11/Jun/2024
Diante da catástrofe ambiental, o que as cidades podem fazer para prevenir ou minimizar efeitos desse tipo de tragédia? Algumas respostas podem estar no próprio meio ambiente. São as soluções baseadas na natureza (SbN), projetos de bioengenharia que buscam enfrentar desafios socioambientais usando princípios e processos inspirados nos ecossistemas naturais. São projetos como jardins de chuva, parques lineares e restauração de encostas, que mimetizam a natureza e ajudam a tornar cidades menos vulneráveis. Mas é preciso destacar o verbo “minimizar”. Essas soluções procuram deixar as cidades mais resilientes, mas não impedem os eventos climáticos extremos, que se tornarão mais frequentes e intensos com o aquecimento global. Segundo a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), as cidades foram ocupadas de maneira desordenada, sem respeito às bacias hidrográficas.
As soluções baseadas na natureza podem atuar nesse cenário, mas a filosofia é trazer uma mudança de mentalidade para evitar que haja o problema. Mesmo diante de condições meteorológicas amenas, as SbN seguem provendo múltiplos benefícios. Segundo a WRI Brasil, o plantio de corredores verdes para reduzir impactos do calor extremo provê uma série de outros benefícios, seja para a biodiversidade, seja para o bem-estar e a saúde da população. Uma dessas soluções são os jardins de chuva ou sistemas de biorretenção. Como o próprio nome indica, são espaços instalados nas ruas para absorver parte das chuvas, diminuindo impactos dos grandes volumes. A água que costuma se acumular no asfalto (o escoamento superficial) permeia o solo e segue para uma rede de drenagem subterrânea. É como se fosse um reservatório para o excesso de água. Considerada uma tecnologia simples e de fácil manutenção, os jardins podem reduzir o volume de água quando implementados em grande número.
Isso contribui para a redução das inundações. Segundo o Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (OICS), plataforma virtual de mapeamento e divulgação de soluções urbanas inovadoras, os jardins podem absorver até 30% mais água pluvial do que um gramado. Além disso, a vegetação nativa no jardim, adequada para cada microclima, contribui para a filtragem das águas pluviais contaminadas e ajuda a entregar uma água mais limpa para os rios e córregos. Esses jardins já fazem parte dos cenários urbanos. Só em São Paulo (SP), há 337 estruturas desse tipo, a maioria na região central. Os jardins são construídos conforme o nível de risco de enchentes em cada região mapeada. Pesquisadores alertam que os jardins de chuva, assim como outras soluções, são específicos para cada contexto e precisam estar integrados a outras medidas. Soluções pontuais poderão, na melhor das hipóteses, resolver problemas pontuais. Não adianta ter apenas um jardim de chuva, mas é preciso começar com esse primeiro.
Apontados por especialistas como os melhores exemplos de SbN os parques lineares também já são comuns. Essas áreas são destacadas pelos pesquisadores, pois agregam a infraestrutura natural verde e azul (reservas naturais e sistemas de águas) à infraestrutura cinza (sistemas de drenagem convencionais) no mesmo espaço. É uma intervenção urbanística associada à rede hídrica. Além do interesse ecológico e paisagístico, nos parques lineares coexistem distintas funções: gestão das águas, proteção da biodiversidade, recreação, cultura, educação, turismo e desenvolvimento econômico. A cidade de São Paulo conta com 24 parques lineares e outro em instalação (Linear Córrego do Bispo). O foco das soluções baseadas na natureza não é apenas a gestão pública, mas também a própria comunidade. Sistemas de biorretenção têm escalas diferentes de implementação, para um lote, rua ou bairro, por exemplo. Isso significa que condomínios ou áreas privadas podem instalar o próprio jardim de chuva.
Isso vai compor uma malha na cidade, com a contribuição de cada célula de biorretenção. A expansão provoca mudança na paisagem e começamos a pensar numa estrutura verde. Para a maioria dos municípios, as SbN ainda são um conceito novo. Mas, o modelo tem se disseminado com certa velocidade. Algumas cidades já tiraram os planos do papel: Campinas (SP) revisou seus planos ambientais e formalizou as soluções baseadas na natureza como parte central das políticas, ações e metas para o meio ambiente do município. A revisão foi instituída por decreto municipal em maio. Além de criar uma secretaria do Clima, as SbN foram incluídas de forma transversal na revisão integrada de três planos: do Verde, de Recursos Hídricos e de Educação Ambiental. Outro município com programas consistentes é Niterói (RJ). A cidade também criou uma pasta específica que cuida da política de prevenção, adaptação e mitigação de danos relacionados às mudanças climáticas.
As ações da pasta vão desde restaurar ecossistemas degradados, com a contenção das encostas, e criar áreas verdes urbanas à gestão sustentável da água e promoção da biodiversidade. O projeto de maior relevância é o Parque Orla Piratininga (POP), em Niterói, que recebeu R$ 100 milhões para se tornar o maior do País em soluções baseadas na natureza, conforme a prefeitura. Com inauguração oficial prevista para o segundo semestre, o projeto envolve a criação de um parque linear na margem da Lagoa de Piratininga. No total, o POP tem 680 mil m², 8 píeres e 17 praças. No local, os jardins filtrantes, alagados construídos ou wetlands, retiram impurezas das águas pluviais e das três principais bacias hidrográficas que deságuam na lagoa. É outra solução baseada na natureza. A priorização da questão ambiental ganhou impulso após a tragédia do Morro do Bumba, em 2010, quando 48 pessoas morreram após um deslizamento de terra. Desde 2013, a prefeitura está investindo na resiliência da cidade em relação às mudanças climáticas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.