30/Apr/2024
Apesar do cerco de Estados Unidos e Europa à Rússia, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou no último ano a cooperação econômica com a Rússia, em meio à guerra na Ucrânia. Pela primeira vez em duas décadas, as trocas comerciais superaram a meta de US$ 10 bilhões, chegando US$ 11,3 bi em 2023. O movimento, reflete a aposta arriscada de Lula no Sul Global. O chamado Sul Global é uma aliança frouxa de países emergentes, herdeiros do movimento não alinhado da Guerra Fria, que resiste ao apelo para isolar a Rússia. Assim, servem como tábua de salvação para o regime de Vladimir Putin driblar as sanções em troca de petróleo e gás. O Brasil, por exemplo, se tornou o maior comprador de diesel russo, com 6 milhões de toneladas em 2023, um aumento de 6.000% em relação ao ano anterior e um total de US$ 4,5 bilhões.
Em seguida vêm os fertilizantes, que correspondem à outra grande fatia do comércio com a Rússia, com US$ 3,9 bilhões ao ano. A razão para não embarcar no cerco é que o Brasil se diz contra sanções unilaterais e só considera embargos validados pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde a Rússia tem poder de veto. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), tem um aspecto pragmático, que é importar derivados de petróleo, especialmente o diesel, de um produtor relevante em condições favoráveis para estabilizar os preços domesticamente. Mas, também tem o aspecto político. A condenação da Rússia pela guerra na Ucrânia é muito forte, mas não se disseminou na Ásia, na América Latina, na África e no Oriente Médio. Há uma divisão sobre como lidar com a Rússia.
E, no Brasil, o governo Lula tem tentado se aproximar desses países do Sul Global, que favorece politicamente a Rússia. Mais recentemente, Lula disse que "não é obrigado a ter o mesmo nervosismo" que os europeus têm com guerra, porque o Brasil está geograficamente longe do conflito. Ele deu a declaração ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, que causou espanto ao cogitar o envio de tropas à Ucrânia. As posições de Lula e Macron ilustram a divergência entre países centrais e do Sul Global. Dependente da energia russa, a União Europeia comprava gás natural, petróleo e fertilizantes. As importações atingiram o pico no mês seguinte à invasão, quando somaram 22,2 bilhões de euros. A partir de então, caíram: 10,2 bilhões de euros, em dezembro de 2022, e menos de 4 bilhões, no fim de 2023.
A União Europeia deixou de ser um parceiro comercial importante para a Rússia, introduzindo sanções. Na mesma linha, os Estados Unidos também fecharam o cerco. Só na última leva, nos dois anos de guerra, as sanções atingiram 500 empresas e indivíduos, que abasteciam a produção industrial e militar da Rússia. Com as sanções, a Rússia tem um número limitado de países com os quais pode fazer negócio. Isso faz com que ela se empenhe mais em ampliar o comércio e acaba favorecendo a relação com os países que estão abertos. O Brasil se favoreceu disso. Apesar do esforço dos Estados Unidos e da Europa, a economia russa se recuperou rapidamente da contração registrada em 2022, e cresceu 3,6% em 2023. Para este ano, o FMI prevê um crescimento de 3,2%, bem superior ao de países do G7, como Estados Unidos (2,7%), Reino Unido (0,5%), Alemanha (0,2%) e França (0,7%).
As sanções limitam o acesso da Rússia à tecnologia, o que torna sua economia menos competitiva. Mas, o aumento dos gastos do governo russo, que investe na máquina de guerra, e a capacidade de manter as exportações, sobretudo para China e Índia, impulsionam o crescimento. Uma das coisas que a OTAN mais esperava era o isolamento da Rússia, e isso não aconteceu. Não houve a queda no PIB que se esperava, justamente por causa dessa articulação com outros países. A Rússia conseguiu, apesar de toda interdependência econômica com a União Europeia, reorientar as exportações. Um exemplo dessa ofensiva diplomática russa são as visitas que o experiente chanceler, Sergei Lavrov, realiza há duas décadas pela América Latina, com paradas no Brasil. Na mais recente, para reunião do G20, em fevereiro, Lula garantiu que participará da cúpula do Brics em Kazan, na Rússia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.