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18/Jun/2024

Amazônia: entrevista com Nobel Lars Peter Hansen

Prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Chicago, o economista norte-americano Lars Peter Hansen diz que os países desenvolvidos deveriam pagar ao Brasil para manter a floresta amazônica em pé. “A solução para isso não deveria estar só no Brasil, certo? Porque o mundo inteiro vai se beneficiar com a preservação da floresta tropical, e isso vai ajudar nas mudanças climáticas”, diz Hansen. “Algum tipo de transferência de pagamentos de países desenvolvidos para um país como o Brasil, para apoiar esses esforços, faria todo o sentido.” Lars Hansen foi um dos três norte-americanos a receber o prêmio Nobel de Economia em 2013 pela “análise empírica do preço dos ativos”. O que está hoje no centro do pensamento do economista, contudo, é a economia global e a questão climática. Segue a entrevista:

Qual o debate mais relevante na economia global hoje em dia, na sua avaliação?

Lars Peter Hansen: Bem, existem desafios de curto e longo prazos. De curto prazo, penso em todas as incertezas associadas a várias convulsões políticas diferentes ou questões externas, e como isso tem efeitos adversos também na economia em geral. O que acontece em Gaza é apenas um exemplo. Mas acho que há essa interação entre o que acontece na política e os desafios que isso cria para a economia. O que penso hoje em dia, no entanto, tem a ver com as mudanças climáticas e como enfrentá-las, porque é um problema mundial. É difícil saber o que conseguir em cooperação mundial sobre isso. E, então, como podemos contornar isso e coisas do gênero? Mas isso é mais uma preocupação de longo prazo do que uma preocupação de curto prazo.

O sr. já disse que, no caso das mudanças climáticas, o atraso pode custar muito mais caro no futuro. Já estamos atrasados?

Lars Peter Hansen: Penso que, neste momento, os efeitos globais das mudanças climáticas sobre a economia permanecem um tanto modestos. Mas a preocupação é que pode ser muito mais fácil agirmos agora, em vez de esperar até que os danos ocorram, até que os impactos se tornem ainda mais substanciais, o que, num determinado momento, pode ser muito, muito dispendioso. Portanto, tendo a pensar que deveríamos mostrar alguma prudência nisso e agir agora sobre as possibilidades de alguns resultados ruins, em vez de ter certeza de que eles vão acontecer. Se é tarde demais? Não acho que seja tarde demais. Acho que seria bom se tomássemos algumas medidas agora. Na minha visão, uma grande parte disso tem a ver com explorar as possibilidades de novas tecnologias que podem realmente causar um grande impacto em termos de nos tirar dessa situação. Aí é onde alguns dos países desenvolvidos, os governos, podem fazer investimentos, para pensar a longo prazo e, então, terão a chance de realmente se desenvolverem e compensarem (as emissões de carbono). Mas precisamos fazer algum tipo de redução agora.

Como vê os mercados emergentes, como o do Brasil, inseridos atualmente na economia mundial?

Lars Peter Hansen: A minha experiência não está realmente na área dos mercados emergentes. Já fiz algumas pesquisas relacionadas às mudanças climáticas no Brasil, e, em particular, seu potencial de preservação da floresta tropical, com alguns colaboradores brasileiros, incluindo José Scheinkman. E aí o que foi muito educativo para mim, de qualquer maneira, foi que, se o mundo realmente ajudasse o Brasil, potencialmente seria possível preservar a floresta tropical a um custo econômico bastante baixo. Agora, como fazer isso politicamente ou com quais políticas continua a ser um desafio. Mas parte do que está acontecendo aqui é relacionado ao tipo de agricultura. A agricultura que está sendo desenvolvida na floresta tropical brasileira não é muito produtiva.

O que pode ser feito para mudar os incentivos e afastar-se da agricultura para, então, cultivar árvores para absorver carbono?

Lars Peter Hansen: Acho que a solução para isso não deveria ficar só no Brasil. Porque, sim, o mundo inteiro vai se beneficiar com a preservação da floresta tropical, e isso vai ajudar nas mudanças climáticas. Então, acho errado pensar que isso é só um problema do Brasil para resolver. Algum tipo de transferência de pagamentos de países desenvolvidos para um país como o Brasil, para apoiar esses esforços, faria todo o sentido.

E como lidar com as incertezas políticas, como o sr. disse, quando esse tema é debatido?

Lars Peter Hansen: Gostaria de ver os Estados Unidos assumindo um papel de liderança em termos de abordagem às alterações climáticas, o que certamente não o fez. E um novo governo (com Donald Trump) vai nos empurrar ainda mais para trás. Isso é lamentável.

Fonte: Broadcast Agro.