16/May/2024
O relacionamento entre os presidentes da China e da Rússia não é de iguais. A China proporcionou uma ‘tábua de salvação’ à economia russa atingida por sanções, fornecendo-lhe tudo, desde produtos eletrônicos a máquinas de lavar e tratores. Mas, enquanto a China representa cerca de 33% do comércio global da Rússia, a Rússia representa apenas 4% do comércio da China, de acordo com o fornecedor de dados CEIC Data. A China tornou-se uma fonte crítica de óptica, microeletrônica, motores de drones e outros materiais que permitem a produção de armas da Rússia, enquanto as exportações de armas da Rússia para a China caíram vertiginosamente nos últimos anos. Entretanto, a Rússia, cujo petróleo e gás são agora evitados na Europa, teve de vender com descontos significativos à China. O governo chinês ainda não chegou a um acordo sobre um novo e importante gasoduto, usando a sua influência para pressionar a Rússia no preço.
Segundo o Carnegie Russia Eurasia Center, é uma parceria estratégica em que ambos os lados precisam um do outro, mas é cada vez mais assimétrica a favor da China. A China não é apenas o parceiro mais poderoso, mas também aquele que tem muito mais opções do que a Rússia e a guerra exacerbou isso. A Rússia está agora presa à “vassalagem” da China". Apesar do desequilíbrio crescente, o vínculo entre duas potências com armas nucleares tem implicações profundas para o Ocidente. Estas incluem a intensificação da colaboração militar e o aumento da rivalidade geopolítica com o Ocidente em África e na Ásia. O aumento do seu comércio de petróleo e gás está, entretanto, remodelando fundamentalmente o mapa energético global. Também crescem as preocupações entre os responsáveis ocidentais de que, à medida que a China ajuda a preencher a economia de guerra da Rússia, o governo russo poderá vencer a Ucrânia numa guerra de desgaste, enquanto a Europa e os Estados Unidos lutam para mobilizar as suas próprias indústrias para igualar a produção russa.
Nas recentes reuniões com Xi Jinping, tanto os líderes europeus como o secretário de Estado, Antony Blinken, pressionaram o líder chinês a reduzir o apoio do seu país à indústria de defesa da Rússia. Os Estados Unidos também alertaram a China de que poderiam tomar medidas contra os bancos chineses que lidam com o comércio dos chamados bens de dupla utilização, que têm fins civis e militares. A ameaça de prolongar as sanções aos bancos chineses já pode estar a ter algum efeito, uma vez que dados mensais recentes mostram que as exportações chinesas para a Rússia moderaram. No entanto, que, tal como aconteceu com sanções anteriores à Rússia, as empresas mudariam para outros bancos e utilizariam intermediários, inclusive em países terceiros. As autoridades russas têm pressionado contra a noção de que o seu país está a tornar-se dependente da China. O porta-voz do governo russo afirmou no ano passado que as relações entre a Rússia e a China são uma parceria, não uma dependência.
A visita de dois dias de Vladimir Putin, que começa nesta quinta-feira (16/05), marca a sua primeira viagem ao estrangeiro desde que venceu as eleições legislativas de março, sublinhando a prioridade que a Rússia atribui à expansão adicional dos seus laços econômicos e de segurança com a China. Putin visitará a capital Pequim e a cidade de Harbin. Embora historicamente as relações entre os dois países tenham oscilado entre períodos de apoio mútuo, competição ideológica e até mesmo hostilidade aberta, Rússia e China há muito veem os Estados Unidos como o seu principal adversário e procuram minar a sua influência global. Depois de a Rússia ter anexado a Crimeia à Ucrânia em 2014, o governo russo voltou-se para a China numa tentativa de proteger a sua economia das sanções Ocidentais. Menos de três semanas antes de os tanques russos chegarem à Ucrânia, em fevereiro de 2022, Putin e Xi declararam que a amizade entre os dois países "não tem limites" e que não existem "áreas proibidas de cooperação".
Os laços só se aprofundaram desde então, incluindo uma série de reuniões diplomáticas, militares e empresariais. Mas, numa indicação da mudança de peso na relação, o tráfego tem sido na maior parte unilateral, com altos funcionários e líderes empresariais russos indo para a China com muito mais frequência do que os seus homólogos chineses indo na direção oposta. Na frente militar, o comércio de bens críticos de dupla utilização, incluindo componentes eletrônicos e mecânicos utilizados nos sistemas de armas russos, aumentou após a reunião de Xi com Putin em março do ano passado, de acordo com uma análise recente publicada pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (um think tank com sede em Washington – EUA). Isso ajudou a aliviar a pressão sobre o setor industrial de defesa da Rússia, permitindo à Rússia travar uma longa guerra de desgaste contra a Ucrânia. Quando se trata da base industrial de defesa da Rússia, o principal contribuinte neste momento é a China. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.