22/May/2024
Em meio às tentativas do governo da China para reaquecer a economia, que apresenta sinais de enfraquecimento no mercado interno, a crise imobiliária ainda representa um obstáculo para a retomada da atividade neste ano. O setor deve perder relevância para a economia do país no longo prazo, em meio à dificuldade para superar a turbulência. Na semana passada, a Country Garden, uma das maiores incorporadoras imobiliárias chinesas, efetuou o pagamento de dois títulos emitidos no mercado doméstico para evitar um calote, apenas dois dias após anunciar que poderia recorrer a um fiador estatal. A situação reflete o contexto do mercado imobiliário, com menos projetos e pagamentos antecipados de hipotecas. Segundo a Chinese Foreign Affairs University, universidade de Relações Internacionais localizada em Pequim, o setor representa uma parcela importante da atividade do país e não deve se recuperar no curto prazo.
Se a retomada vier, será com base em investimentos públicos, e com mais rigor sobre financiamento e construções para evitar bolhas futuras. Para a Hedgepoint Global Markets, a crise imobiliária segue como um fator importante na desaceleração da economia chinesa neste ano, apesar de reconhecer que a crise não parece ter impactado severamente o sistema financeiro do país. Os primeiros meses de 2024 continuam a apresentar tendência de baixa para o setor imobiliário, com quedas de mais de 25% nas vendas de imóveis residenciais e investimentos em queda. Em 2013, o setor imobiliário representava 12% do PIB do país, enquanto para este ano as projeções indicam um valor um pouco acima de 5%. A desaceleração do setor preocupa o governo chinês, que lançou medidas para estimular a demanda. Em fevereiro, o Ministério da Habitação e Desenvolvimento Urbano-Rural aprovou US$ 17,2 bilhões em empréstimos para financiar projetos do mercado imobiliário.
No mesmo mês, o Banco do Povo da China (PBoC, o banco central do país) reduziu uma importante taxa de juros de referência, a LPR de 5 anos, pela primeira vez desde junho de 2023. O esforço parece não ter surtido o efeito desejado, já que o NBS (o escritório oficial de estatísticas do país) informou, na semana passada, que os preços das novas habitações caíram 3,51% em abril na comparação anual. No dia 17 de maio, o Banco do Povo da China anunciou a remoção dos pisos das taxas hipotecárias para a primeira e a segunda residências e a redução da taxa de adiantamento de hipoteca para um mínimo de 15% para primeiras residências e para um mínimo de 25% para segundas habitações. Segundo a Capital Economics, apesar da expectativa de apoio do governo no curto prazo e de uma melhora dos gastos com consumo, nada deverá impedir um novo abrandamento da atividade no futuro, com a construção imobiliária ainda em vias de contração significativa nos próximos anos.
A Pantheon Macroeconomics afirmou que uma nova redução na taxa de juros na China teria efeito limitado, já que o setor imobiliário está estagnado e outros segmentos considerados importantes se queixam da falta de demanda e da confiança dos consumidores enfraquecida. O governo está oferecendo apoio fragmentado ao mercado imobiliário, que até agora não conseguiu trazer de volta compradores e restaurar a confiança. Para a Hedgepoint Global Markets, ao contrário de 2023, quando a reabertura da economia chinesa pós-pandemia de Covid-19 impulsionou o crescimento, a China precisará de medidas fiscais e monetárias para alcançar a meta de expansão de “cerca de 5%” no PIB. Ainda é incerto se as políticas atuais serão suficientes, mas o corte em fevereiro da LPR de 5 anos, taxa de juros de referência para o mercado imobiliário, demonstrou uma mudança na postura e sinalizou que o governo está atento à crise do setor.
O governo chinês deverá intervir para evitar uma crise sistêmica no mercado imobiliário. Para o longo prazo, entretanto, a combinação da crise com o encolhimento da população chinesa deverá fazer com que o setor imobiliário perca relevância para o PIB do país. Diante desse cenário, o governo busca impulsionar o mercado interno e as exportações de alto valor agregado, como celulares, carros e outros produtos, direcionando a economia para um modelo mais focado no consumo do que na construção civil. A Pantheon Macroeconomics disse que não se surpreenderia se as incorporadoras chinesas, mesmo aquelas que são bem geridas, como a Country Garden e a Vanke, apresentassem novamente dificuldades para honrar dívidas.
O principal órgão de planejamento da China aprovou 50 projetos de investimentos em ativos fixos no valor de 320,7 bilhões de yuans (cerca de US$ 45 bilhões) entre janeiro e abril deste ano. Os projetos aprovados são principalmente voltados a indústrias de alta tecnologia e conservação de água, detalhou a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC). Apenas em abril, a NDRC deu aval a 20 projetos, com valor total de 115,2 bilhões de yuans. Nos primeiros quatro meses de 2024, investimentos em projetos na China tiveram expansão anual de 4,2%, para 14,34 trilhões de yuans. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.