15/May/2024
Neste ano e no próximo o Brasil vai presidir três importantes reuniões multilaterais: a do G20, a do BRICS+ e a COP 30. Embora sejam processos e dinâmicas internacionais distintos, o exercício da presidência representa uma oportunidade única para o País. Os impactos políticos, econômicos e legais do G20 e do BRICS+ têm natureza distinta quando comparados ao processo da COP 30, um marco para o Brasil e para a América Latina. Afinal, a COP 30 marcará os dez anos do Acordo de Paris e acolherá decisões estratégicas, legalmente vinculantes, para a economia global. Cabe destacar, em particular, a adoção das novas ambições do sistema global de neutralização de emissões de gases de efeito estufa, que impactará os sistemas de produção agropecuária no mundo.
No caso da agenda global de mudança do clima, a agricultura é tradicionalmente abordada pela sua exposição, vulnerabilidades ao risco climático e o alto potencial do impacto na produção de alimentos. Essa leitura ainda reside como predominante, embora a agenda de uso da terra encerre também o tema do desmatamento ilegal de ecossistemas florestais e as emissões de dióxido de carbono associadas. Os impactos ambientais são de grande magnitude e desafiam que a produção de alimentos experimente novas tecnologias, maior produtividade e faça uso de soluções alinhadas com a natureza e resilientes. Cabe anotar que o regime climático global definido na Rio 92 teve a sua negociação estabelecida pela ciência, ganhou dimensão política pela perspectiva ambiental e hoje ninguém deve duvidar que se trata de uma negociação econômica e dos interesses dos Estados-nação.
O Brasil é um dos países com maior potencial de benefícios se souber lidar de fato com os desafios que a agenda climática impõe nesse século. Para isso, é preciso parar de perder tempo e buscar orientar um novo debate nacional sobre os desafios que cercam a agricultura tropical brasileira nos próximos trinta anos. É tempo de o Brasil voltar a falar do Brasil, dos seus desafios e definir uma base de diálogo com a sua sociedade e suas instituições se ambiciona liderar processos internacionais de interesse nacional. É urgente que o Brasil volte a conversar internamente sobre os seus interesses, visão e estratégias se busca ser reconhecido como líder regional e global da agenda ambiental-climática. Para isso, precisa de uma visão estratégica da agenda econômica, social e tecnológica de descarbonização da sua agricultura, dos pequenos aos grandes produtores de alimentos, e ter domínio dos seus interesses.
É imperioso que o País valorize a sua diversidade social, cultural e ambiental, a sua democracia, as suas instituições e a sua economia. Afinal, o Brasil é um País com alternativas e que deve valorizar também as suas singularidades, como a Amazônia, as suas reservas hídricas e a sua capacidade de prover soluções. É sabido que a agricultura tropical brasileira tem papel estruturante na segurança alimentar, nutricional e energética do País e do mundo. Que a descarbonização da economia global pode e deve passar pelo Brasil e que os setores agrícola e ambiental têm função e responsabilidade nesse desafio. No entanto, a percepção política é que estamos atrasados. Não é claro quem coordena o que em Brasília na perspectiva nacional.
Os desafios que assombram o mundo também assombram o nosso País: segurança alimentar, energética, mudanças climáticas e desigualdades sociais. Então, cadê o Brasil discutindo de fato os nossos interesses e papel, organizando a agenda dessa gente bronzeada? Cadê a nossa agenda? Os temas são conhecidos e nada triviais: mitigação e adaptação, comércio internacional, rastreabilidade, erradicação da fome, biocombustíveis, fim do desmatamento ilegal, sustentabilidade, dentre outros. Os prazos são exíguos e os atores do setor privado, da academia, os produtores e os seus representantes políticos precisam ser mobilizados e engajados. Há uma aparente distância entre o Planalto Central e o Brasil-produtor.
Urge estruturar com base nas nossas realidades as transições necessárias e adotar as rotas de produção de alimentos de baixo carbono com inclusão social e econômica, sem destruir nada. A COP 30 vai acontecer na Amazônia, mas ela envolve os interesses e os desafios de desenvolvimento sustentável do Brasil e da América Latina. E essa agenda requer uma percepção política inovadora e moderna dos desafios da agricultura tropical. O Brasil mudou, o mundo mudou desde 2015, quando do Acordo de Paris. O mundo está em movimento. O Brasil precisa se movimentar e isso passa pela sua agricultura, pelos segmentos econômicos e por sua sociedade. Fonte: Roberto Rodrigues com a colaboração de Izabella Teixeira. Broadcast Agro.