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06/Jun/2024

Hegemonia do dólar nos mercados cambiais globais

Há uma década que os mercados cambiais têm sido governados pelo fortalecimento do dólar. Mas, nenhum ‘reino’ dura para sempre. Ao contrário do que muitos em Wall Street esperavam, o dólar norte-americano ganhou fôlego este ano, à medida que dados instáveis sobre a inflação levaram os investidores a reduzirem as apostas em cortes nas taxas. Medido em relação a outras moedas, o dólar ainda está abaixo do pico recente de 2022, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) aumentou as taxas de juro de forma agressiva. Mas continua a ser historicamente caro em termos ajustados à inflação, apenas 10% abaixo do nível a que Richard Nixon terminou a convertibilidade do ouro em 1971, por exemplo, de acordo com dados do Banco de Compensações Internacionais. Não tem sido tão consistentemente forte desde a década de 1980, quando o Fed era chefiado por Paul Volcker, o epítome do banqueiro central agressivo.

Em 1985, o dólar subiu tanto que as autoridades norte-americanas ficaram preocupadas com o golpe que estava causando aos fabricantes nacionais. Notoriamente, concordaram em coordenar a sua depreciação numa reunião com Grã-Bretanha, Alemanha, França e Japão, que ficou conhecida como ‘Acordo Plaza’. Em 1988, tinha perdido um terço do seu valor real. Algo semelhante poderá acontecer novamente em menor escala, especialmente se Donald Trump vencer as eleições presidenciais em novembro. No passado, os seus conselheiros econômicos defenderam um dólar mais fraco para reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos, especialmente em relação ao yuan, que está atualmente sob pressão, à medida que os investidores estrangeiros fogem das obrigações chinesas de baixo rendimento. Talvez mais importante, o crescimento econômico está acelerando para além das fronteiras da América. Historicamente, isto proporcionou as condições para o enfraquecimento do dólar.

Dados econômicos recentes sugerem que a zona euro e o Japão estão finalmente a recuperar, e a recuperação da China parece estar a ganhar impulso. O governo chinês está intervindo ativamente para impulsionar o yuan. Tudo isto sugere que é uma boa altura para os investidores baseados no dólar pensarem em transferir mais dinheiro para o exterior. Uma queda do dólar normalmente lubrifica as engrenagens do crescimento global. Cerca de metade das faturas comerciais e três quartos da dívida não bancária são denominadas em dólares, o que significa que os países emergentes em particular, aqueles que lutam para obter empréstimos nas suas próprias moedas, obtêm um impulso sempre que a moeda dos Estados Unidos custa. Mesmo que um dólar mais fraco seja um efeito do alargamento do crescimento econômico e não uma causa, continua a ser um sinal de alta para os mercados bolsistas internacionais, que têm uma maior percentagem das chamadas empresas cíclicas. Os bancos europeus, que estão em crise, são um bom exemplo.

As ações estrangeiras não têm experimentado muitos ventos favoráveis desde a crise financeira global. Como o valor do dólar ajustado à inflação aumentou 35% desde o final de 2009, o índice MSCI EAFE, que acompanha os mercados desenvolvidos fora da América do Norte, apenas registrou um retorno de cerca de 200%, em comparação com cerca de 500% do S&P 500. No único período recente em que o dólar esteve deprimido, entre 2020 e meados de 2021, as ações dos Estados Unidos dispararam ainda mais, impulsionadas pelos gigantes da tecnologia que obtiveram ganhos pandêmicos. Isto, compreensivelmente, condicionou os investidores a desistirem e simplesmente colocar todos os ‘ovos na cesta’ norte-americana. É certo que a elevada taxa de câmbio real do dólar, em comparação com o passado, pode ser algo enganadora: o ajustamento à inflação é complicado porque a maioria dos produtos não é comercializada além fronteiras.

Quando se trata de energia, que tem um enorme impacto, os Estados Unidos deixaram de ser um importador líquido para um exportador líquido, graças à revolução do xisto da década de 2010. Além disso, a recente mudança do governo norte-americano para a política industrial desencadeou uma onda de investimento direto estrangeiro nos Estados Unidos. A teoria econômica também prevê que as recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos deverão empurrar a moeda para cima, e pesquisas recentes apoiam isto até certo ponto. A história nunca se repete com precisão e os investidores não deveriam estar à espera da monumental liquidação de dólares que se seguiu ao Acordo Plaza. Mas, também não deveriam presumir que a moeda dos Estados Unidos pode subir para sempre. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.