com os preços, especialmente nos serviços, também estão fazendo com que os bancos centrais reconsiderem os seus planos. No México, a segunda maior economia da região depois do Brasil, a taxa de inflação acumulada em 12 meses tem subido todos os meses desde fevereiro, embora ainda seja inferior ao valor de janeiro.
O Banco do México salientou na ata da sua mais recente reunião de política monetária que a inflação dos preços dos serviços continua elevada e ainda não abrandou. No Brasil, onde a inflação voltou a subir em maio, depois de uma descida constante durante meses, os membros do conselho do banco central também citaram preocupações sobre os preços dos serviços, tal como os seus pares no Chile e na Colômbia. Os bancos centrais da região são todos influenciados, em graus variados, pelo Fed e pelas preocupações com a inflação, mas ao mesmo tempo enfrentam situações internas diferentes. Os bancos centrais do Brasil, Chile e Peru começaram a cortar as taxas no ano passado e agora têm menos espaço, e menos necessidade, para muitos mais cortes antes de chegarem ao fim dos seus ciclos. O México só começou a cortar este ano, com uma redução em março, depois parou, e a Colômbia começou a cortar em janeiro. As suas taxas de referência estão mais longe de atingir o seu ponto neutro, no qual a política monetária não estimula nem abranda o crescimento, e têm mais espaço para cortes contínuos.
Mas, tanto os bancos centrais do Brasil como do México enfrentam outras questões que também poderão alterar as suas perspectivas para as taxas. No México, administração de Andrés Manuel López Obrador se encaminha para o fim e poderá fazê-lo sentir-se tentado a aprovar medidas de despesa no Congresso, aumentando as preocupações sobre o déficit do país e possivelmente elevando as expectativas de inflação. Isso colocaria mais pressão sobre o banco central para manter as taxas mais altas. A última decisão sobre taxas do Banco Central do Brasil foi uma votação dividida por 5-4, com a minoria preferindo um corte maior. Os quatro que votaram a favor da redução de 0,5% foram todos indicados pelo atual governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Lula nomeará novos membros para o conselho no início do próximo ano, levantando preocupações de que o conselho será mais pacífico do que a composição atual, e as expectativas de inflação já começaram a subir. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.