10/May/2024
O Banrisul espera perdas de crédito relativamente pequenas nos próximos meses, em que o estado do Rio Grande do Sul, em que está sediado e em que concentra a maior parte dos negócios, terá de ser reconstruído após as amplas inundações causadas pelas chuvas das últimas semanas. Além de ter prorrogado vencimentos, o que tende a amortecer o impacto deste cenário sobre a inadimplência, o banco acredita que o perfil da carteira o torna relativamente protegido. Na carteira rural, a maior parte das safras financiadas pelo banco foi colhida antes das inundações. Foi feito um estudo profundo nesses últimos cinco dias, porque realmente o estrago foi grande, mas no campo, felizmente, a maioria dos produtores já haviam colhido a safra (75% da soja estava colhida). Cerca de 5% a 6% dos clientes no campo tiveram perdas mais expressivas. À frente, será necessário analisar o impacto sobre aqueles que perderam máquinas e equipamentos, eventualmente financiado por linhas do banco voltadas ao investimento.
A mesma lógica de perda reduzida se aplica à carteira de pessoas físicas, em que as maiores posições do Banrisul são no crédito consignado, que tem desconto em folha. Boa parte dos clientes são funcionários públicos, que não vão perder renda e emprego. Em dezembro do ano passado, o Banrisul tinha carteira de crédito de R$ 53,7 bilhões, sendo que 36,9% do total estava no crédito consignado, 21,2% no crédito rural e outros 12,7% em linhas de capital de giro. A inadimplência acima de 90 dias estava em 1,95%, abaixo da média do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Um dos poucos bancos estaduais ainda em operação no Brasil, o Banrisul tem cerca de 85% da carteira de crédito exposta à Região Sul do País, de acordo com dados do Banco Central reunidos pelo Bank of America (BofA). É a maior exposição entre as instituições financeiras de maior porte. A título de comparação, entre os cinco maiores bancos do País, a maior exposição é a da Caixa Econômica Federal, com 20% da carteira na Região Sul.
Desde o dia 3 de maio, as ações preferenciais de classe B do banco, as mais líquidas, acumulam queda de 10,5% na B3, pelos temores de impacto da crise sobre os resultados. O Bradesco BBI calculou que o lucro do banco poderia ser reduzido em até 16,1% neste ano diante da tragédia. O balanço do banco tem espaço para absorver as perdas. O banco tem um balanço forte, com um índice de cobertura de 246%. Enquanto contabiliza potenciais perdas, o Banrisul colocou na rua prorrogações de prazo para clientes pessoas físicas, e isenções de tarifas válidas tanto para as PFs quanto para as empresas. Na quarta-feira (08/05), o banco anunciou uma linha de crédito de R$ 7 bilhões para financiar o capital de giro de empresas de todos os portes no período de crise. O grande gargalo, ainda mais em um momento como esse, sempre é o capital de giro. A linha terá prazo de até cinco anos, com taxa pré-fixada a partir de 1,39% ao mês, e pós-fixada a partir de 0,29% mais o CDI. As condições de pagamento serão diferentes das habituais.
Ao invés de pagarem um valor pré-definido do principal a cada mês, as empresas poderão pagar conforme houver caixa. A parcela fixa será apenas dos juros. Diante do que aconteceu, o banco resolveu lançar imediatamente essa linha para ajudar as empresas a retomarem. O Estado precisará de um grande esforço de reconstrução. Em cidades como Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, as enchentes causaram uma grande destruição na área urbana, cujas dimensões só serão totalmente conhecidas quando as águas baixarem. Este esforço passará pelo Banrisul, mas exigirá um apoio mais amplo. O banco tem uma situação bastante tranquila, mas não tem tamanho para enfrentar isso. Ele vai ser parte da solução. A infraestrutura é pública, vai ter de ser através do setor público. Hoje, o Banrisul tem cerca de 23 agências fechadas por causa do impacto das enchentes. Os serviços online funcionam normalmente. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.