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13/May/2024

Brasil: questão ambiental não parece ser prioridade

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no primeiro quadrimestre de 2024 os focos de queimadas na Amazônia aumentaram 154% em relação ao mesmo período de 2023. Em todo o País, o aumento foi de 81%. É verdade que parte desse volume é um efeito colateral da estiagem provocada pelo El Niño. É verdade também que, apesar do aumento dos incêndios, o desmatamento na Amazônia em 2023 caiu 50% em relação a 2022. Em geral, o desempenho do atual governo em relação ao meio ambiente é bem melhor que o do anterior. Mas, seria preciso um esforço incomum para piorar o legado ambiental, este sim, genuinamente “maldito”, de um entusiasmado antiambientalista como Jair Bolsonaro.

Ainda assim, no primeiro ano do governo Lula, o desmate no Cerrado aumentou 43%, e os 9 mil Km² de desmate na Amazônia ainda deixam o Brasil muito longe da meta de desmatamento zero até 2030. E o recorde histórico de incêndios na Amazônia em 2024, 17.182 focos, quebrando a marca de 16.888 focos em 2003, está aí para expor o abismo entre a retórica e a realidade numa área que foi vendida e ao mundo como uma ‘grife do novo governo’. Lula nunca foi exatamente um entusiasta da causa ambiental, e sua relação com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, nunca foi exatamente um ‘mar de rosas’. Nas eleições de 2022, Lula foi vendido aos brasileiros como uma espécie de herói da floresta e continua a se vender assim nos palcos internacionais.

Todo esse teatro teve seus momentos de emoção: Lula conseguiu contratar a realização da COP30 em 2025 e recebeu a Cúpula da Amazônia em 2023. Mas, nas comunidades yanomamis, as mortes em 2023 (363) superaram as 343 do ano de 2022, durante a era bolsonarista, qualificada de “genocida”. O sucateamento dos órgãos de fiscalização ambiental por Bolsonaro foi catastrófico. Mas, o Brasil logo descobrirá se a atual greve desses órgãos, que dura desde janeiro, terá um impacto ainda maior. Não é só melhoria salarial. Em carta aberta, os servidores denunciaram explicitamente as contradições da gestão e a distância entre as promessas e a prática.

No fim de fevereiro, os autos de infração na Amazônia tinham caído na ordem de 70% a 90%. Não só os criminosos estão agindo impunemente, como as emissões de licenças para obras de infraestrutura estão paralisadas, com imensos custos para a população mais pobre do Brasil. Em meados do ano passado, Lula deu de ombros à evisceração dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas no remelexo ministerial feito para aplacar o Centrão. Em fóruns internacionais, fala grosso contra os “ricos” e cobra alto o dinheiro para financiar a transição energética. Mas, aqui, o gasoduto de dinheiro público para subsidiar combustíveis fósseis opera a todo vapor.

A desmoralização em áreas especialmente caras para a esquerda, sobretudo para uma nova linhagem progressista para quem o meio ambiente é uma prioridade absoluta, do tipo “custe o que custar”, é um pouco mais enigmática. Falta o quê? Competência? Vontade? Talvez ambos? Invocar a ameaça do ogro Bolsonaro, apelidado de “Nero” nas redes sociais progressistas, ainda rende frisson. Mas, para o grande público, esse expediente começa a perder o viço. Os números desabonadores continuam a sair, e a epopeia ambiental de Lula assume cada vez mais ares de uma tragédia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.